Criador da influencer virtual Noonoouri diz que ela é uma mistura de Naomi Campbell e Kim Kardashian. Vem ler!

Joerg Zuber participou do Iguatemi Talks e contou sobre a digital influencer Noonoouri || Créditos: Divulgação/Reprodução Instagram

“Sou muito simples”, afirmou o alemão Joerg Zuber (fala-se “Iorgue”), diretor artístico e criador da influencer digital Noonoouri, em papo com o Glamurama, que rolou durante o Iguatemi Talks, em São Paulo. O designer explicou o processo de criação e a personalidade da mais nova it girl do pedaço e ainda definiu o projeto como alta costura digital. Vem ler! (Por Paula Barros)

Glamurama – Como a Noonouri nasceu? Quanto tempo levou para criá-la? 
Joerg – “Sete anos atrás eu comecei a pensar sobre como seria ter minha própria boneca e fiz o primeiro “rascunho” dela no papel. Depois a transformei em uma personagem digital no 3D com a criação de toda a estrutura óssea, corporal. Durante todo esse tempo tentei encontrar patrocinadores com pelo menos 50 reuniões para apresentar o projeto. Só recebi respostas negativas. ‘Nós não gostamos dela’, me diziam. Acredito que todos esses feedbacks a deixaram mais forte e nunca desisti. No final do ano passado dei um ultimato para mim mesmo: ou deixava ela morrer na minha cabeça ou fazia acontecer. Juntei todo o dinheiro que consegui, aproximadamente 200 mil euros (R$900 mil), para começar a investir no time de criação que hoje tem seis pessoas. Então fizemos um ensaio fotográfico e alguns vídeos de animação. É preciso testar o movimento do cabelo, o jeito de se mover, como os dedos se mexem, se o piscar dos olhos será mais rápido ou um pouco mais devagar, temos que testar tudo. É uma criação completa, não é automático.”

Glamurama – Em quem a boneca foi inspirada?
Joerg – “Me inspirei em duas mulheres, a Naomi Campbell, que representa o mundo das supermodelos que eu amo, e Kim Kardashian, que é o rosto das mídias sociais e de certo modo uma mulher mais acessível. Noonoouri é essa mistura. Acessível, mas não muito”.

Glamurama – E o nome dela?
Joerg – “Foi a parte mais difícil. Sou bastante criativo então para desenhá-la não tive que pensar muito, foram 30 minutos, mas o nome levou um mês para decidir. Estava na Art Basel em Miami e tinha uma obra chama Noono. Fiquei pensando nesse nome, fiz algumas mudanças no quarto do hotel, pois queria que terminasse com a letra ‘i’ e verifiquei quais nomes estavam disponíveis para patentear. Tanto o desenho quanto o nome já estão registrados e protegidos. E como o nome veio do mundo da arte, ela gosta muito desse universo também.”

Glamurama – Você já fez contato com as outras bonecas digitais (@lilmiquela e @shudu.gram)? Seria interessante uma parceria, não?
Joerg – “Apenas com o criador de Shudu. Ainda não o conheci, mas estamos em contato, só não sei se uma colaboração seria possível. Noonoouri não gosta de outros avatares. Opa, acabei de cometer uma gafe, ela não é um avatar e nem um robô, mas um personagem digital. Muita gente me pergunta sobre criar um namorado para ela, mas não vai acontecer. Para ter um, tem que ser real. O grande sonho dela é se tornar uma pessoa, mas não existe essa possibilidade. E é algo que está muito claro na minha cabeça também.”

Glamurama – Como ela é feita em termos técnicos?
Joerg – “Noonoouri é proporcional ao meu corpo. Funciona assim, ela sempre está dentro de um quadro. Então eu me posiciono embaixo do batente de uma porta, por exemplo, faço a pose e fotografo. Essa foto vai para o time de 3D que adapta as proporções – essa é a parte mais cara – daí escolhemos o look que a boneca irá usar e o ambiente em que estará. Para um post ficar pronto leva em torno de 2 a 3 dias. Às vezes precisamos de ainda mais tempo podendo chegar a uma semana e os clientes aceitam numa boa. Para algumas situações podemos pré-produzir escolhendo a roupa dias antes quando for um desfile e já conhecendo o local onde ela vai estar. Apesar de ser uma influencer digital e originalmente as coisas tenham que fluir muito rápido, ela tem um discurso que desacelera o processo. A maioria das músicas do feed foram feitas especialmente por dois compositores do nosso time.”

Glamurama – Como a roupa é “encaixada”?
Joerg – “As roupas são um mix de fotos reais e elementos desenhados à mão e no 3D. Trabalho com um fotógrafo brasileiro que é um grande amigo meu, o Gerson Lírio, e que me ajudou desde o início porque eu não tinha acesso aos desfiles.”

Glamurama – Você consegue responder a todos os fãs. Como é isso? Tem uma equipe ou apenas você?
Joerg – “Sou sempre eu. Para o meu pessoal e para a Noonoouri. Esta semana está mais corrido, tenho algumas pendências, mas tento responder todos os feedbacks porque fico honrado quando as pessoas postam ela, afinal meu maior objetivo é fazê-la crescer.”

Glamurama – O futuro das marcas é criar suas próprias influencers?
Joerg – “Eu diria que não. Um humano é um humano e isso é insubstituível. Esses personagens são alternativos, mas não substitutos de humanos, definitivamente”.

Glamurama – Ela está ganhando bastante dinheiro?
Joerg –  “Definitivamente, não. Por enquanto, tenho dois objetivos. O primeiro é monetizar ela e fazer com que apoie questões sociais, principalmente sobre feminismo, crianças, animais e a natureza. Ela quer ser a voz daqueles que não tem voz. Eu levanto a minha própria bandeira para todas essas questões. Por meio dela já fiz um post sobre doença mental, por exemplo, e seguidores me deram um feedback positivo: ‘Você é tão famosa e está cuidando da gente, nos fazendo sentir como um grupo que não está sozinho’. Isso é muito comovente.”

Glamurama – Você responde as entrevistas dela, certo? Em algum momento as duas personalidades se confundem?
Joerg – “Sim, respondo, mas nossas personalidades não se confundem. Somos parecidos, claro, mas ela é mais calma que eu, mais paciente, tudo que eu adoraria ser. Sou reativo, emocional, impaciente. Preparei ela por sete anos. Não tenho dupla personalidade, rs, nem um alter ego. Consigo separar os dois mundos.”

Glamurama – Você acredita no potencial da inteligência artificial? 
Joerg – “Devemos abraçar o futuro. Não é preciso ter medo da evolução da tecnologia, o que eu acredito muito. Temos o controle disso e o mais importante é continuar tendo.”

Glamurama – Qual o futuro dela?
Joerg – “Ainda não pensei em ter uma marca para ela, por exemplo, mas é uma questão interessante. Ela precisa crescer e esse é meu maior desafio.”
Glamurama – Qual sua relação com o Brasil?
Joerg –  “Já estive aqui quatro vezes entre o Rio, São Paulo e Florianópolis. Amo o Brasil, tenho uma conexão grande com a América Latina, até por ter um estúdio em Buenos Aires. Quando preciso de uma resposta, vou para perto da natureza e sei que ela vai me devolver essa questão. Tenho que dar o meu máximo para a natureza, pois se um dia não existir, não existiremos também. A primeira atitude para a Noonoouri é ter um compromisso. Atrair a atenção de todo esse mundo da moda e celebridades e influenciá-los para fazer o bem.”
Glamurama – Me conte um pouco sobre sua carreira profissional.
Joerg Zuber – “Eu comecei a pensar em moda quando tinha cinco anos. Sempre quis me tornar um estilista, mas acabei indo para a área de design gráfico. Iniciei logo depois da escola com 13 anos fazendo estágio em uma companhia de impressão por dois anos e logo depois abri meu próprio estúdio, que hoje está com 18 anos e três sedes, sendo em Munique, Madri e Buenos Aires. Acabei não estudando e tudo o que eu faço aprendi sozinho.”
Joerg preparando o post de Noonoouri com Camila Coutinho || Créditos: Reprodução Instagram
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