Publicidade

O MILAGRE DA MULTIPLICAÇÃO

A rede de escolas de inglês foi só o começo. Hoje a família do empresário mórmon Carlos Wizard Martins conta com empresas como a Mundo Verde, de varejo de produtos naturais, Topper e Rainha, de material esportivo, Hub Prepaid, de soluções de pagamento, Aloha Oils, de cosméticos e de óleos essenciais, entre outras. Mas são os filhos que gostam mesmo de fazer a multiplicação

Por Paulo Vieira || Fotos: Roberto Setton

Não é preciso avançar muito na leitura da Bíblia para logo ter com um versículo famoso do livro do Gênesis em que Deus, após criar o homem e ver que aquilo era bom, dá o salve: “Crescei e multiplicai-vos”.
O empresário paranaense Carlos Wizard Martins – Wizard foi incorporado a seu nome à maneira do Lula de Luiz Inácio – seguiu o comando com afinco. Teve quatro filhos, adotou mais dois e ainda levou a ordem divina para o mundo corporativo. Depois de quase três décadas de vida dedicadas a uma rede de escolas de inglês, a Wizard, ele multiplicou: junto com seus filhos e sócios minoritários, hoje controla uma teia de empresas. Entre outras, há franquia de comida mexicana (Taco Bell), marcas de material esportivo (Topper, Rainha e a distribuição no Brasil da Saucony), academias de futebol (Ronaldo Academy e Palmeiras), soluções de pagamentos (Hub Prepaid), varejo de produtos naturais (Mundo Verde), óleos essenciais (Aloha Oils) e, sim, escolas de idiomas (Wise Up e Number One).
Wizard não está sozinho nessa, pois parte da culpa pela expansão do conglomerado coube a seus primogênitos, os filhos gêmeos Charles e Lincoln. Para ser justo, coube 100% da culpa. Como explicou em sua biografia Sonhos Não Têm Limites, publicada em 2013, o empresário resistiu o quanto pôde às iniciativas dos filhos em adquirir concorrentes e iniciar a fagocitose corporativa que daria origem ao Grupo Multi e, mais tarde, à holding Sforza, que até o fechamento desta edição contava sete companhias diferentes sob seu controle. No diálogo retórico criado em Sonhos pelo biógrafo Ignácio de Loyola Brandão, o pai respondeu assim a uma investida dos filhos para a aquisição da primeiríssima empresa, a Yeski, também de idiomas: estou fora!

“Costumo dizer que sonhei a Wizard, e os meus filhos, o Grupo Multi”, disse Wizard a PODER na sede da Sforza, em Campinas. Para Charles, também presente à entrevista, convencer o pai não foi uma epopeia – todos se mantiveram no campo do estritamente racional. “Carlos achava que em vez de comprar 100, a gente podia montar 100 [escolas]. Disse a ele que só conseguiríamos atingir todas as pessoas se juntássemos metodologias complementares a nossa.”

Priscila, os gêmeos Lincoln e Charles e o patriarca Wizard || Créditos: Roberto Setton

De origem modesta, filho de caminhoneiro e costureira, e com formação em ciência de computação e estatística na Brigham Young University, de Utah (EUA), instituição da igreja mórmon, Wizard não reinventou a roda em termos de gestão. A julgar por seu livro Desperte o Milionário que Há em Você, de 2012, se precisasse passar por uma prova em alguma faculdade de administração, provavelmente seria aprovado sem sustos nem louvor. Na obra já replicava velhos chavões do tema: era preciso “unir forças e dividir a glória” e postulava que os “sete princípios das equipes vencedoras são acreditar, treinar, motivar, delegar, acompanhar, avaliar e comemorar”.

Wizard não era experimentado na arte da negociação quando a rede iniciou seu galope. Coube a Charles criar esse saber um tanto na raça. “A gente não tinha expertise, apanhou muito nas duas primeiras aquisições, mesmo não sendo tão complexas. Aí melhoramos e, em 2010, quando o fundo Kinea [do banco Itaú] decidiu comprar uma participação no Multi, preferi fazer um ‘double check’ com o banco BTG”, disse.

OVOS PARA VÁRIAS CESTAS

A história da administração ensina que não se deve colocar todos os ovos numa mesma cesta. “A diversificação é útil quando se quer diminuir a dependência de um só negócio”, disse o consultor Nelson Barrizzelli, professor da Fundação Instituto de Administração (FIA), de São Paulo. Sabe-se que o compartilhamento de uma estrutura comum de serviços – RH, TI e financeiro, principalmente –, geram sinergias que normalmente levam a uma boa economia de recursos. Mas as sinergias de Wizard parecem ter um toque mais autóctone.
Wizard incorporou um personagem empreendedor que, à maneira de Silvio Santos, não teme a superexposição e aproveita cada espaço que abre – ou que lhe é aberto – para alavancar os negócios do grupo. Se não tem uma grade de TV para ocupar com programas para vender títulos de capitalização ou perfumes, usa sua imagem para ajudar, por exemplo, a aumentar o número de revendedores da Aloha Oils (que utiliza o sistema de vendas porta-a-porta, como a Avon, além do e-commerce). Como chamariz para um encontro nacional da marca no começo de setembro, em São Paulo, ele convidava por sua rede social candidatos de várias partes do Brasil a gravar um filme curtinho com ele. Para isso seria preciso comparecer ao evento, cujo ingresso era comercializado a
R$ 300 (com antecedência, R$ 250, valor que poderia ser revertido em produtos da marca) e tinha Wizard como principal palestrante. Não há mesmo bola perdida para o empresário. Nas escolas de futebol da Ronaldo Academy e do Palmeiras no Brasil há aulas de inglês de uma empresa do grupo, a Number One. Por fim, quem quiser comprar sua biografia não vai ter dificuldade em encontrá-la nas lojas de produtos naturais Mundo Verde – numa franqueada da Vila Madalena, em São Paulo, o título estava em promoção a R$ 12.

O negócio mais rentável do conglomerado hoje é a empresa de solução de pagamentos Hub Prepaid. Reza a lenda propagada pela família que a start-up surgiu a partir de uma conversa num restaurante entre Charles e Rodrigo Borges, seu atual CEO e sócio minoritário, e o guardanapo onde teriam registrado os passos a seguir hoje está preservado como memorabilia. A empresa tem como clientes a Caixa e o Magazine Luiza (nessa, oferece cartões que são trocados por presentes), entre outros. “Ela começou em 2011 e, desde 2012, vem dobrando de faturamento ano a ano”, diz Charles. Em diversas reportagens, Charles e Rodrigo já disseram ter recusado ofertas de até R$ 1 bilhão, pois julgam que há espaço para crescimento. Com as marcas Topper e Rainha, compradas do grupo Camargo Corrêa sem seus ativos industriais, o sonho também é alto. A Topper patrocina diversos times de futebol do Brasil das séries A e B (com penetração nacional: Atlético Mineiro, Botafogo, Ceará, Vitória, Guarani e Remo, para citar alguns). “Em cinco anos, queremos ser a marca número 1 do futebol no país com a Topper, e líderes de mercado fitness com a Rainha”, diz Leonardo Chamsin, CEO da BR Sports, divisão esportiva do grupo, que ainda inclui a distribuição no Brasil da marca americana Saucony. Para Chamsin, que era CFO no grupo antes de ser guindado à liderança da BR, o “amor ao Brasil e o DNA de empreendedorismo bem forte” caracteriza Wizard e seus filhos Charles e Lincoln Martins. Tanto na BR Sports como na Ronaldo Academy, a família Wizard tem como sócio o empresário capixaba Marcus Buaiz, que em seu front mais midiático gere a carreira de artistas como Claudia Leitte, Paolla Oliveira e Marcio Atalla. Buaiz diz-se orgulhoso de ter firmado sociedade com os Wizard. “Devemos nos cercar de pessoas melhores do que nós”, disse a PODER. “O respeito entre eles é algo admirável, são talentos diferentes e complementares.”

LEALDADE E PROCEDER

Como no lema da torcida Gaviões da Fiel, “lealdade, humildade e proceder”, a segunda geração dos Wizard segue leal e humildemente o proceder do pai. A religião regula tudo, inclusive as escolhas acadêmicas e matrimoniais. Os quatro filhos biológicos de Wizard estudaram na mesma universidade mórmon norte-americana – com medo do frio, Priscila optou pelo campus do Havaí, onde, aliás, conheceu os óleos essenciais que agora comercializa com a Aloha Oils. Os dois adotivos, hoje com 19 e 17 anos, ainda não estão na fase de deixar o Brasil, mas dão expediente nas empresas do pai. “Eles devem estar agora limpando o chão da loja da Taco Bell de Campinas”, disse Wizard. “Todos começam de baixo para ter contato com as várias etapas dos negócios antes de aspirar postos mais altos.”

Nas empresas dos Wizard, a meritocracia parece vencer o nepotismo. “Pergunte a meus filhos quantos primos deles trabalham no grupo”, disse Wizard ao repórter. E deu a resposta: “Nenhum”. O fato de ter seis irmãos (e sua mulher sete) não o fez cair em tentação de transformar suas empresas numa repartição pública privada. Resta saber como os Wizard estarão na terceira geração, o chamado “consórcio de primos”. Seguindo outro preceito religioso-familiar, os filhos de Wizard não dormem em serviço – e muito menos fora dele. Em setembro, deve nascer mais um integrante do clã, o quarto filho de Priscila. E ela só tem 28 anos.

VOCÊ TAMBÉM PODE GOSTAR

Instagram

Twitter