Postura, gestos, olhar, ritmo da fala e tom de voz: a chamada comunicação não verbal tem muito mais alcance do que se imagina. Além de passar para os outros informações importantes sobre nós, afeta nossa mente. Sim, o corpo fala, o cérebro entende e os hormônios respondem. Não é balela. É ciência pura
por Caroline Mendes para a Revista PODER de outubro
Para Amy Cuddy, a tão falada “presença” é uma mistura de atitude, de segurança e de tranquilidade – o famoso “confiar no próprio taco”, tão valorizado no mundo dos negócios. A novidade é que, até no dia em que você não estiver exalando tanta autoconfiança assim, é possível dar um jeito. “Durante uma entrevista de emprego, primeiríssima situação estressante do meio corporativo, os candidatos se preocupam demais com o que estão dizendo com a boca, mas não com o que dizem com o corpo”, afirma. “Postura, gestos, ritmo e tom de voz. Tudo isso não sinaliza apenas para o outro como estamos nos sentindo, mas também para o nosso cérebro.” Um exemplo: se nos sentamos encolhidos na cadeira e cruzamos os braços, assumimos uma postura física de quem se protege de uma ameaça – e o cérebro entende mesmo que estamos diante de uma situação de risco. Isso faz aumentar a produção de hormônios como adrenalina e cortisol que estão diretamente relacionados ao estresse. Para reverter o quadro, é só mudar a postura. Simples assim.ós a reconhecemos quando sentimos e quando vemos, mas a presença é difícil de definir.” É com essas palavras que a norte-americana Amy Cuddy começa O Poder da Presença, livro recém-lançado nos Estados Unidos que chega ao Brasil este mês pela Editora Sextante. À primeira vista, pode parecer mais uma obra de autoajuda profissional, cheia de frases de efeito, mas o que Amy fala é mais profundo. Professora titular da Harvard Business School e Ph.D. em psicologia social pela Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, Amy ensina, com base em pesquisas e experiências realizadas em laboratório, que é possível alcançar – ou até forjar – uma presença poderosa por meio de gestos das mãos, pés, cabeça e tronco. E que essa postura física é poderosa a ponto de afetar o cérebro, que tende a responder de acordo. Sim, é isso mesmo que você leu: aquele papo de linguagem corporal não é conversa fiada. É ciência.
Espinha ereta, mente esperta
A autora de O Poder da Presença ficou famosa em 2012, quando subiu ao palco do TED e ensinou para a plateia “poses de poder” para “enganar o cérebro” e aumentar a auto-confiança frente a qualquer situação delicada. A palestra é a segunda mais vista da história da plataforma, e já contabiliza mais de 36 milhões de visualizações no site oficial. Entre as tais poses, estão algumas combinações entre ombros para trás, peito cheio de ar, coluna reta, mãos na cintura ou apontando para o céu, pés separados e outros gestos expansivos. O que Amy conseguiu provar em testes de laboratório foi que, entre dois grupos – um que assumiu as “poses de poder” por dois minutos e outro que se encolheu na cadeira –, houve um aumento de 20% no nível de testosterona (hormônio da dominância) e uma queda de 25% no nível de cortisol (hormônio do estresse) no primeiro. Por outro lado, o grupo dos “encolhidos” apresentou uma queda de 10% no nível de testosterona e um aumento de 15% no de cortisol. “Essa experiência mostra que é possível forjar um quadro hormonal semelhante ao observado em primatas por meio da simples expansão do corpo. Isso porque, se nosso sistema nervoso recebe a mensagem de que não estamos em perigo, mas, sim, sãos e salvos, conseguimos ficar confiantes, otimistas e agir com mais naturalidade”, afirma Amy. Mas nada de bancar o Super-Homem no meio da reunião. “A dica é fazer as poses antes de enfrentar a situação estressante, quando ninguém está vendo”, diz. “São questões químicas, fisiológicas, que a comunidade científica ainda não entende completamente. O fato é que as pessoas se sentem muito melhor com a expansão do corpo a curto prazo (as poses de poder) e a longo prazo (praticar exercícios físicos), mas ainda sabemos muito pouco sobre o porquê disso.”
Sintonia Fina
Outro cientista que está lançando luz sobre a via de mão dupla entre corpo e mente é o norte-americano Peter Strick, presidente do departamento de neurobiologia e codiretor do centro de neurociência da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos. Em um experimento, Strick injetou o vírus da raiva nas glândulas suprarrenais de macacos e descobriu que a mesma região que controla a secreção dos hormônios do estresse também rege os chamados “músculos do core”, que sustentam o corpo e estão localizados na região abdominal, lombar e pélvica. “Ou seja, se esses músculos forem exercitados, alongados e fortalecidos, tanto a curto quanto a longo prazo, não serão tão demandados em situações estressantes”, explica. “E isso também vai fazer as glândulas suprarrenais trabalharem menos, produzindo menos hormônios do estresse.” O trabalho, que levou três anos para ser realizado, foi publicado em agosto na Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos. “Pode servir como um mapa para que outras descobertas sejam feitas sobre como o corpo e os movimentos controlam as ações do cérebro”, conclui o neurocientista, que, vale dizer, começou a praticar pilates e meditação depois do experimento.