Para quem gosta de música eletrônica, quero apresentar meu amigo Simon, aka Shimon, um dos artistas para ficar de olho na nova cena musical parisiense, que já revelou nomes conhecidos mundialmente como Cassius e Daft Punk. Seu novo EP, Ouch Ananas, será lançado mundialmente nesta semana e conta com a participação do produtor brasileiro EXZ em uma das faixas.
Trompetista por formação, o DJ e produtor francês começou a estudar música em um conservatório aos seis anos, descobrindo cedo sua vocação. “Na verdade, desde muito jovem, a música tem importância na minha construção pessoal. Meus pais me educaram com grandes influências multiculturais, da música árabe à brasileira, da salsa ao rock psicodélico, do reggae ao rap, de Lou Reed a Césaria Évora”, revela Shimon.
Esse dom cultural passado de pai para filho permitiu que ele abrisse seu espectro de pesquisa e descobrisse a música eletrônica aos 15 anos, com os vinis de Loco Dice, Ricardo Villalobos e Luciano, uma batida minimalista, mas com influências multiculturais, particularmente sul-americanas. “Misturar estilos em busca constante da psicodelia e a imersão sempre foram a minha forma de produzir música eletrônica. Adicionar notas ácidas, coloridas e picantes para dar vida a esta música na busca por inovação e exploração” esclarece.
A carreira como artista profissional começou em 2016, depois de trocar um “trabalho normal” na área de relações públicas de uma empresa farmacêutica e iniciar na produção musical. O caminho entre as ‘festinhas’ em casa com amigos para as pistas de clubs badalados não levou muito tempo. Shimon logo chamou a atenção de programadores em Paris e os pedidos para discoteca não pararam mais de chegar. Rapidamente chegaram convites para tocar em Amsterdam (com The Gardens of Babylon), Berlim (KaterBlau/ Mensch Meier), Zurique, Londres, Tulum, Baja, Vilnius e tantos outros lugares. “Em poucos anos, viajei muito graças a música, e principalmente conheci diferentes culturas e pessoas extraordinárias, em particular as equipes do Sonido Trópico & Voodoohop, para falar do Brasil, que se tornaram grandes amigos e com quem viria tocar no Brasil em 2020”, declara.
Shimon se diz muito sensível com a riqueza da música brasileira e fã de cantores como Martinho da Vila, João Gilberto e Gilberto Gil, por exemplo. Sem deixar de lado seus amigos DJs brasileiros Kurup, EXZ, Gerra G, Spaniol, Reple, Xaxim que trazem uma visão completamente diferente para a música eletrônica. Neste momento, Shimon está trabalhando em uma canção com uma outra grande amiga brasileira, a cantora Lia Paris.
“A música que produzo e que toco ao vivo é bem diferente da que mixo nos clubs. Na produção tudo é quase analógico, gravo a bateria com o microfone e junto o sons de ferramentas de bricolagem e de jardinagem, que depois modifico via software. Utilizo sintetizadores modulares para a parte melódica. Me inspiro muito nas vozes e canções brasileiras, que modifico e adapto ao som”. Criando uma sonoridade que ele descreve como um tipo de techno lento colorido, frutado e psicodélico.
O artista tem passado a maior parte do seu tempo em Batignolles, bairro onde mora, que se tornou o lugar para sair para comer e beber em Paris, um refugio de paz em meio à tensão geral. “Paris, neste momento, sofre e sufoca com a falta de liberdade, é muito triste ver”, desabafa. Para quando tudo isso passar, Shimon deixa uma dica para conhecer o Les Caves Populaires, um bar de vinho conhecido como a meca do anarquismo parisiense, que oferece ótimos produtos a preços acessíveis, com alegria e bom humor.
Enquanto isso aproveitamos para ouvir seu novo EP, Ouch Ananas, que traz faixas coloridas, às vezes dark, mas acima de tudo animadas. “Procuro essas inspirações no meu pensamento profundo, na minha imaginação, muitas vezes me deixo guiar pelo meu inconsciente quando crio, sem nenhum desejo real de me assemelhar ou assimilar um estilo”, finaliza.
(por Mario Kaneski de Moraes, fundador do Estúdio Arara, startup de comunicação e marketing, sediada em Paris)