Desde 2018, Marina Saleme convive com a figura de uma mulher debruçada sobre si mesma, sentada de cabeça abaixada, com os cotovelos apoiados sobre as pernas e as mãos nos ombros. Quando viu esta imagem pela primeira vez, folheando uma revista, a artista passou os olhos sobre a página e logo voltou a ela. “O que me chamou atenção foi justamente retornar à imagem. Num mundo atolado de informações, ser capturado por algo vale muito”, diz.
Marina passou a desenhar essa mesma mulher incansavelmente. Começou pelas páginas de cadernos e, então, percebeu que as folhas, descoladas do bloco e posicionadas lado a lado, formavam uma grande instalação. “Com a pandemia, o trabalho ganhou um sentido mais forte. O que poderia ser visto como uma figura de linguagem, uma multidão de pessoas sozinhas, virou uma realidade, com todos apartados uns dos outros”, explica a artista. Mas Marina não parou por aí: “Ainda não desapeguei. Continuo desenhando essa figura, me parece que sempre falta”. (por Nina Rahe)