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Yusaku Maezawa // Crédito: Alessandro Di Ciommo/NurPhoto via Getty Images

Por Anderson Antunes para a revista PODER

Uma das coisas que Yusaku Maezawa mais ouviu na vida foi de “viver no mundo da Lua”. Não sem razão. O bilionário japonês de 42 anos rendeu notícias no mundo todo ao ser anunciado pela empresa de aviação espacial SpaceX, do sul-africano Elon Musk, como seu primeiro cliente a orbitar o satélite natural da Terra. A viagem, com duração mínima de seis dias, está marcada para 2023, e Maezawa pretende levar consigo de seis a oito artistas das mais variadas áreas. O grupo deverá desenvolver a bordo do foguete Big Falcon Rocket, um projeto artsy do qual ainda pouco se sabe. A empreitada, batizada #dearMoon, vai ter de alguma forma o dedo de Musk, outro membro do clube dos bilionários dado a excentricidades.

À parte a história do tipo “as voltas que o mundo dá”, para não perder o trocadilho, Maezawa sempre mostrou que nasceu para se dar bem com aquilo que os americanos chamam de “pensar fora da caixa”. Na adolescência, ele passou seus últimos anos do ensino médio focado na banda de rock Switch Style, que formou com amigos de colégio. Contrariando a estatística japonesa, o jovem roqueiro abriu mão de cursar a faculdade para se dedicar exclusivamente à música. A Switch Style lançou seu primeiro LP em 1993 e foi um sucesso. Mas, cansado da fama repentina que conquistou, Maezawa mudou-se para os Estados Unidos com uma namorada e por lá ficou durante dois anos.

Nesse período, Maezawa dedicou-se a colecionar discos antigos, sem saber que esse hobby seria a semente do império que viria a criar. De volta ao Japão, em 1995, usou as relíquias para lançar seu primeiro negócio: uma empresa de venda de memorabilia pelo correio. Daí nasceu, em 1998, a Start Today, e-commerce batizado com o mesmo nome de um álbum da banda punk americana Gorilla Biscuits. Dois anos depois a filial da gravadora BMG no Japão voltou a procurá-lo para ressuscitar sua carreira musical, mas o revival durou pouco, e, em 2001, Maezawa anunciou que daria um tempo dos palcos, justificando que pretendia apostar todas as suas fichas no empreendedorismo.

Macacão Zozosuit, que ajuda o usuário a ver o caimento de uma roupa que compra pela internet // Reprodução

O pulo do gato foi em 2004, com o lançamento do Zozotown, site de venda de roupas e acessórios que virou mania entre os japoneses e que funciona nos mesmos moldes do britânico Asos e do chinês AliExpress. Ano passado, o Zozotown faturou uma bolada de quase US$ 900 milhões. A vantagem do e-commerce japonês em relação à concorrência mundial é que apenas ele tem um CEO estrelado como Maezawa, que usa e abusa de seu status como celebridade entre os conterrâneos para promover a companhia. Às vezes ele copia a maneira estrepitosa como a Apple anuncia seus novos produtos para promover os seus. Também garante manchetes para sua vida pessoal, como quando desembolsou US$ 57,3 milhões por um quadro de Jean-Michel Basquiat, em maio de 2016. Um não foi suficiente, e cerca de um ano depois adquiriu outra obra do famoso artista apadrinhado por Andy Warhol, que lhe custou mais US$ 110,5 milhões. As aquisições o transformaram num “bilionário celebridade” de fama mundial.

É com a Zozotown que Maezawa promete revolucionar o mundo da moda, graças a uma novidade que lançou há alguns meses e chamou de Zozosuit. Trata-se de um macacão coberto por sensores eletrônicos que permite às pessoas provar as roupas que visualizam no site sem sair de casa. Disponível em 72 países, o Zozosuit já recebeu mais de 1 milhão de encomendas e foi descrito pelo jornal Financial Times como a prova de que o futuro da moda está na internet. De qualquer forma, não é preciso grande exercício de imaginação para notar que o avanço de gigantes como a Amazon e o fechamento de magazines que um dia foram colossais como a Sears colocam o comércio virtual de moda num patamar privilegiado.

A forte ligação entre a moda e a tecnologia se deve basicamente ao fato de que a primeira depende cada vez mais dos millennials para sobreviver. Um estudo encomendado pelo banco suíço UBS, divulgado no começo de outubro, apontou que a parcela da população formada por pessoas nascidas a partir do começo dos anos 1980 respondeu por 85% do crescimento do mercado de produtos de luxo em 2017; o mesmo estudo mostra que, em 2025, representarão 45% das receitas totais dessa indústria. Para colocar em perspectiva, o segmento global de luxo movimentou estimados US$ 290 bilhões no ano passado, e a maior parte dessa cifra veio dos bolsos de consumidores fashionistas com idade entre 18 e 35 anos. Cada vez mais conectada, seja no computador ou em um smartphone, essa turma não quer mais saber de pisar em shoppings ou coisas do tipo para renovar o guarda-roupa quando se pode fazer isso no conforto de um sofá – e o Zozosuit está sendo visto como o elo que faltava para convencer os menos conectados a seguir essa nova tendência.

Gigantes como os conglomerados franceses LVMH e Kering – respectivamente os donos de marcas que dispensam apresentações como Dior e Yves Saint Laurent – já dispõem de divisões específicas cheias de profissionais para monitorar a escalada tecnológica e, a partir daí, apresentar soluções. Mas até agora quem está surfando melhor essa onda é Maezawa, e muitos bambambãs por trás das grandes grifes acompanham cada passo do japonês com lupa. Maezawa, um outsider, promete ditar os próximos passos da moda e, ao que tudo indica, divertir-se muito realizando a tarefa. Com direito a passeio ao redor da Lua.

AVENUE MONTAIGNE PRA QUÊ?

“Já passei da fase de sonhar com loja na Avenue Montaigne”, disse a PODER o catarinense de 24 anos João Zunino, que segue de alguma forma a escola de Yusaku Maezawa. “O endereço hypado do futuro é a rede, onde é possível vender mais por um custo bem menor.”

A frase é muito coerente com alguém que define seu trabalho (algumas peças, acima) como “futurista e extravagante”. Futurista seguramente é, pois a marca que leva seu nome não vende nada do que cria em lojas físicas e está lançando um aplicativo pelo qual será possível fazer encomendas diretamente junto ao fabricante. “Quero vender para o mundo inteiro e isso não é exagero no espaço virtual”, diz ele. O app indica o tamanho de roupa apropriado para o cliente de acordo com as medidas informadas. As medidas depois serão usadas para formar um banco de dados “que vai do skinny ao normal e chega ao oversized”, como diz Zunino. Extravagante também, sem dúvida. Muitas peças do estilista têm acabamentos internos em vermelho, “cor que chama a atenção”. “Detesto minimalismo. Gosto de pessoas que veem que penso na beleza tanto no exterior quanto no interior”, diz.

Filho de uma blumenauense que construiu a marca de lifestyle Of-Ficium, Zunino chegou a cogitar estudar medicina antes de se aventurar pelo design de vestuário. Em 2016, lançou sua marca voltada para o público LGBTQI. Hoje são suas fãs gente como Gretchen, Jojo Todynho e Pabllo Vittar. Vittar, aliás, veste o jovem couturier (é assim que Zunino se apresenta no Instagram) no videoclipe de “Energia”.

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