Hugh Hefner, que morreu nessa quarta-feira aos 91 anos de causas naturais, vai ser lembrado por muitos como o “velhinho” que adorava posar para fotos ao lado de suas várias namoradas. Mas a verdade é que ele foi um dos maiores empreendedores da indústria do entretenimento nos Estados Unidos, que deu de ombros para o conservadorismo do pós-guerra quando fundou em 1953 a “Playboy”. Na época, o clima de rigidez moral era tamanho que até mesmo a palavra “grávida” não podia ser dita no horário nobre da TV americana.
Com Marilyn Monroe em sua primeira capa e como veio ao mundo no recheio, e a promessa de trazer “humor, sofisticação e uma dose de pimenta” para os leitores, a publicação logo se tornou febre: em apenas 12 meses, bateu a marca de 200 mil exemplares em circulação. Cinco anos depois já eram um milhão por edição. Meio que sem querer, Hefner ajudou a transformar a pornografia em algo sério e em uma indústria que só em seu país movimenta mais de US$ 15 bilhões (R$ 47,7 bilhões) por ano hoje em dia. Afinal, os números impressionantes da “Playboy” em seus primeiros anos comprovaram aquilo que todo mundo sabia mas tinha receio de admitir: sexo vende.
Nos anos 1970, com a “Playboy” estabelecida como a maior revista de conteúdo adulto do mundo e um público fiel de 7 milhões de leitores, Hefner começou o processo de transformação de sua própria imagem, do publisher ousado para o milionário bon vivant, do tipo que não tira o pijama (de seda, claro) nem para ir trabalhar. Foi aí que ele começou a dar entrevistas e fazer declarações polêmicas, como a vez em que revelou ter transado com mais de mil mulheres, inclusive muitas famosas coelhinhas… Também foi na década de 70 que Hefner começou a fazer amizades no showbiz, e uma das turnês mais bafônicas dos Rolling Stones pelos Estados Unidos naqueles tempos incluiu uma parada obrigatória na propriedade que ele mantinha em Los Angeles, hoje conhecida como a “Mansão da Playboy”.
Nos anos 1980, com a circulação da revista entrando em declínio, Hefner viveu um de seus piores momentos e chegou a sofrer um AVC depois da publicação, em 1985, de um livro sobre o assassinato de uma ex-coelhinha pelo marido, que depois se suicidou. O autor da obra, o cineasta Peter Bogdanovich, o culpou pela tragédia, afirmando que ele não se importava com o impacto que causava nas vidas das colaboradoras.
A partir daí, e já eternizado como uma celebridade e não somente um empresário, Hefner focou nos negócios, transformando a “Playboy” em marca global. Além da revista, produtos licenciados dos mais diversos tipos e várias outras fontes de renda, como eventos, ajudaram a Playboy Enterprises a se tornar uma corporação multimilionária, com receita de mais de US$ 200 milhões em 2016.
Também foi no ano passado que Hefner anunciou sua disposição para vender tudo em um negócio que poderia lhe render mais de US$ 500 milhões (R$ 1,59 bilhão), lembrando que a Mansão da Playboy já não pertencia a ele desde janeiro, quando foi comprada por US$ 100 milhões (R$ 318,3 milhões) pelo vizinho Daren Metropoulos, filho do bilionário C. Dean Metropoulos, metade do preço originalmente pedido pelo empresário.
Questionado certa vez sobre a grandiosidade de seus feitos, ele se saiu com essa: “Se não tivesse sido inventada por [Thomas] Edison, a lâmpada elétrica estaria aí de qualquer jeito pelas mãos de outro. E se eu não tivesse criado a “Playboy”, nós teríamos sexo e sacanagem sadia do mesmo jeito. Mas talvez não estaríamos aproveitando tanto como agora. O mundo seria mais pobre e, pensando bem, alguns dos meus parentes também”, disse o empresário, que será enterrado ao lado de Marilyn, sua primeira coelhinha, no cemitério Westwood Village, de Los Angeles. (Por Anderson Antunes)