Como a cultura de risco do Vale do Silício contribuiu para falência de banco

Foto: reprodução/unsplash


A falência do Silicon Valley Bank representa a segunda maior quebra de banco da história dos Estados Unidos. E a cultura de investimentos de risco de outras startups e empresas da região pode ter tido grande contribuição para o fechamento do SVB pela agência reguladora estadual responsável.

Assim como em outros casos, clientes assustados e insatisfeitos apareceram na porta do banco. Mas desta vez foi possível protestar e reclamar dos prejuízos em canais como Slack, Twitter e no próprio aplicativo do SVB. Embora o desespero de perder economias ou fluxo de caixa fosse o mesmo daqueles que escolheram ir ao prédio-sede pessoalmente, a reclamação e corrida para salvar o dinheiro à distância foi algo inédito no universo financeiro.

Mas se no Vale do Silício estão as empresas mais modernas e tecnológicas, o que houve para que todos corressem para retirar o dinheiro das contas, levando à quebra do Silicon Valley Bank?

Em entrevista à “Scientific American”, o professor de Comportamento em Economia do Instituto Californiano de Tecnologia, Colin Camerer, oferece uma teoria. Os investidores de risco, o venture capital e o mundo de startups são muito bons em duas coisas. A primeira delas é não se importar em perder dinheiro. Há um entendimento de que tal investimento oferece risco e 9 entre 10 apostas darão errado. No entanto, ficam com a chance de 10% darem muito certo. É o preço a se pagar por essa pequena porcentagem que é muito valiosa.

Por conta disso há pouca preocupação com desvantagens. Há uma cultura e clima de exageros e autoelogios. Tudo será o próximo Facebook, o novo Google, ou o Uber das escolas infantis etc. Há sempre um senso de otimismo. Bancos, por sua vez, precisam ser o exato oposto disso. Eles precisam de uma gestão de riscos rigorosa. E, frequentemente, contam com esse departamento. Há sempre um executivo cujo trabalho é se preocupar, imaginar o que poderia dar errado e criar mecanismos para que o “errado” não aconteça.

 

As empresas e companhias de tecnologia – que vivem de investimento de risco – não têm essa conduta e não exatamente se preocuparam em saber se o SVB tinha esse cuidado. A cultura de gestão de risco é a antítese do Vale do Silício. Por isso, muita gente colocou tudo o que tinha nesse único banco – algo não recomendado. Deu no que deu.

Para o professor há também a questão da afinidade encontrada em um grupo: seja religião, uma profissão ou como neste caso a indústria tech. Os clientes do SVB enxergavam o Silicon Valley Bank como o “nosso banco”. Uma maneira carismática que também pode ser observada em fraudes como a praticada por Elizabeth Holmes, da Theranos, ou por Bernie Madoff. A verdade é que o clima otimista e despreocupado das empresas de tecnologia não funcionou em uma empresa financeira.

No momento, o Departamento de Justiça norte-americano promove investigação sobre o colapso do SVB. Ainda em estágio inicial, oficiais do governo estão analisando as ações de alguns executivos sêniores da instituição.

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