Assunto do momento no mundo da moda, o desfile da coleção cruise da Chanel em Cuba, que aconteceu nesta terça-feira, começou a ser preparado com meses de antecedência. Desde janeiro que os funcionários da maison francesa estão instalados na Cidade do Panamá, distante cerca de duas horas de avião da capital Havana. A localização é estratégica, já que no Panamá os meios de comunicação funcionam plenamente.
Tudo foi coordenado de perto por Bruno Pavlovsky, presidente de moda da Chanel, que passou os últimos dias desmentindo boatos de que o novo comercial da grife seria filmado na ilha, e que o neto do líder cubano, o globe-trotter Tony Castro, seria um dos modelos do desfile. Tony, é verdade, participou do evento, mas apenas como convidado na fila A.
Outro que chamou atenção na plateia, talvez mais por parecer um estranho no ninho, foi o ator Vin Diesel, que está em Cuba filmando cenas da oitava parte de “Velozes e Furiosos.” O desfile, no entanto, teve mais convidados anônimos do que famosos, uma exigência da própria Chanel, que queria cubanos “comuns” espalhados por todo o Paseo del Prado, local onde foi instalada a passarela provisória de 170 metros — a maior do mundo.
Entre os críticos de moda presentes, haviam dois consensos. O primeiro é que a Chanel não vai ter nenhum lucro financeiro com o desfile, uma vez que não há planos de abrir uma loja da maison em Cuba no momento. O lucro, nesse caso, é com imagem, pelo fato histórico de ser a primeira marca de luxo a se apresentar por lá. Já a segunda conclusão é sobre o poder do capitalismo. Cuba sobreviveu durante seis décadas às marcas do mundo ocidental, e em questão de meses se rendeu a notórios representantes dessas marcas, como celebridades mundiais do porte de Beyoncé, Gisele Bündchen e os Rolling Stones; ao presidente Barack Obama e ao papa Francisco e, agora, a Chanel, lembrando que grifes estão banidas na ilha desde 1959, quando a Dior fechou sua boutique na famosa loja de departamentos El Encanto. Viva la revolución! (Por Anderson Antunes)