Com dois prêmios Emmy no currículo, Heslaine Vieira chega chegando em 2020 e dá a letra: “Tudo começou quando vi Taís Araújo na TV”

Heslaine Vieira começou no teatro, e deu às caras na TV pela primeira vez na série ‘Filhos do Carnaval’ / Crédito: Instagram

Foi na sala da avó, aos 10 anos, que Heslaine Vieira viu Taís Araújo atuar em ‘Da Cor do Pecado’ na pele da personagem Preta, e assim descobriu que queria se tornar atriz. “Eu disse para a minha vó que era aquilo que eu gostaria de fazer. Lembro de não entender como as pessoas cabiam na televisão, então disse: vó, quero caber na TV”, conta. Logo depois, Heslaine convenceu o irmão, Land Vieira, a seguir o mesmo caminho e, juntos, eles conversaram com os pais sobre esse grande sonho.

A atriz começou no teatro e deu as caras na TV pela primeira vez na série ‘Filhos do Carnaval’, como Lia, e não parou mais, atuando em produções como ‘Pedro e Bianca’ (série), ‘A Busca’ (filme), ‘Dupla Identidade’ (série) e ‘Malhação’, onde ficou conhecida por viver Ellen. Já deu para notar que Heslaine se encaixou na televisão perfeitamente e hoje é inspiração para diversas meninas negras que não se viam espelhadas nas grandes tramas. “Quero ensinar e mostrar para essas meninas o que eu não pude aprender na minha adolescência por falta de referência”.

Aos 25 anos, Heslaine carrega na bagagem nada menos que dois Emmys Internacionais (por “Pedro e Bianca”e “Malhação — Viva a diferença”, ambos como protagonista).

E começou 2020 cheia de planos. Por conta da pandemia de coronavírus, alguns tiveram que ser adiados. Foi o caso da novela das seis, “Nos Tempos do Imperador”. A série ‘As Five’, da Globoplay, spin-off de ‘Malhação’, está prestes a ser lançada, e ela também estará na próxima trama das 18h, intitulada ‘Nos Tempos do Imperador’. Além disso, a atriz pretende dar continuidade a projetos no cinema e, claro, curtir a vida. Esse ano, Heslaine viaja pela primeira vez aos Estados Unidos, quer aprender espanhol, pular de paraquedas e, um dia, que sabe, desfilar na Vai-Vai no Carnaval. A seguir, confira a nossa conversa divertida com Heslaine Vieira sobre carreira e representatividade.

Glamurama: Você começou na TV em ‘Filhos do Carnaval’, com a personagem Lia. O que lembra dessa primeira experiência?
Heslaine Vieira: Foi quando eu conheci o Cao (Hamburguer) e nem sabia tudo o que viria depois disso. ‘Filhos do Carnaval’ foi um marco na minha vida. Eu tinha 12 anos e foi uma experiência forte para uma criança. No elenco, tínhamos atores de peso, como Mariana Lima, Thogun, Jece Valadão, Rodrigo dos Santos, Maria Manoela. Então eu aprendi vendo esses monstros atuarem. Foi uma escola. Tenho certeza que fez total diferença na minha vida.

G: Atuar sempre foi o seu sonho? 
HV: Tudo começou quando eu sentei na sala da minha avó e vi a Taís Araújo em ‘Da Cor do Pecado’. Não me lembro de ver muitas mulheres negras na televisão naquela época, então me marcou bastante. Disse que era aquilo que gostaria de fazer. Lembro de não entender como as pessoas cabiam na televisão, então falei: vó, quero caber na TV. Naquela época, achava que me tornaria médica ou engenheira. Estudava em uma escola particular como bolsista, e as pessoas normalmente escolhiam essas profissões. Acho que também teria gostado, mas a arte me chamou.

G: Seus pais apoiaram?
HV: Sim. Quando eu disse que queria ser atriz, consegui convencer até mesmo meu irmão e fomos juntos conversar com nossos pais sobre a nossa ideia. Hoje o Land também é ator. Embarcamos unidos nessa.

G: Você ficou muito conhecida após atuar em ‘Malhação: Viva a Diferença’, em 2017. O que mudou na sua vida?
HV: Mudou tudo. Eu sei que estava numa posição em que as oportunidades são mais difíceis, mas, mesmo assim, me senti privilegiada. Comecei em ‘Filhos do Carnaval’, depois no cinema, e quando vi era protagonista da Malhação. Sou privilegiada por dar vida aos personagens que fiz. Depois de Ellen, conquistei um lugar de fala com bastante visibilidade, e sei que tenho responsabilidade com as outras meninas pretas. Busco ser uma referência positiva para quem me acompanha. Um exemplo bem simples é quando mostro para as garotas um penteado para cabelo afro. Quando eu era menor, não sabia direito o que fazer com o meu cabelo, então alisava. Hoje descobri que se você prender de tal jeito e encher de grampos, fica lindo e original.

G: Imaginava que faria sucesso em Malhação?
HV: Sinto que o público se identificou com a história. São personagens humanos, com qualidades e sombras, porque todo mundo tem isso dentro de si. Falávamos bastante sobre isso no texto de Malhação: “Sou tudo isso e muito mais”. Cao fez uma trama com cinco protagonistas feministas, cada uma com suas questões. E ele focou na amizade e na sororidade, não apenas nas relações amorosas, que também são importantes, mas existe todo um contexto. Além disso, são mulheres de vários padrões. Você vai encontrar onde se encaixar.

G: ‘As Five’ ganharam um spin-off mostrando o reencontro das protagonistas de “Malhação: Viva a Diferença” após 10 anos. Como foi reviver a personagem Ellen Rodrigues?
HV: Uma delícia. Acredito que todos os personagens que fizemos moram dentro da gente de alguma forma, e a Ellen faz parte de mim. Ela me deu força, empoderamento, autoconfiança. Na trama se passaram alguns anos e as meninas já acabaram a faculdade. Fico pensando no que aconteceu nessa lacuna de tempo com elas. A Ellen terminou os estudos, foi para os Estados Unidos e voltou noiva. Imagina o que ela viveu, as dificuldades de ser uma mulher negra em um país estrangeiro. Fico emocionada com isso em mente. Além disso, ela me deu a oportunidade de estudar inglês, coisa que não tive acesso anteriormente. Por enquanto, sei o básico para fazer as cenas, mas quero estudar mais.

G: A amizade com as atrizes de Malhação e do spin-off foi levada para fora das câmeras?
HV: Sim. Apesar de sermos amigas, não somos daquelas que se veem sempre, sabe? Acho até mais gostoso. Como elas moram em São Paulo e eu no Rio, fica complicado pra mim. Mas o melhor é que, quando voltamos a gravar juntas, fizemos exercício de sintonia, e acertamos tudo de primeira. É como se o tempo não tivesse passado.

G: Você está no filme ‘Derrapada’ (de Pedro Amorim), ainda inédito. Como é fazer cinema em tempos como estes?
HV: No ano passado a previsão de lançamento era 2020, agora não sabemos mais. No momento atual está difícil fazer cinema. Mas esse é um projeto incrível, em que interpreto Alícia, uma mulher que faz parte da elite e está grávida. Então gravei com barriga falsa e também com um bebê. Posso garantir que virei uma mãezona durante as gravações.

G: Além disso, você estará em “Nos Tempos do Imperador”, próxima novela das 18h…
HV: Sim, com uma personagem incrível que com certeza vai conquistar o público, mas ainda não posso falar muito sobre.

G: Como é ser uma inspiração para tantas meninas que veem representatividade em você?
HV: É incrível, mas dá medo. Um dia você acorda e tem várias pessoas se inspirando em você. Mas eu entendo, aceito e estudo cada vez mais as diferentes questões para levar informação. Quero ensinar e mostrar para essas meninas o que eu não pude aprender na minha adolescência por falta de referência. Existe a solidão da mulher negra e essa época escolar é sempre a pior, a que mais sofremos bullying. Quero dar força a essas meninas.

G: Pode nos contar um sonho que vai realizar este ano?
HV: Viajar para os Estados Unidos. Nem consigo acreditar. Quero mostrar tudo nas redes sociais, desde o processo do visto, como é o local, como vou me sentir lá. Isso é importante.

G: E o Carnaval?
HV: Ainda não sei como vai ser. Primeiro vou viajar e, quando voltar, penso melhor sobre isso. Mas quero curtir, ver gente. Um sonho seria ir para Salvador, não só na época da folia… queria ver toda a ancestralidade e história que a região tem. Outro sonho é um dia desfilar na Vai-Vai. Brinco com isso, mas tem um fundo de verdade.

G: Quais os planos profissionais para esse ano?
HV: Tem o lançamento de ‘As Five’, no Globoplay, depois a novela ‘Nos Tempos do Imperador’. O Cao fez mistério sobre uma possível segunda temporada de ‘As Five’… estamos aguardando a reação do público. Também estou analisando alguns roteiros de cinema. E no meio de tudo isso quero ter tempo para pular de paraquedas, fazer espanhol… (por Jaquelini Cornachioni)

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