Por Roberta Sendacz
A coreografia mais recente apresentada pelo Grupo Corpo, em São Paulo, revelou muita antropologia no palco. Trata-se de “Sem Mim”, lançada no ano passado e rememorada em 2012, pelo grupo. “Sem Mim” pode remeter a um amor perdido, a um abandono, a um mudar de ideia de última hora ou a qualquer tipo de ausência. E parece que ela fala da ausência maior: a morte.
Mas nada de trágico, nenhum assassinato, ninguém morrendo no palco. Trata-se de uma produção do sagrado, ao que tudo indica. Nos lembramos de um livro que fala sobre esta morte (sagrada) e menos sobre a morte morrida, e abre para a reflexão sobre a (nossa) natureza e a de outros povos. Chama “Sobre o Sacrifício” e é de Marcel Mauss (século XIX). Uma maravilha: abre a cabeça para pensamentos heterodoxos em relação a temas fortes e esquisitos.
Até existe uma função descrita nos anais da filosofia, sob o nome de “erotismo sagrado”, que é de Georges Bataille e reflete a questão da morte. O “erotismo sagrado” chega a ser equiparado à morte: apenas esta função de erotismo e a morte conseguem levar o homem ao topo de sua completude. Não é para qualquer um.
Trechos do balé “Sem Mim”: