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Por Paulo Sampaio para revista Joyce Pascowitch de maio

Difícil imaginar um personagem mais distante de Cláudia Abreu do que Pamela Parker. Cláudia é carioca, ex-bodyboarder com incursões acadêmicas pela filosofia, e, já há algum tempo, mãe que curte “a confusão” de criar quatro filhos com idades entre 2 e 13 anos. Adora ser atriz, mas se queixa da falta de liberdade na vida pessoal. “Prefiro observar do que ser observada. Isso já foi até tema de reflexão: até que ponto eu escolheria a profissão de novo”, diz ela, que compara a experiência de estar no ar em um novela com a de entrar no olho de um furacão. Pamela, por sua vez, nasceu nos Estados Unidos, foi atriz mirim e logo se tornou uma celebridade. Viveu publicamente o drama da perda da mãe e do primeiro marido, de forma que virou a “orfãzinha da América” e, depois, a “viuvinha”. Agora, já não sabe direito onde termina a fantasia, onde começa a realidade – lida com as duas dimensões como se estivesse permanentemente em frente a uma câmera. Cláudia Abreu é Pamela Parker em “Geração Brasil”, a nova novela das 7 da Globo. “Não quis ir para o lado da loura fútil. Preferi o arquétipo da celebridade americana. Pensei em como seria lidar com a fama em um país que já é tido como o centro do universo e onde as pessoas têm uma autoestima naturalmente privilegiada.” Diante da afetação de Pamela, a atriz achou melhor não adotar uma interpretação naturalista.

Cláudia, 43 anos, ou Cacau, para os íntimos, é o que se pode chamar de uma criatura de sorte. Em um mundo reconhecidamente superlotado, competitivo e estressante, ela garante que se diverte trabalhando. Não só com a criação de personagens como Pamela, que a faz rir o tempo todo, mas também com uma profissão que a coloca a cada trabalho em contato com uma miríade de novas situações, ambientes e pessoas. No começo de Geração Brasil, ela quebrou sua rotina em dez dias de gravações na Califórnia, nos Estados Unidos. “Muitas vezes, quando você faz uma novela, não encontra os colegas fora do universo do trabalho. Em uma situação como a da Califórnia, a gente saía para jantar fora e acabava a noite no quarto do hotel rindo.” Os autores de Geração Brasil, Filipe Miguez e Izabel de Oliveira, estão nas nuvens por ter Cláudia no elenco. A dupla assinou também “Cheias de Charme”, na qual ela fazia Chayene. “Nós saímos encantados daquela primeira experiência com a Cacau. Claro que a gente sempre a quis para fazer a Pamela”, diz Filipe. “Ela é uma atriz seriíssima, questionadora. Acrescentou muito ao personagem depois das conversas que tivemos”, conta Izabel. Murilo Benício faz o marido de Pamela, Jonas Marra, um brasileiro que venceu nos EUA e hoje é CEO de uma empresa de tecnologia.

Mãe de quatro

Dos Estados Unidos, Cláudia controlava o movimento dos filhos, dos funcionários domésticos e o andamento da casa por telefone. Várias ligações por dia. Ser mãe de quatro não foi algo que ela planejou. Ao contrário, diz que nunca se considerou a mais maternal das mulheres. “As coisas foram acontecendo e agora eu fico cada vez mais encantada com a manifestação desse amor que a gente não conhece. Começa do milagre que é uma criança sair de dentro de você. Depois, a alegria de vê-la crescer, se formar e observar as características do temperamento dela. Cada filho tem as suas.” O pai da filharada é o diretor de cinema José Henrique Fonseca, filho do escritor Rubem Fonseca e bonitão eternamente cobiçado pelas culturetes. O casamento, acredita ela, é uma experiência “bacana enquanto vale a pena”. “Não adianta ficar num relacionamento doentio, que faz mal inclusive para os filhos. Eu acho que o que nos une é o amor. Agora: no mundo moderno, ninguém precisa estar preso. Eu sou independente, ele também. ”

O começo da carreira foi na adolescência, quando tio Ovídio, um irmão da mãe dela apaixonado por teatro e com conexões no lendário Tablado, perguntou aos sobrinhos se alguém se interessava em fazer um curso lá. “Naquela época, era uma dificuldade conseguir vaga no Tablado”, lembra Cláudia. Então ela, que era a autêntica garota do Leblon, exímia praticante de bodyboard e musa dos surfistas, disse, sem levar muita fé: “Ah, se tem a vaga, eu vou…”. E foi. Foi, foi, foi. Hoje, dez peças depois, incluindo incursões pela cultuada companhia da diretora Bia Lessa, seu talento parece tão óbvio que ela soa até blasé quando garante que “tudo aconteceu por acaso”. “Geração Brasil” é sua 12ª novela, mas, curiosamente, esse número parece pequeno para o tanto de consagração que ela alcançou. Descontem-se aí os três anos sem aparecer no vídeo, quando teve os dois últimos filhos. A primeira protagonista foi Clara, em “Barriga de Aluguel”, de 1990. Ainda fez cinema, dez filmes, e, no meio de tudo isso, formou-se em filosofia na PUC. Ficou íntima de Nietzsche, Schopenhauer, Heidegger e Hegel, mas não foi suficiente. Quis ler mais, por conta própria.

O outro é o outro

Na conversa com Cláudia Abreu, percebe-se o quanto essa formação a influencia na maneira de argumentar. Por exemplo: quando conversa com a filha Maria, 13 anos, sobre a dependência da menina por gadgets, ela a incentiva a investir em algo mais elaborado: “Explico que ficar postando selfie o tempo todo gera ansiedade. Tento fazê-la entender que, se ela lesse um livro, não precisaria tanto da aprovação alheia. Não dá para depositar suas expectativas no outro. O outro não é você, é o outro”. O pensar filosófico parece acompanhá-la em todos os dilemas. Fazer ou não plástica? Ela racionaliza. “Prefiro trabalhar minha cabeça a ficar neurótica com isso.” Será que é mais complicado lidar com a aparência para quem envelhece publicamente? “O público que me acompanha também envelheceu.” Botox? “Tenho um certo medo de não me reconhecer. Não sou contra dar uma melhorada, mas não quero virar outra pessoa.” O corpo está em dia, embora ela garanta que o único exercício físico que pratica é levantamento de criança. “Comecei a nadar e malho um pouquinho na academia. Só não faço spinning! Gente, aquilo é uma loucura. A música altíssima, a professora aos berros e eu pedalando que nem uma desesperada. Saí da aula ansiosíssima!” Ecologicamente correta, Cláudia procura conscientizar os filhos sobre a importância de se preservar os recursos naturais. Diz, muito divertida, que desenvolveu um TOC ecológico e costuma sair desligando luzes e fechando torneiras pela casa. “A frase ‘Olha a água do planeta!’ já virou um bordão’.”

Os finalmentes

De repente, no espelho do camarim, Cláudia Abreu virou um mulherão. Licença para o clichê: ela é o tipo que cresce diante da câmera. Lança um olhar desafiador para as lentes, tipo sexy e agressivo, seguido de um sorriso que deixa quem está em volta refém de seu magnetismo. Pensar que ela acordou naquele dia às 5h, no Rio, para chegar a São Paulo por volta das 9h30, fazer maquiagem, provar as roupas e conversar com J.P. Tudo isso até as 14h. Será que ela gosta de acordar tão cedo? “Eu gosto de dormir”, sintetiza, acordadíssima.

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