Brenda Valansi, um dos nomes à frente da ArtRio, bateu um papo com o Glamurama sobre as novidades da edição 2018 da feira, que acontece de 26 a 30 de setembro na Marina da Gloria. A empresária desabafa sobre as pedras no caminho, como a “surpresa” que teve neste ano com a taxação das obras de arte vindas do exterior pelos aeroportos – antes se cobrava apenas pelo peso, agora existe uma nova tabela levando em consideração o valor estimado da obra. A diferença pode ser algo do tipo: antes R$ 200, agora R$ 17 mil. E o céu é o limite. Além disso, Brenda fala sobre como vencer o machismo do mercado e comenta o apoio da sociedade que viabilizou a montagem da exposição “QueerMuseu” em terras cariocas, mesmo depois do veto da prefeitura. Vem ler! (por Michelle Licory)
Glamurama: O que a ArtRio traz de novidade nesta edição?
Brenda Valansi: “Um dos principais focos da ArtRio é a valorização da arte brasileira, reforçando a produção artística e a atuação das galerias nacionais. Dessa forma, estreamos em 2018 o programa Brasil Contemporâneo, com curadoria de Bernardo Mosqueira. Serão dez galerias que irão trazer trabalhos de artistas residentes fora do eixo Rio-São Paulo. Será uma excelente oportunidade de dar espaço à produção artística tão rica que temos no país.
Para facilitar o acesso às obras que estarão na feira e estender a experiência da ArtRio durante todo ano, estamos lançando o ArtRio.com, que ultrapassa a esfera da informação e oferece a possibilidade de compra de arte online.
O MIRA, que teve a primeira edição em 2017, esse ano cresce e terá, além de obras em vídeo, também destaque para o som. O curador em 2018 é David Gryn, que também assina a curadoria do programa de vídeo de Miami ArtBasel.
A área de convivência da feira, que é um espaço muito importante para estimular o encontro das pessoas e também uma conversa mais descontraída sobre o evento, será na esplanada da Marina da Glória. O espaço tem assinatura dos arquitetos André Piva e Vanessa Borges. É importante lembrar a relevância da ArtRio para o país e também por marcar a presença e atuação do Brasil no mercado internacional. Mais de 20 curadores internacionais estão presentes na feira”.
Glamurama: Mesmo contra a vontade da prefeitura, “QueerMuseu” veio para o Rio – e é sucesso de público. Gostaria que comentasse esse movimento da sociedade de viabilizar iniciativas que não encontram apoio do governo e em que medida isso também é realidade na ArtRio.
Brenda Valansi: “Todo o apoio da sociedade à realização de ‘QueerMuseu’ na cidade, incluindo o financiamento coletivo, demonstra uma consciência artística amadurecida e esclarecida da população. A arte é plural, é expressa de diferentes formas, sobrevive ao tempo e às mudanças. A arte não aceita rótulos sem fundamentos – e a sociedade entendeu muito bem essa posição. Tirar o acesso à cultura é tirar o direito à informação, à liberdade de expressão. A cultura está arraigada na história da sociedade, e traduz todas as transformações e movimentos ao longo dos anos. A lição que todos tiramos desse total apoio que ‘QueerMuseu’ recebeu da sociedade no Rio de Janeiro é o amadurecimento da população quando falamos de arte, e também o respeito ao trabalho dos artistas”.
Glamurama: É preciso remar muito contra a maré para que a ArtRio continue acontecendo no cenário político atual?
Brenda Valansi: “Desde seu lançamento, a ArtRio sempre encontrou apoio nas três esferas do governo. Mas também realizamos um forte trabalho durante o ano inteiro, e com total transparência. Há sete anos temos um grande banco apresentando o evento, através da lei de incentivo à Cultura. Em 2018, a ArtRio será realizada com seu maior número de empresas patrocinadoras e apoiadoras – reforçando aqui a importância da arte como plataforma de comunicação para as empresas. Nosso grande desafio no Brasil, quando falamos em segmento público, é a política de impostos sobre as obras de arte no país. A taxação está entre as mais altas do mundo e nos coloca em posição de desigualdade frente a outros mercados. Sobre as ‘surpresas’ que encontramos no caminho, como é o caso esse ano da taxação apresentada pelos aeroportos, estamos trabalhando junto a outros grupos para trazer uma solução em nível nacional e definitiva para essa questão, com reuniões e encontros com diversas áreas envolvidas. Não queremos que cada caso seja resolvido individualmente na Justiça, como acontece hoje, trazendo mais transtorno, burocracia e custo para o setor”.
Glamurama: Quais são os resultados desse trabalho que funcionam como recompensas pessoais pra você? Qual seu maior orgulho em relação à feira?
Brenda Valansi: “A maior recompensa eu acho que não é minha, mas de todo o mercado de arte. O Brasil hoje já é visto internacionalmente como um mercado em caminho de amadurecimento, com regras éticas. Ter a ArtRio reconhecida internacionalmente como a feira que colocou o país em evidência nesse mercado internacional da arte é a maior de todas as recompensas e também o gás para continuar trabalhando cada vez mais. Um grande orgulho é ver o grande número de pessoas impactadas pelo evento. Desde crianças tendo sua primeira experiência com arte através do ArtRio social ao moldureiro que na época da feira tem seu ápice de trabalho. É bonito ver a máquina girando e disseminar oportunidades”.
Glamurama: A gente vê muitas galeristas importantes mulheres. A artista brasileira mais valorizada internacionalmente é uma mulher, Beatriz Milhazes. Se a gente olhar o mercado da arte como um todo, podemos dizer que não existe machismo? Qual a sua experiência pessoal?
Brenda Valansi: “Claro que existe machismo. Movimentos importantes fizeram com que percebêssemos a desigualdade na arte entre homens e mulheres, e estamos lutando! Acabou de ter no MASP a retrospectiva da Guerrilla Girls, coletivo feminista, e em breve na Pinacoteca a exposição ‘Radical Women’. Este ano optei em ter uma ArtRio mais feminina que nunca, chamei curadoras para trabalhar, o Solo será na sua maioria composto por artistas mulheres. Acho que nós mulheres devemos nos prestigiar. A minha experiência pessoal é ir à luta. Eu tenho um orgulho enorme de ser mulher, empresária, mãe, e estar à frente da ArtRio desde seu lançamento, em 2010. Infelizmente machismo existe em todos os meios. As pessoas tendem a achar que uma mulher bonita obtém o sucesso se utilizando da beleza, e ignoram a trajetória dura necessária para chegar lá. A melhor resposta que toda mulher pode dar é fazer, produzir, realizar. Nossa resposta está em nossas realizações e em nosso sucesso, e a beleza é a consequência da vida que levamos”.