Mesmo sem a vasta cabeleira descolorida e após 13 anos do lançamento de “Cidade de Deus”, Phellipe Haagensen ainda é reconhecido como Benê, o traficante mais carismático do filme de Fernando Meirelles. O personagem foi um divisor de águas na carreira do ator. Com 31 anos e seis filhos, Phellipe continua morando no Vidigal, comunidade do Rio de Janeiro onde nasceu, mas hoje divide sua carreira de ator com a de músico – ele canta em um projeto que leva seu nome e ainda toca e dá aulas de bateria. Em conversa com o Glamurama, Haagensen falou sobre a fama repentina e criticou o os papéis que chegavam para ele: “Só empregado, bandido ou viciado”.
Por Denise Meira do Amaral
Glamurama – Como foi participar de um filme como “Cidade de Deus”, que virou um sucesso estrondoso, tanto aqui quanto lá fora?
Phellipe Haagensen – Fui abençoado com o personagem. Foi muito gratificante fazer parte de um filme que até hoje é considerado um dos maiores do cinema nacional. Fora que era tudo grandioso, a gente trabalhava com steady cam, helicópteros, gruas enormes. Foi um grande laboratório. Como o único ator com experiência mesmo no elenco era Matheus Nachtergaele, foi uma grande troca também. Eu, que já tinha estudado teatro por cinco anos no “Nós do Morro” [escola de teatro no Vidigal], acabei ajudando os meninos que nunca tinham atuado.
Glamurama – Como foi lidar com a fama, aos 17 anos?
Phellipe Haagensen – Eu era o Phellipe. Depois eu me transformei em um popstart, da noite para o dia. Fui para muitas festas, ganhei carro, mas eu não estava preparado pra a fama. O assédio me incomodou um pouco. Eu, que já era tímido, fiquei ainda mais. Mas por outro lado, fui fazer convidado para fazer trabalhos em Los Angeles, Barcelona, Peru, Estados Unidos. Fiz cinco filmes internacionais depois de “Cidade de Deus”.
Glamurama – E por que nenhum nacional?
Phellipe Haagensen – Porque todos os filmes que apareciam eram de uma maneira que eu não queria. Queria mudar esse ponto de vista do gueto ser visto só como empregado, bandido ou viciado. Depois de “Cidade de Deus”, viraram moda os filmes de violência. Teve “Carandiru”, “Tropa de Elite”, até a novela “Avenida Brasil”. Acho que a violência virou tanto deboche quanto a política brasileira. Quero mudar essa imagem. A gente também faz faculdade, a gente tem parque ecológico, biblioteca, o “Nós do Morro”. Eu, por exemplo, escolhi a música. Estudei seis anos no Villa Lobos [escola de música no Vidigal]. Me formei e hoje em dia eu dou aula para a molecada aqui. E também estou com um projeto solo, o Phellipe Haagensen, em que eu canto ao lado da minha banda. Eu também componho algumas músicas. [O show de estreia da banda dele acontece no dia 18 de agosto, em Goiânia].
Glamurama – Você sente saudades do Benê?
Phellipe Haagensen – Não, porque eu vejo o filme direto. Volta e meia ele passa na televisão. E sempre tem uma criança nova que nunca viu e que comenta comigo. Meus filhos [Luiz, Giovanna, Kaike, Kaun, Bredom e Katiana] também adoram o Benê, se divertem com o cabelo e com as roupas coloridas dele.
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O último trabalho de Phellipe na TV foi em “Força-Tarefa”, em 2011, na Globo. Ele também participou das séries “Casos e Acasos”, “Cidade dos Homens”, “Brava Gente”, além das novelas da Record “Vidas Opostas” e “Vidas em Jogo”.