Barbara Paz estreia nesta quinta-feira no Teatro Poeira, no Rio, “Heisenberg – A Teoria da Incerteza” , de Simon Stephens, dirigida por Guilherme Piva, com tradução e adaptação de Solange Badim. No texto, física quântica como pano de fundo para contar a história de um casal inusitado, um homem mais velho – descrito como um “herói inibido” – e uma mulher excêntrica mais jovem: dois solitários que enxergam nesse encontro, com suas surpresas e também dissabores, a possibilidade de “significar” suas existências. Para entender melhor, vem ler nossa entrevista com Barbara! (por Michelle Licory)
Glamurama: Para você, existe “alma gêmea” ou tudo é casualidade? Como acredita que aconteceu na sua vida? O que é destino, o que é escolha e o que é acaso?
Barbara Paz: “Acredito que existe um grande amor, e existem amores. Ainda é cedo para dizer quantos eu amei. E se foi só um ou se foram muitos. Eu imagino que já amei bastante e pretendo amar muito mais. A vida é feita para se dividir. Só consigo ver a vida assim, compartilhada. Acredito no destino, mas você precisa ajuda-lo também, dar um empurrãozinho. Estar com os olhos abertos, como diz a peça. É tudo uma questão de manter os olhos abertos. Mesmo que pareça impossível, tente”.
Glamurama: Já buscou respostas na física quântica? A Teoria da Incerteza usada pra falar do inusitado, na sua opinião, explica muita coisa?
Barbara Paz: “A física quântica é dita como não intuitiva. Isso significa que determinadas coisas são verdadeiras mesmo quando aparentam não ser. A Teoria da Incerteza diz que se você presta atenção para onde uma coisa está indo ou a que velocidade está indo, você deixa de ver a coisa em si. Essa peça brinca com isso. Quando duas pessoas tão diferentes se encontram, o que acontece? Qual a reação que isso gera nelas? O texto tem um humor ácido, nostálgico. A minha personagem é bipolar, sem noção, triste-alegre, impulsiva. Ela joga com todas as suas fichas para tentar encontrar alguém, algo para sentir. Brinca com as mentiras, com a teoria que nada é o que parece. No espetáculo, são seis pequenas esquetes sobre o tempo, sobre encontros”.
Glamurama: De acordo com o release, “o texto aborda o encontro entre um homem e uma mulher que, circunscritos à solidão e ao tédio, enxergam nesse encontro a possibilidade de significar suas existências e o próprio mundo”. Para você, “é impossível ser feliz sozinho”?
Barbara Paz: “Sim, a peça é sobre o encontro, sobre o tempo, sobre como o outro modifica a gente. É alegre esse encontro, é estranho, é diferente, é contemporâneo. Ela é jovem, ele é velho. Ele é o tempo, ela é a energia. O que acontece nessa junção? Digo na peça que disso eu entendo. Sou PhD em encontros inusitados. De diferentes gerações [a atriz foi casada com o cineasta Hector Babenco, quase 30 anos mais velho, que faleceu em 2016]. A solidão precisa existir para que a poesia exista, mas ser sozinha não está nos meus planos. Seria muito triste a vida. A solidão que gosto e procuro é a dois… Um em cada sofá lendo seus próprios livros, suas próprias histórias. E de vez em quando os olhares se cruzarem. Essa solidão eu gosto e preciso”.
Glamurama: Acha que nos tornamos pessoas diferentes de acordo com quem a gente se relaciona? Essa troca gera uma transformação em quem a gente é?
Barbara Paz: “Sem dúvida. Nos tornamos melhores e maiores, evoluímos com o outro”.
Glamurama: Dá pra descrever também a Barbara Paz como um “trem descarrilhado de emoções” – como a personagem? Você tem, na sua vida particular, essas tintas tão fortes que você coloca para fora nos seus trabalhos?
Barbara Paz: “Se eu sou um trem descarrilhado de emoções? Talvez, mas prefiro colocar nos personagens isso tudo. Na minha vida, nada foi fácil, nada foi suave. Mas já percebi que é isso mesmo, que se as cores são fortes é porque meu quadro é significativo de alguma forma. E eu tenho os pincéis certos para pinta-lo como eu quiser”.
Glamurama: Quais são as três “emoções” que te definem hoje? Em que momento de vida você está?
Barbara Paz: “Eu sou um composto de sensações: amor, loucura, alegria, tristeza. prazer, prazer, prazer… Estou numa fase de reconstrução, me redescobrindo, ‘nascendo a cada minuto para eterna novidade do mundo'”.
Glamurama: Você fala nos silêncios e nas entrelinhas [como a proposta da peça] ou é intensa demais pra isso? Como foi trabalhar essas reações e sutilezas no palco?
Barbara Paz: “Preciso do silencio para falar. Meus olhos já dizem muito. As sutilezas estão entre uma fala e outra, no que não é dito. Mas nessa peça falo em demasia. A personagem é tagarela, desbocada. Trago minha palhaça interior para esse papel. Esse texto tem muito humor. Estou me divertindo fazendo porque esse espetáculo é feito de silêncios e risos, assim como eu na vida”.
Glamurama: De novo, “excêntrica” se aplica a uma personagem sua no teatro. Você busca esse perfil de papel ou eles simplesmente acham você? Fazer a normalzinha é chato demais para uma atriz da sua intensidade?
Barbara Paz: “Não procuro o óbvio, e nem sempre ele me encontra. Já textos como esse chegam até mim. Esses personagens é que me procuram – e me empresto para todos eles. Esse foi um convite muito especial porque era um projeto de uma grande atriz, Solange Badim, que infelizmente acabou falecendo muito cedo ano passado. Era nesse texto que ela estava trabalhando, foi ela quem traduziu e ela que comprou os direitos. Essa montagem é uma homenagem a ela, a esse sonho dela. Os amigos e a família se reuniram e decidiram continuar com a montagem porque é assim que ela gostaria, e então me convidaram. Uma honra, uma homenagem a ela e ao teatro que mantém todos nós vivos. O teatro é meu oxigênio”.
Glamurama: Tem outros projetos de trabalho em vista para depois da peça?
Barbara Paz: “Enquanto faço teatro, continuo a montagem do documentário que estou dirigindo e que estava fazendo com Hector. ‘Day by day’ decantando essa história. Estreio no segundo semestre a terceira temporada da ‘Arte do Encontro’ no Canal Brasil, dirigido por Felipe Nepomuceno, no qual divido a bancada com o Tony Ramos . É um programa que gosto muito, que fala de existência, de poesia, teatro… Uma pequena pausa para o encontro e o silêncio que eles trazem”.