Obedecer a uma ordem causa culpa em você? Fazer o que é imposto pela lei me torna mal? Já se perguntou o que é o mal e como ele se manifesta? Essa é uma reflexão que partiu de um caso extraordinário jurídico, em que o ex-oficial da Schutzstaffel, organização paramilitar nazista mais conhecida como SS, Otto Adolf Eichmann, foi acusado por diversos crimes contra a humanidade.
Eichmann era mais um “mais um cidadão José, servindo o estado pm bom” parafraseando a música ‘Diário de um Detendo’ dos Racionais MC’s, um sujeito perfeitamente medíocre e comum que não apresentava nenhuma particularidade gritante, tão pouco se apresentava como uma grande ameaça à humanidade como alguém maligno, era só mais um funcionário do estado que alegava cumprir suas obrigações sem se questionar, afinal, aquele era o trabalho dele e aquelas eram as leis daquela época. Seu crime? Eichmann nunca feriu, atirou ou bateu diretamente em um judeu, ele era responsável pela logística de transporte dos capturados para os campos de concentração. Não era a máquina nazista, mas fazia a engrenagem funcionar.
A filósofa alemã, aluna de Martin Heidegger e de etnia semita (judia), Hannah Arendtm, que se refugiou nos Estados Unidos durante a segunda guerra, foi posteriormente (na década de 1960) contratada pelo ‘The New Yorker’ para cobrir o julgamento de Eichmann, em Israel. Curiosamente, ela escreveu uma série de artigos para o jornal que acabou se tornando um livro “Eichmann em Jerusalém”, no qual trabalha um termo muito curioso, a Banalidade do Mal.
A ideia que temos sobre o mal é de uma energia corrupta que carrega consigo a dor, o desconforto, a destruição, o ódio e a tristeza ou, ainda, uma característica do coração daqueles que são repugnantes à sociedade. Essa é uma definição clichê para um entendimento social de como o mal se manifesta entre nós, seja pelo pensamento da banalização descrito por Arendt, em que as pessoas não se preocupam se suas ações estão sendo más ou boas, elas simplesmente agem sem pensar – ou seja, o mal está em não pensar e refletir sobre a ação. Ou então como o do condenado a enforcamento Eichmann. Ele alegou durante o julgamento que não tinha culpa de nada, que não era um monstro tal qual era acusado, tão pouco transparecia uma aura antissemita, se defendia dizendo que “estava apenas cumprindo ordens” e “A lei era assim”. A a obediência cega alegada por ele foi fundamental para a prática de um mal irreparável na história, que ironicamente foi banalizado pela falta do ‘pensar’.
O mal ganha espaço quando não pensamos, quando não debatemos conosco sobre o “eu deveria fazer isso mesmo?”. Quando essa questão se torna mecânica (a ação em reflexo da obediência), o mais comum e normal “pai de família” pode cometer atrocidades tais quais o ex oficial da SS que apenas cumpria seu trabalho, e quando só cumprimos estamos dando espaço para o mal, desde mentir a mando do patrão dizendo à sua esposa que ele ainda está na firma quando na verdade ele já embora, até a omissão de um crime fiscal ou integridade à honra de seu amigo de trabalho.
O que podemos refletir de tudo isso? Se não buscarmos o fruto do “bem” que brota da reflexão deixaremos livre um campo para o plantio do mal pelas ordens de outro. Não obedeça a nada cegamente, sempre questione! Mesmo que internamente, isso faz toda a diferença.