Depois de 18 anos do grande sucesso em “Que Mistérios tem Clarice”, atriz Rita Elmôr retoma o universo da escritora em nova peça. Em “Clarice Lispector & Eu – o Mundo Não é Chato”, que estreou nesse sábado no Teatro Poeirinha, em Botafogo, ela surgiu novamente caracterizada como Clarice. E é a incrível semelhança física entre as duas que o espetáculo gira em torno. Não à toa, ela vem sendo confundida com fotos da própria escritora em publicações de várias partes do mundo. Confira entrevista.
Glamurama – Como é reencenar Clarice 18 anos depois?
Rita Elmôr – Na primeira montagem eu estreei como atriz e agora estou estreando como dramaturga. Pela primeira vez estou encenando textos que escrevi, além dos textos da própria Clarice Lispector que adaptei. É uma experiência teatral nova que mais uma vez vivo ao lado de Clarice. Sempre ela pra me dar coragem.
Glamurama – Em que você e Clarice se parecem?
Rita Elmôr – Fisicamente prefiro que os outros me digam, mas interiormente cheguei à conclusão de que é o desencaixe. Sou uma desencaixada por natureza. Finalmente consegui dar nome ao que sinto. A Clarice se sentia uma estrangeira aonde quer que fosse. Ela chama de “estrangeiro” o que chamo de “desencaixe”. É um desconforto existencial, mas também tem a sua graça. A maturidade me ensinou a ter mais leveza. Estou até conseguindo falar disso em cena. Nem eu acredito!
Glamurama – Você já se deparou com fotos suas em jornais e revistas como se fossem Clarice?
Rita Elmôr – Muitas vezes. Se você colocar no Google “Clarice Lispector”, vai encontrar muitas fotos minhas. Eu digo na peça que preciso de solidão porque me perco no outro, e que até gosto de me perder no outro. Talvez por isso tenha me tornado atriz, mas nunca pensei que isso fosse tão longe. A Clarice ganhou um novo rosto, o meu. Isso não tem mais volta. Pesquisando para a exposição sobre esse tema no foyer do teatro, chegamos à conclusão de que as minhas fotos viraram dela. As minhas fotos estão em milhares de sites, publicações do Brasil inteiro e de todos os países que fizeram alguma matéria sobre a obra da Clarice. Tem uma publicação que diz assim: “Essa é a foto verdadeira de Clarice Lispector” e lá estou eu! Em outra tem a data em que ela tirou a ‘minha foto’. Já me pediram autorização para usar uma foto minha num cartaz de uma peça sobre a Clarice. O curioso é que a pessoa sabia que aquela imagem da foto não era dela. Nunca entendi isso. É claro que tive que falar sobre isso na peça. (Por Denise Meira do Amaral)
“Clarice Lispector & eu – o mundo não é chato”
Até 30 de outubro no Teatro Poeirinha – Rua São João Batista, 104 – Botafogo