A atmosfera doméstica está no trabalho de Ana Elisa Egreja desde a época em que era estudante de artes plásticas na Faap, em São Paulo, quando seu interesse se voltou para os cantos do próprio lar, entre janelas e revestimentos. Tendo como referência pintores holandeses do século 17, que retratavam cenas cotidianas, a artista conseguiu se aprofundar no tema quando fez da casa dos avós paternos, já falecidos, seu ateliê: os cômodos vazios e os objetos abandonados, então, ganharam mais evidência. Após o imóvel ser vendido, com a mudança para a rua Augusta – onde estabeleceu o novo estúdio, em 2018 – e a impossibilidade de visitar outras residências por conta da pandemia, ela se concentrou em seu acervo, com pastas e pastas de referências, que vão de padrões de tapetes a azulejos. Habituada a pinturas de grandes dimensões, volta e meia ela se detém nos pequenos formatos, como a série de 30 saboneteiras que ocupam telas diminutas e refletem a melancolia que se impôs com a Covid-19. “A pintura é inventada a partir de um arquivo de imagens, mas há um dispositivo afetivo que transporta para a casa dos avós”, explica.