Ouvir as músicas de Letrux é estar no rolê com personagens que se envolvem em tramas de amor, sexo, desilusões, algumas roubadas e muito fervo. Seus dois álbuns-solo – Letrux em Noite de Climão (2017) e Letrux aos Prantos (2020) – são crônicas dramáticas e debochadas, que vão do êxtase às lágrimas em questão de linhas. E essa sensação de “canção que se lê” dos discos da artista não é à toa: além de cantora e compositora, ela assegura que, acima de tudo, é uma escritora.
“Quando componho um álbum penso como se fosse uma estrutura narrativa de romance mesmo, com início, meio e fim”, diz a carioca Letrux, autora de dois livros: Zaralha – Abri Minha Pasta (2015) e Tudo que já Nadei (2021). “Música e poesia são minhas paixões. As pessoas às vezes tratam como se fosse poesia uma coisa chata, mas tem cada texto maravilhoso, engraçado e profundo.”
Na noite desta terça-feira (23), no Blue Note, em São Paulo, e na quinta (25), na Biblioteca Parque Estadual, no Rio, Letrux celebra suas duas paixões no espetáculo Línguas e Poesias, onde declama – e canta – alguns dos principais autores de sua formação. No palco, a artista performa textos de Sylvia Plath, Carlos Drummond de Andrade, Julio Cortázar, entre outros. Tudo isso tendo como ponto de partida a música.
“Meu trabalho é muito autoral, então esse é meu show como intérprete. É uma possíbilidade que criei para ler e cantar gente morta, viva, estrangeira, brasileira… Leio uma ou outra coisa minha, mas prefiro passear pelos escritos de outras pessoas”, explica ela, que acaba de voltar de uma turnê pela Europa com as músicas de Climão e Prantos.
Paralamas com Hilda Hilst
Embalada pelos arranjos de Thiago Vivas, no piano, e Lourenço Vasconcellos, no vibrafone, Letrux faz misturas inusitadas como uma versão de “Uns Dias”, dos Paralamas do Sucesso, com um trecho de Balada de Alzira XIII, de Hilda Hilst. “Tem uma parte desse poema da Hilda que diz: ‘Existe sempre o mar sepultando pássaros’. Aquilo fez muito sentido para mim com a música”, conta.
Além das misturas, Letrux comete outras ousadias, como uma tradução literal para o português de Fake Plastic Trees, do Radiohead. “É um dos trechos mais engraçados e emocionantes do show. Quando começa a tocar a música, niguém espera que vá entrar algo em português.”
Na apresentação a cantora também recita poemas em francês, italiano e espanhol. “Minha mãe é professora de francês, então sempre fui incentivada a passear por outros idiomas”. Nesses passeios pelas línguas foi que ela descobriu nomes como o dopoeta vietnamita Ocean Vuong e o da compositora cubana La Lupe – ambos inclusos no repertório do show.
Além de cantora, compositora e, claro, escritora, Letrux é atriz. Já participou de peças, filmes e novelas. Seus trabalhos mais recentes são as séries Dois Tempos, da diretora Vera Egito, que deve estrear em outubro, no canal Star +, e A Vida pela Frente, da Globoplay, dirigida por Leandra Leal e Bruno Safadi, com lançamento previsto para o próximo ano.
Novo álbum – ou livro – ainda estão sem previsão de estreia, já que Letrux quer levar os shows de seus dois discos para o Norte e Nordeste do país. “Será um compilado dos dois. Um Letrux Redux“, diz, mais uma vez, brincando com as palavras do jeito que ela gosta.
Serviço
Letrux – Línguas e Poesias
São Paulo
Quando: 23/08, às 20h
Onde: Blue Note – Avenida Paulista, 2073, 2º andar, Bela Vista
Ingressos: R$ 120 em www.eventim.com.br
Rio de Janeiro
Quando: 26/08, às 18h
Onde: Biblioteca Parque Estadual – Avenida Presidente Vargas, 1261, Centro
Ingressos: Entrada gratuita