Neste ano, a Globo passou por uma profunda reestruturação e grandes nomes da dramaturgia, como Vera Fischer, Miguel Falabella e Antônio Fagundes tiveram seus contratos cancelados. Aos 71 anos, Fagundes deu uma entrevista à Veja em que revelou como se sentiu após ser dispensado pela emissora depois de mais de cinco décadas de serviços prestados, mais de 30 novelas e incontáveis minisséries.
Sem mágoas, o ator disse que entende o novo momento: “Todos esses anos de casa foram bons para mim e, claro, para a empresa também. Logo que entrei na Globo, passei um período contratado por obra, por minha opção. Queria ter liberdade de fazer só o que me interessasse. Com o tempo me rendi, até porque tinha conquistado certa independência na escolha dos trabalhos. Só que a empresa mudou sua forma operacional. Entendo que não é específico comigo, que não fui mandado embora porque não sirvo mais. Até porque já estão querendo me contratar para o remake da novela ‘Pantanal’, no ano que vem”.
Apesar disso, Fagundes acredita que a emissora está arriscando seu próprio patrimônio e pode perder o público fiel que sempre teve: “A TV Globo está se desfazendo de seu patrimônio e arriscando sua história. Comparando, é como se um museu que durante décadas expôs a Monalisa de repente resolvesse se desfazer justamente dela. Pode ser bom, do ponto de vista administrativo e financeiro, mas corre-se um grande risco. A Globo não é uma fábrica de sapatos, trabalha com arte, emoção e fidelidade. Durante 50 anos, o público assistiu essas pessoas e tem um carinho especial por elas. É como se a empresa propusesse esquecer todo o passado e começar o futuro”.
O último trabalho de Antônio Fagundes na emissora foi em “Se Eu Fechar Os Olhos Agora” e “Bom Sucesso”, ambos em 2019. Sem contrato, o ator não nega que já foi sondado por outras empresas e está aberto a diferentes projetos. “Posso dizer que estão acontecendo sondagens e propostas, e estou muito bem e livre para aceitar o que quiser. São convites não só de outras emissoras, mas de plataformas de streaming e para fazer cinema. Tenho a intenção ainda de produzir longas-metragens”.
No final do bate-papo, o ator ainda comentou sobre política, em especial sobre sua previsão de que Regina Duarte poderia ‘se queimar’ ao assumir o cargo de Secretária da Cultura. “Não se queimou só de um lado, mas de todos, inclusive com aquelas pessoas que dizia apoiar. Elas a mandaram para fora do governo de uma forma bem feia. Aliás, como sempre fazem”, começou. Sobre Mario Frias, ele não teve papas na língua: “Não estou tirando o corpo fora, mas nunca vi nada desse rapaz como ator. Sou absolutamente contra a ideia de chamar um artista para a Secretaria de Cultura. São universos opostos”.