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Antonio Fagundes em papeis icônicos Bruno Mezenga em “O Rei do Gado”(1996-97), Caio em “Rainha da Sucata”(1990), como Ivan Meireles em “Vale Tudo”(1988-89) e Juvenal Antena em “Duas Caras”(2007-08) || Créditos: Reprodução

O relógio marcava 16h quando tocou o telefone da redação. Era Antonio Fagundes, pontualíssimo com seu compromisso com o Glamurama. O gancho da entrevista? O lançamento de “Antonio Fagundes no Palco da História: Um Ator”, livro escrito por Rosangela Patriota que conta história dos 50 anos de carreira do ator de 69 anos tendo as mudanças no Brasil como pano de fundo. Os lançamentos estão confirmados para São Paulo, dia 8, e Rio de Janeiro, 16 de agosto, ambos com a presença do ator. Para já fazer um “esquenta”, confira nosso papo com ele, em que pontuamos os melhores momentos da carreira do ator que permaneceu por mais tempo no posto de galã da Globo e suas opiniões sobre vários assuntos… Espia só!

Glamurama: Nestes 50 anos de carreira, o que você destacaria como “os momentos mais importantes”?
Antonio Fagundes: “É tanto tempo que a gente fica meio temeroso de destacar só alguns. O livro foca um pouco mais em um período grande da minha carreira, os dez anos em que me dediquei a Companhia Estável de Repertório (CER), durante a década de 1980. Foi um tempo importante para mim porque foi quando realizei grandes sonhos de comunicação com a plateia. Tive com a companhia 150 mil espectadores cadastrados, cheguei a fazer ensaios abertos para mil pessoas. Espetáculos de casa lotada de quarta-feira a domingo. Foi nesse período que meu contato com o público começou a se intensificar, foi um momento de realização.”

Glamurama: Você gostaria de retomar a Companhia? 
Antonio Fagundes: “O Brasil é um pais que castiga quem produz e essa é uma característica que inviabiliza qualquer projeto a longo prazo. Só não dei continuidade ao projeto porque percebi que era uma estrutura que estava sendo custosa demais. O país me impediu de continuar pela falta de educação e de cultura que há aqui. A falta de interesse de todos os governos que já passaram pelo Brasil em estimular a cultura faz com que projetos como esse não caminhem para frente… Mas como a gente é louco e adora o que faz, continua fazendo.”

“Antonio Fagundes no palco da história: um ator” || Créditos: Divulgação

Glamurama: Como foi o processo de entrevistas e pesquisas feitas por Rosangela Patriota para escrever sua biografia?
Antonio Fagundes: “Ela fez comigo uma enorme entrevista no começo do processo, em que pegou vários fatos da minha vida. Inicialmente o livro falaria apenas sobre a Companhia, mas quando ela notou a quantidade de assuntos, acabamos mudando para uma biografia. Rosangela fez uma imensa pesquisa e deve ter tido muito trabalho para isso porque sou muito desorganizado. Não tinha nada guardado: críticas, fotos, artigos… O resultado desse livro é
inteiramente mérito dela.”

Glamurama: Detalhes sobre a sua vida pessoal também são retratados?
Antonio Fagundes:
“O livro é mais focado no meu trabalho, mas ela pincela alguns momentos, sim. É bem completo, são 488 páginas! Brinco que é um livro que para em pé por seu tamanho (risos).”

Glamurama: São 488 páginas! Ficou faltando algo a ser contado?
Antonio Fagundes: “Alguma coisa sempre falta, mas Rosangela conseguiu fazer um apanhado muito amplo e bem contextualizado do que aconteceu comigo, usando minha carreira para contar um painel maior sobre a história do teatro no Brasil nos últimos 50 anos. Alguns assuntos devem ser polêmicos e render boas discussões.”

Glamurama: O livro faz revelações? Conta algo pra gente.
Antonio Fagundes: “Tenho uma postura bem diferenciada dentro da classe teatral. Trabalho sem patrocínio, me baseando na comunicação com o público, e isso sempre criou um certo mal-estar porque a impressão que dá é que só consigo fazer isso porque fiz TV. Naturalmente, quando a autora faz uma análise sobre essa minha postura diante do mercado, talvez toque em alguns assuntos polêmicos.”

Glamurama: Foi difícil o processo de se abrir e mexer no passado?
Antonio Fagundes: “Pelo contrário. Tenho um apreço muito grande por cada conquista porque sei que cada uma delas foi muito difícil de ser finalizada. Ainda tenho objetivos claros.”

Glamurama: Ao longo da sua vida você se evolveu em poucas polêmicas, o que é difícil para uma pessoa pública. Você diria que soube lidar bem com exposição durante todos esse anos? 
Antonio Fagundes: “Eu devo ter sido poupado disso porque minha intenção não é e nunca foi a exposição. A minha ideia é me comunicar com o maior número possível de pessoas pelo meu trabalho. Como só estou me comunicando através dele, fica mais fácil não me envolver em polêmicas.”

Glamurama: O país passou por grandes transformações em todos esses anos, e a profissão de ator também. Como você observa essas mudanças? 
Antonio Fagundes: “Estamos em uma fase difícil, de transição. Os veículos de comunicação atualmente vão desembocar em alguma coisa que, pela proximidade, não conseguimos saber o que é. Hoje em dia crianças se perdem dentro de uma caverna na Tailândia e você acompanha ao vivo tudo o que está acontecendo. Há 20 anos você nem ficaria sabendo. É claro que isso muda a relação com o mundo. O homem é um contador e um ouvinte de histórias. Sempre ouvi falar que o teatro está morrendo, mas já tivemos uma série de revoluções na comunicação (rádio, TV, DVD, vídeo cassete…) e o teatro resiste com seu poder de prender a atenção de pessoas com histórias que as transportam para outros mundos.”

Glamurama: A vida do ator era mais fácil antes ou hoje?
Antonio Fagundes: “Sempre foi difícil, por razões diferentes. Na minha época o número de atores era bem menor, e acho que isso gerava mais exigências. Quando o ator entrava na produção tinha que vir com um conhecimento e uma prática que hoje quase não se vê nos principiantes.”

Glamurama: Os novos atores ganham muito dinheiro como influencers… Acha que, se não houver muito foco, isso pode atrapalhar na carreira de ator?
Antonio Fagundes: “Eles vão perceber que há uma diferença entre fama e sucesso. Famoso todo mundo pode ser, mas manter esse sucesso é que é o verdadeiro trabalho. A cada papel você pode estar se renovando ou se destruindo. A qualidade do seu trabalho independe de você estar ou não batendo recorde nas redes sociais.”

Glamurama: Que conselho daria para jovens atores?
Antonio Fagundes: “Alguns gostam disso e se realizam dessa forma. Cada um segue seu objetivo. O que eu falei não é nem uma critica, é uma constatação. O importante é estar atento a seu objetivo e não se iludir achando que está fazendo uma coisa e na verdade está fazendo outra.”

Glamurama: Você foi um dos galãs que se mantiveram no posto por mais tempo e hoje o título parece não ter mais tanto peso. Em algumas novelas é até difícil identificar quem é o galã. Esse personagem deixou de existir?
Antonio Fagundes: “Aconteceu uma coisa engraçada com a dramaturgia nos últimos tempos que foi a valorização do vilão. Hoje em dia, o sonho de qualquer ator é ser vilão, enquanto na nossa época a gente queria ser o mocinho, aquele que resolvia os problemas, com quem o telespectador gostaria de se identificar, que eram os namorados das ‘mocinhas’ – que são as protagonistas. Isso mudou. Atualmente você não reconhece mais o galã.”

Glamurama: Fazer o papel de vilão é mais fácil então?
Antonio Fagundes: “Com certeza. O difícil é você convencer que você é bom caráter. Sempre digo que o prêmio deve ser dado para a Branca de Neve, que é muito mais difícil de fazer e não para a bruxa. O mocinho/herói luta com muito menos armas do que o vilão. É muito mais difícil defender um caminho íntegro e cheio de ética e, ainda assim, não chatear o público, do que aquele que rouba, mata, engana…”

Glamurama: Quem seriam os galãs de hoje em dia?
Antonio Fagundes: “Tem um monte de gente por aí que faz muito sucesso, como Cauã Reymond e Murilo Benício.”

Glamurama: O fato de você ser um cara bonito, charmoso, ajudou de alguma forma a conseguir papeis mais legais?
Antonio Fagundes: “Sempre brinquei que eu nunca fui meu tipo de homem. Nunca me elegeria para nada. Isso é uma coisa que nunca me preocupou muito. Consegui fazer personagens em que essa característica não era tão importante. Sempre me preocupei mais com o interior do personagem do que se ele se vestia bem ou não, por exemplo.”

Glamurama: Você tem um bom relacionamento com suas ex-mulheres, atua com Mara Carvalho e com seu filho Bruno em “Baixa Terapia”… Qual o segredo para esse espírito agregador, família?
Antonio Fagundes: “A gente não constrói isso sozinho. Tem o mérito dos outros lados também. É preciso carinho, respeito, compaixão… Compaixão é uma palavra muito bonita que as pessoas desacostumaram a usar. Se você é capaz de sofrer junto, é capaz de entender o outro.”

Glamurama: Aproveitando que o Dia dos Pais está aí, como compara a paternidade nos dias de hoje com período em que se tornou pai?
Antonio Fagundes: “Tenho pena dos que estão sendo pais hoje em dia porque estão enfrentando um mundo complicado de se viver no sentido da educação, da orientação… Sinto que os pais jovens têm dificuldades de orientar seus filhos por causa da internet e redes sociais. É uma fase de transição que não sabemos onde vai dar.”

Glamurama: Foram muitos papeis marcantes ao longo da sua carreira: Rei do Gado, Juvenal Antena, Pedro (carga pesada)… Por qual você sente mais carinho?
Antonio Fagundes: “É tão difícil… Tenho carinho especial pelo Cyrano de Bergerac, um clássico da dramaturgia francesa do século 19 que é o personagem mais completo, sonho de todo ator fazê-lo e fui o único no Brasil a ter essa honra. É uma peça que tem um custo absurdo, são 36 atores em cena, e eu consegui. Mas não dá para eleger um sem lembrar de todos os outros que estão dentro de um processo que só vai se encerrar quando eu morrer.”

Glamurama: Temos a sensação de que você sempre está envolvido em algum projeto (tv/teatro ou cinema), tipo workaholic. Você pensa em reduzir esse ritmo ou até se aposentar?
Antonio Fagundes: “Quando você diz ‘workaholic’ se refere a alguém viciado em trabalho, em um processo exaustivo, e esse não é o meu caso. Eu me canso, mas tenho tanto prazer no que faço que não consigo recusar um bom trabalho. Por isso estou sempre metido em um monte de coisa. E se aparecer mais um projeto, vou me envolver por prazer. É tão raro você encontrar uma pessoa que tenha prazer no que faz…”

Glamurama: Em quais projetos está envolvido?
Antonio Fagundes: “Na minissérie ‘Se eu Fechar os Olhos Agora’, que estreia em breve na Globo, no teatro com a peça ‘Baixa Terapia’ e com o filme “Contra Parede”, o primeiro que produzi e que vai ao ar de forma inédita no dia 11 de agosto no Supercine da Globo. Conta a história de um âncora de TV (interpretado por mim), que é amigo íntimo de dois candidatos à presidência e se vê ‘contra a parede’ quando um acidente de carro acontece.” [trailer abaixo].

Glamurama: Mesmo com grande experiência em produção de teatro, como foi estrear na produção de um filme?
Antonio Fagundes:
“Foi uma experiência maravilhosa. Tive uma equipe extraordinária e direção de Paulo Ponce, que também co-produziu. Sempre quis produzir um filme mas achava que não teria paciência, pois é um processo muito mais complicado que teatro, até que resolvi arregaçar as mangas. E está valendo a pena.” (Por Julia Moura)

 

 

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