Figurinista do longa “L.O.C.A”, Marininha Franco fala dos bastidores da produção e dá dicas de espertas de estilo

Roberta Rodrigues (Rebeca), Debora Lamm (Elena) e Mariana Ximenes (Manoela) || Créditos: Divulgação

O ano de 2019 nem começou e já temos um filme na nossa lista. Trata-se de “L.O.C.A.” (Liga das Obsessivas Compulsivas por Amor), comédia escrita, produzida, dirigida e protagonizada por mulheres, que promete mudar a ideia que temos de comédia romântica. “L.O.C.A. não é mais uma história de amor daquelas em que a mocinha sofre e chora horrores. Neste longa elas não aguentam mais esse papel e resolvem tomar as rédeas da situação”, conta a diretora Claudia Jouvin sobre o filme, no mínimo instigante. Para isso convocou um elenco de peso, que conta com Mariana Ximenes (Manoela), Debora Lamm (Elena) e Roberta Rodrigues (Rebeca). E o figurino, que ganha destaque nessa história e reflete total a personalidade das protagonistas, ficou a cargo de Marininha Franco.

O estilo cool de Marina Franco, figurinista por trás do filme “L.O.C.A.” || Créditos: Reprodução Instagram

Glamurama bateu um papo com a figurinista no último dia de filmagens de ‘L.O.C.A.’, para saber tim-tim por tim-tim sobre os bastidores da produção. Um papo daqueles que ilumina a mente de qualquer ser minimamente conectado com as tendências fashion. Marina, uma das cariocas mais estilosas do pedaço, aproveita para dar dicas de styling e conta um pouco sobre seus projetos futuros, que inclui até um programa no canal GNT, tá! Espia só!

Glamurama: O que vestem as mulheres da ‘Liga das Obsessivas Compulsivas por Amor’? Fale um pouco sobre o que você pensou para cada uma delas: Mariana Ximenes (Manoela), Debora Lamm (Elena) e Roberta Rodrigues (Rebeca).
Marina Franco: “Para pensar no estilo delas eu parti da profissão de cada uma. Acho que o que você faz  diz muito sobre você. Sempre componho um personagem partindo dos costumes deles, isso acaba ditando o que vão vestir, das cores aos shapes. É como uma gênese, analisando o que ela come, como ela vive… É assim que o figurino vai tomando forma. Manoela é jornalista, usa paletós e todas as peças que têm a ver com o ambiente de redação, mas ao longo da história vai ganhando contornos mais ajustados porque fica mais amiga de Rebeca, dona de um espaço bronzeamento artificial, que mora no subúrbio do Rio e usa tudo super justo… tem uma relação diferente com o corpo e com a beleza. Elena é enfermeira, a mais romântica delas, uma mulher que idealiza o homem e a vida. Para ela busquei roupas na moda cristã, em tons mais claros, enquanto Manoela ficou com pink, vermelho e rosa , e Rebeca com amarelo e laranja.”

Glamurama: Dá para identificar uma mulher compulsiva em algum desses estilos? 
Marina Franco: “Talvez no da Elena, porque ela é engraçada, é a mais louca de fato. Ela combina estampas e no final a gente descobre que ela combina tudo com os padrões da decoração da casa dela. Uma característica que transmite uma obsessão.”

Glamurama: Qual a importância que o figurino tem para esse filme?
Marina Franco: “O figurino deu uma cara ao filme que compôs perfeitamente com a direção de arte. O peso do figurino é equivalente ao das outras coisas. Precisa ‘conversar’ com a fotografia e com a arte do filme, e acredito que conseguimos esse resultado. No fundo o filme tem uma ‘pegada’ de Wes Anderson, de Pedro Almodóvar e de Quentin Tarantino.”

Glamurama: Conte-nos alguma curiosidade de bastidores.
Marina Franco: “Uma coisa engraçada que aconteceu foi quando caiu chá mate em uma blusa do figurino da Mariana [Ximenes]. Ela estava pronta para entrar em cena – era a continuação de uma cena -, e tivemos que lavar a blusa. Só que na hora de secar, houve um pico de energia no local e a secadora queimou, e queimou a blusa também. Tive que ir para a maquina de costura remodelar a blusa em cinco minutos… Cinema tem isso, às vezes é uma gincana.”

Glamurama: Quais os melhores truques de uma figurinista?
Marina Franco: “Acho que um figurinista tem que ter material, disponibilidade para acompanhar a jornada e uma boa equipe, que faz toda a diferença. No kit que tenho sempre à mão tem tesoura, agulha, linha, descosturador, kit de envelhecimento básico, alargador de sapato, adesivo Top Stick – figurinistas não vivem sem essa fita dupla face, com ela dá para colar golas, sapatos, cintos, microfones…. Outro ponto é que valorizo muito o set. Não sou o tipo que entrega o figurino apenas. Gosto de acompanhar as filmagens, acho que tem uma magia no set. Discutimos muitas questões na reunião de análise técnica, mas algumas coisas acontecem espontaneamente durante as gravações, e é daí que surgem insights que vão além da visão cênica que a gente prevê.”

Glamurama: Dê algumas dicas para quem quer estar bem em frente às câmeras…
Marina Franco: “Acredito em tudo, na liberdade do ser humano… O mais importante é que o ator esteja entregue em cena. Atuação é sobre a qualidade de olhar, de se entregar, de colocar intensidade. Claro que existem alguns truques – uma das maiores figurinistas, Edith Head, fala em seus livros: ‘você tem como diminuir cintura, aumentar o ombro, harmonizar cores….’ Não desvalorizando o que ela diz, mas eu não acho que essa seja a solução para o que vem de dentro. O figurino adequado para uma determinada história tem que funcionar para a narrativa. Sou uma contadora de histórias também, e acho que, além da caracterização personagens, tem que ter composição corporal para ajudar a contar a história com franqueza.”

Glamurama: O que vocês fazem com o figurino depois que as filmagens acabam?
Marina Franco: “O figurino é composto de peças alugadas, compradas, doadas ou criadas especialmente para ele. Após as filmagens fazemos uma triagem para devolver o que precisa e o restante fica para a produtora como acervo.”

Glamyrama: Você mesma é uma referência de estilo. Glamurama adora aliás. Dê algumas dicas legais para acertar na hora de se vestir, de escolher um corte de cabelo, de usar um acessório…
Marina Franco: “A pessoa tem que estar confortável dentro da roupa que está usando. Pode estar com um salto 12 e uma minissaia, mas se estiver confortável e se sentir representada, é o que importa. O pior dos mundos é ver alguém que parece deslocada de si mesma.
Alfaiataria, por exemplo, é algo que não funciona colada no corpo. Tem que ter uma distancia entre o quadril e a calça para o caimento funcionar. Com os ombros a mesma coisa, tem que ser mais solto. Semana passada aconteceu algo inacreditável: estávamos filmando cenas do ‘L.O.C.A.’ em Laranjeiras e aproveitei um tempo da minha hora de almoço para ir a um brechó, e encontrei lá um smoking Yves Saint Laurent do começo dos anos 90, e aí você percebe que nada na peça aperta. Tem muitas marcas como Balmain que fazem uma alfaiataria mais seca, mas não acho elegante.” 

Marina e dois de seus looks do dia compartilhados no Instagram || Créditos: Reprodução Instagram

Glamurama: É possível notar uma diferença no jeito de se vestir das paulistanas e das cariocas. Como você definiria cada uma delas? 
Marina Franco: “Acho que hoje em dia já estamos em uma aldeia global. Tem carioca que se veste mais ‘paulistanamente’, e paulista que se veste ‘cariocamente’. Não gosto de generalizar. Acabo me vestindo menos como carioca. Tenho a pele muito branca, frequento pouco a praia e gosto de trabalhar de calça (não gosto de trabalhar de saia). Me monto quando estou a fim, independente do momento, sem muita regra, seja para ir a padaria ou para uma festa. São Paulo pede mais alfaiataria – você consegue usar sem derreter durante mais tempo no ano. Os paulistanos são mais felizes nesse quesito.”

Glamurama: Em que outros projetos você está envolvida?
Marina Franco: “Estou fazendo uma peça com Felipe Hirsch e Daniela Thomas que estreia em janeiro, um clipe para Letrux que será um ‘bafo!’ e um programa que estreia no GNT chamado “Se Essa Roupa Fosse Minha”,  dirigido por Isabel Nascimento e produzido pela Conspiração, que vai falar sobre garimpagem de peças – uma das minhas especialidades. Ano que vem também será lançado o filme ‘Vida Invisível’, longa estrelado por Fernanda Montenegro e Carol Duarte que fala sobre as memórias de uma mulher que passa a vida tentando encontrar a irmã desaparecida. Assino o figurino que se divide entre os anos 1950 e 2018, com roupas de época muito bonitas e contemporâneas.” (Por Julia Moura)

 

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