Na crista da onda, a cantora Anitta não está nem aí para quem diz que ela copia as coreografias de Beyoncé, os clipes de Kanye West e as plásticas de Kim Kardashian. Com 12,5 milhões de seguidores no Instagram, ela é original até em reconhecer que imita “as pessoas”
Por Paulo Sampaio para a Revista J.P de maio
Styling Luna Nigro e beleza de Renner Souza
O que não falta na antessala do showbiz é candidato a cantor pop com potencial para virar celebridade. Mas Anitta é diferente. “Ela é muito autêntica. Permanece a mesma esses anos todos, por isso o sucesso se mantém”, acredita o assessor de imprensa da cantora, Paulo Pimenta. Esses “anos todos” a que ele se refere são quatro, se contarmos desde o estouro de “Show das Poderosas”, seu primeiro grande sucesso. No mês em que foi lançado, o clipe da música se tornou o mais acessado no YouTube Brasil, com 10 milhões de visualizações. Pimenta tem razão. O ritmo dos lançamentos anda tão alucinante que ninguém mais precisa se manter no topo por 30 anos, como Madonna, para ser considerado um fenômeno no mundo pop. O termômetro são as redes sociais. De 2013 pra cá, Anitta angariou nada menos que 12,5 milhões de seguidores no Instagram; 3 milhões no Twitter; e 700 mil espectadores no Snapchat – ela é detentora do primeiro perfil verificado do aplicativo no Brasil.
“Bang”, clipe acessado por mais de 177 milhões de pessoas, repercute mundialmente. Até youtubers coreanas fazem sucesso com covers do vídeo: a dupla Waveya produziu um, visto por quase 3 milhões de pessoas. Em visita ao Brasil para ministrar um workshop, três bailarinas de Beyoncé aprenderam os passos criados pela coreógrafa Arielle Macedo e, a pedido dela, gravaram um vídeo em que replicaram a dança de brincadeirinha. Arielle, 26 anos, postou no Instagram e, bem, a publicidade agregada foi extraordinária. A coreógrafa, que conheceu Anitta em um show da produtora carioca Furacão 2000, prefere definir seu trabalho como “o estudo de um fenômeno sociológico em alta”: “Estou sempre plugada no que acontece”. Já Anitta é mais direta: “Eu fui descoberta na internet em um vídeo em que eu imitava as pessoas… porque eu imito pessoas”, disse ela a Serginho Groisman, no programa Altas Horas. Um canal do YouTube chamado McImitta, obcecado em denunciar os pastiches da cantora, adicionou a declaração em um vídeo que teve 2,3 milhões de acessos na net.
EU MESMA SEMPRE
Apesar disso, quando tenta explicar por que viraliza tanto, nossa entrevistada bate na tecla da espontaneidade: “Nunca dou uma resposta que não seja o que eu penso. Eu sou eu mesma sempre”, diz Anitta, cujo nome de batismo é Larissa. Especula-se que ela tenha feito oito plásticas. O número exato é uma incógnita. Até ela ignora: “Não sei quantas foram”, diz, meio sem paciência. Natural que considere o assunto esgotado, agora que chegou a aparecer no programa do Faustão com um esparadrapo no nariz, depois de operá-lo. Na época, disse que aproveitou para reduzir os seios. A boca está visivelmente aumentada. Parece contraditório, mas Anitta garante que não se submeteu às cirurgias porque se sentia infeliz com a aparência. Simplesmente “deu vontade”. “Quando alguém decide pintar o cabelo, você acha que é porque está infeliz?”. A propósito, a irmã Kardashian com a qual ela mais se identifica não é Kim, mas Kylie (que, na verdade, é meia-irmã de Kim por parte de mãe).
Seus assessores reforçam o marketing da autenticidade. Bruno Ilogti, diretor de três de seus clipes, incluindo o último, “Cravo e Canela”, acredita que Anitta é diferente das outras porque não se apresenta em um envelope pronto, “de acordo com o que está na moda”: “Ela tem opinião, segue o instinto e faz o que acha interessante. O sucesso da Anitta é mérito dela”. Os maldosos insistem em enxergar em seus clipes soluções usadas pelo rapper Kanye West, marido de Kim Kardashian. “No início, quando a gente é jovem, se inspira nas pessoas que a gente ama”, reconhece Ilogti. “A própria Beyoncé, que todo mundo tem como a vanguarda da vanguarda, copiou muita gente antes de ser o que é.” Agora que está mais velha, com 23 anos, Anitta passou a ser copiada – segundo o diretor. “Um mês depois que o ‘Bang’ foi para as redes, o Justin Bieber lançou o ‘Sorry’, com uma coreografia igualzinha”. É. Quer dizer, mais ou menos.
Vamos combinar, o mundo todo copia todo mundo, e isso é quase uma premissa do sucesso nas redes sociais. O que muda, e faz viralizar, é a abordagem de cada um. “Essa questão das imitações é uma bobagem. Tudo já foi feito ou está sendo feito”, diz o diretor de arte dos clipes de Anitta, Giovanni Bianco. “O que faz algo original é o modo com que você faz, sendo que o mais importante é ser corajoso. Neste mundo contemporâneo, eu não crio nada, só faço o que o meu coração me diz”.
No caso de Anitta, há algo de muito particular, até meio infantil, no modo como repete as caras, bocas e coreografias de suas divas. Tanto que as crianças a adoram. Em homenagem a elas, a cantora inventou o “Show das Poderosinhas”. “Uso muita cor, brilho, coloco ursinhos de pelúcia no palco”, explica a stylist Carol Roquete, que foi apresentada à cantora por um amigo e há um ano cuida “de tudo dela”. Só não a veste nos clipes. Carol monta o figurino de acordo com o público. E com a vontade de Anitta, claro, que não tem problemas em se declarar “mandona”. Quando a plateia é mais gay, diz a cantora, ela sobe ao palco com algo propositalmente over: “Plumas eles adoram”; quando é “hétero”, ela aparece mais sensual: “Roupas com telas, decotes e recortes”. “Ninguém no Brasil usa tanta cor, brilho. Foi ela que iniciou essa tendência”, acha Carol, que também veste a blogueira Gabriela Pugliesi.
ARROZ, BIFE E BATATA FRITA
Filha de uma artesã e um comerciante (“meu pai vendia bateria de carro”), Larissa/Anitta vive com a mãe e o irmão, que é seu sócio, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio. Além de cantar, dançar e se mostrar (“sempre fui exibida”), a coisa que ela mais gosta de fazer é comer. “Adoro arroz, feijão, lasanha, amo doce, amo toda comida. Põe na minha frente, eu como”, diz ela. Com 1,62 metro, 64 quilos, shape de gostosona, a cantora diz que não é de fazer dieta nem de malhar. “De vez em quando vou na maré, mas agora, por exemplo, não estou ligando pra isso não. O povo até fala: ‘Você dança tanto no palco que não precisa fazer exercício para emagrecer’. Mas o corpo acostuma, é sempre o mesmo estímulo”. Anitta tem o que chamam de “personalidade forte”. Não vai deixar de fazer o que quer, muito menos quando se trata de abandonar o prazer de comer. No dia da entrevista, apesar de a produção disponibilizar almoço, o tempo todo a cantora pergunta a seus assessores se “a comida já chegou”. O menu da cantora (que ela pediu fora) nem era nada especial. Um bom prato de arroz, dois bifes grandes e tiras grossas de batatas fritas.
Depois da sobremesa, Anitta conta com entusiasmo que tem se saído bem em outras mídias, para além do Instagram e do Snapchat. Sob o comando dela desde o começo do ano, o programa Música Boa ao Vivo, apresentado no canal fechado Multishow, tornou-se um sucesso estrondoso. Na estreia, no começo do ano, só perdeu em audiência para um canal infantil. “Ficar em segundo, nesse caso, é como estar em primeiro. As crianças não deixam de assistir à TV nem na queda das Torres Gêmeas”, acredita Paulo Pimenta. Precavida, a cantora fez aulas particulares de teatro “porque sabia que viria um convite para atuar e não queria deixar ninguém na mão, sabe? Não gosto de dar trabalho”. As lições de arte dramática já foram úteis em duas ocasiões. No filme “Copa de Elite”, sátira do blockbuster “Tropa de Elite”, ela faz uma repórter; em “Breaking Through”, produção americana que não foi exibida no Brasil, aparece em uma ponta. A ambição irrefreável a leva a fazer planos para uma carreira internacional. Diz que no começo do ano foi a Nova York para conversar sobre isso com “algumas pessoas”.
No momento, Anitta ocupa um lugar tão confortável no universo pop nacional que de fato pode se dar ao luxo de ser ela mesma o tempo todo. Ao voltar para casa depois da sessão de fotos, ela e seu maquiador, Renner Souza, ainda estavam tão excitados que não conseguiram pegar no sono. A dupla então se levantou da (mesma) cama, no meio da madrugada, e, sem parar de tagarelar, se dirigiu a uma loja de conveniência para comprar guloseimas. Foram do jeito que estavam. Ela sem maquiagem, de camisola e robe. Ele aos pulos, dançando uma coreografia que faria Arielle Macedo enriquecer muito seu “estudo de um fenômeno sociológico”. E tome Snapchat.