Andrucha Waddington estreia nesta terça-feira “Sob Pressão”, sua primeira incursão na TV, uma série médica que mostra a triste realidade do sistema público, baseada em seu filme homônimo. Marjorie Estiano e Julio Andrade são os protagonistas e matam um leão por dia na tentativa de salvar seus pacientes contando com uma estrutura precária. Glamurama foi conversar com Andrucha sobre esse début na Globo e quis saber se o premiado diretor está preparado para estender sua temporada na emissora por prazo indeterminado caso o programa vire um case tipo “A Grande Família”, que ficou mais de 13 anos no ar. Andrucha fez ainda um paralelo entre ficção e a realidade do país hoje, sofrendo com corrupção e desvios de verba, inclusive da Saúde. À entrevista! (por Michelle Licory)
Drenar um tórax com mangueira de jardim
“‘Sob Pressão’ é a ficção imitando a realidade. Nas pesquisas de campo, a gente entra nos hospitais para acompanhar a rotina vestido de médico, com aquele pijama verde, e fica meio camuflado ali, consegue ver a víscera do negócio. É aquilo que é retratado na imprensa, mas com muito mais nuances de urgência. O comprometimento dos médicos de exercer a profissão mesmo sem condições… A coisa da gambiarra que eles têm que fazer por conta da falta de recursos e equipamentos aproveitamos muito na série. No primeiro capítulo, o personagem do Julio precisa drenar um tórax, não tem dreno, ele pega uma mangueira de molhar jardim, esteriliza e usa. Isso acontece sistematicamente na vida real”, denuncia Andrucha.
“Não tem a pretensão de ser uma série denúncia, mas ela faz um retrato da saúde pública do Brasil, que está em um estado deplorável. São questões inerentes à população, um universo amplo, rico e inesgotável de material. Apesar de já existirem muitas séries médicas, não temos uma com a nossa realidade do sistema público do Rio. E se a gente for olhar para o interior, pra dentro do país, talvez a situação seja ainda pior. O que vamos mostrar é uma continuação do filme. O longa mostra 24 horas dessa rotina, na versão para a TV o hospital continua a girar. Temos os dramas dos pacientes, que se fecham sempre dentro de um episódio, e um arco horizontal que dá conta da vida pessoal dos médicos. Isso vai se desenrolando ao longo da temporada”.
“Está na hora de dar uma limpada em tudo isso”
Perguntamos como é ter acompanhado de perto as dificuldades da população que depende do sistema público durante a fase de laboratório para o programa e continuar assistindo às denúncias de corrupção, desvio de dinheiro feito por nossos governantes. “Acho uma loucura alguém roubar da saúde, da educação. É algo inadmissível. A corrupção chegou a um nível… Está irrigada em todo o sistema. O fato de tanta merda estar vindo à tona de alguma maneira me dá esperança de mudança. Está na hora de dar uma limpada mesmo em tudo isso”.
“Pronto para seguir”
Sobre a estreia na Globo, ele disse: “Na verdade, foi um acaso que estou adorando: levar o cinema para a televisão. Independente da plataforma, o que interessa é o conteúdo. Fui muito feliz podendo falar desse assunto, contar com esse elenco, essa equipe de roteiristas. Espero que renda muitas temporadas. A gente está pronto para seguir”. Até se virar um sucesso tipo “A Grande Família”, tantos anos de dedicação à TV aberta? “Se virar, posso dizer que com certeza estarei na família”, respondeu Andrucha, rindo, com cara de que estará, sim, envolvido, mas talvez não na linha de frente.
E os outros projetos? “Eu tinha parado a montagem do filme ‘O Juízo’, um suspense sobrenatural com Felipe Camargo, Fernanda Montenegro, Fernando Eiras, Carol Castro e Lima Duarte. Agora estou retomando isso para tentar lançar no primeiro semestre de 2018. E tenho já algumas outras ideias para próximos trabalhos, mas ainda segredo, tudo quietinho”.