Estudo, leitura, maratona de séries e filmes, reconexão com as origens, casamento recente e trabalho. Esse pode ser um resumo da vida de Andréia Horta nesse um ano de pandemia. Apesar do isolamento que em boa parte foi cumprido em Minas Gerais, de onde saiu com 17 anos, ao lado do marido, o ator Marco Gonçalves, com quem se casou em setembro de 2020, a atriz esteve em movimento o tempo inteiro.
O primeiro sucesso nesse período foi o espetáculo “Cara Palavra”, ao lado de Débora Falabella, Bianca Comparato e Mariana Ximenes, peça definida como um sarau poético performático com foco na poesia feminina, com cada uma das artistas trabalhando remotamente de casa e apenas a Débora no teatro.
Agora, ela pode ser vista de novo no papel de Maria Clara, filha queridinha do comendador Zé Alfredo (Alexandre Nero), em “Império” (2014). Na sequência, Andréia será Lara em “Um Lugar ao Sol”, que estreia no segundo semestre no horário das 21h. Na novela de Licia Manzo, que já teve sua estreia adiada por conta da pandemia, Lara será uma mulher solar, independente, ética, forte e ótima cozinheira. Uma batalhadora, que abrirá um restaurante junto com a avó, personagem interpretada pela Marieta Severo.
E não acabou, em junho, será a vez dos fãs acompanharem sua participação na série “Colônia” do canal Canal Brasil, baseada em casos reais que ocorreram no antigo e famoso hospital Colônia de Barbacena, em Minas Gerais. Além de seguir à frente do programa “O País do Cinema”, também no Canal Brasil, que terá nova temporada com 13 episódios que revisitaram grandes filmes brasileiros e ter um longa na manga para estrear. Glamurama bateu um papo da atriz que fala da profissão, um tantinho da vida pessoal e afirma: “Não existirá sociedade sem cultura.” (por Fernanda Grilo)
Glamurama: Como tornou a sua quarentena produtiva?
Andréia Horta: Estudei muito e fiz muitos cursos online. Li, respirei fundo, assisti a séries e filmes. Fiquei um tempo em Minas Gerais, de onde saí com 17 anos, e isso foi um “religar” fundamental. Também desenvolvi ao longo de 2020 um trabalho com 3 amigas, o ‘Cara Palavra’, que resultou em uma temporada online.
Glamurama: Você casou pouco antes da pandemia começar. Como tem sido esse momento para o casal? Quais os aprendizados e perrengues que têm passado juntos?
Andréia Horta: Um profundo conhecimento de si e do outro. Às vezes difícil, em geral maravilhoso! Não é fácil estarmos trancados e isolados de todos há mais de um ano. Bobeou e você está com aquela roupa de dormir e totalmente abatido com as notícias. Embora tenha a sua importância, não pode ser só isso. Entendi que é preciso cultivar a alegria e a coragem, porque amo viver. Casamento na pandemia é tipo um “BBB dos casais”, só que sem público e, com muita sorte, sem paredão (risos). Você aprende a se calar, a se afastar, elaborar, conversar, compreender… É um alto exercício de cidadania e o respeito é o rei da casa! Eu nunca tinha me casado. É incrível você conhecer alguém tão de perto, amar e saber que vocês são um lugar bom um para o outro.
Glamurama: Como será a retomada do mercado cultural no pós-pandemia? Acredita em uma volta com tudo ou será algo mais lento?
Andréia Horta: Quanto à retomada, é certo de que haverá muito a ser dito. As pessoas voltarão a encher os teatros, shows, cinemas e exposições, porque sempre será assim: a arte nos conecta com nós mesmos, nos cura e nos eleva. Um exemplo disso é o tanto que se leu e se consumiu de dramaturgia e espetáculos online nesta pandemia. Não existirá sociedade sem cultura. Infelizmente, ainda é preciso muita luta para que as condições de trabalho dos artistas sejam resgatadas e até inventadas. E sim, criaremos o futuro! Arte é potência de criação.
Glamurama: Como tem sido a experiência de gravar a novela “Um Lugar ao Sol” ‘aos poucos’? Essa falta de sequência ajuda ou atrapalha?
Andréia Horta: Comecei a ler a novela com 35 anos, e agora vou fazer 38. E ainda falta bastante! É novo para mim estar há tanto tempo conectada com uma personagem. Isso cria uma intimidade também, vamos mudando juntas.
Glamurama: O que a personagem de ‘Um lugar ao Sol’ tem te proporcionado de novo na profissão?
Andréia Horta: Atuar com Marieta Severo, chamando-a de vó! Ô glória!
Glamurama: Qual sua expectativa para a novela ‘Um lugar ao Sol’?
Andréia Horta: Levantar a discussão sobre dinheiro e ética, amor e perdão.
Glamurama: “Império” acaba de voltar às telas, o que mais sente saudade desse trabalho?
Andréia Horta: Saudade de estar ao lado daqueles companheiros de trabalho. Ríamos muito!
Glamurama: Com quem criou uma relação durante “Império” que segue até hoje?
Andréia Horta: Segui próxima de várias pessoas, mas com a Maria Ribeiro, nasceu um amor de mãos dadas, uma relação íntima. De lá pra cá , passamos momentos de uma cuidar da outra em momentos difíceis, e também de celebrarmos grandes alegrias.
Glamurama: Em “Império”, Maria Clara vive momentos bem distintos durante a trama. Esse foi o ponto alto deste trabalho?
Andréia Horta: Maria Clara era herdeira e trabalhadora de um Império. Além de criadora das joias, era uma mulher com poder e bem disposta a não perder aquilo tudo. Ela não se apresenta corrompida como o irmão mais velho, mas quando se sente ameaçada, ataca com garras afiadas. E sim, esse era o desafio dela pra mim.
Glamurama: Conta os detalhes da sua participação na série “Colônia”. Qual a história que vai contar, como se preparou para este papel?
Andréia Horta: Em Colônia interpreto Valeska, uma ex-prostituta que se envolveu com um prefeito de cidadezinha. Quando deseja ser assumida não mais como apenas uma amante, ele manda prendê-la no sanatório. Isso aconteceu muito ali no “Colônia” no Brasil na década de 70. O hospital ficou mundialmente conhecido como Auschwitz brasileiro. Uma história de horror. Nossa série se passa nessa época: quem incomodava na sociedade era trancafiado sem direitos, tomando choques, passando frio e fome. Filmamos em um casarão muito antigo e velho no bairro Ipiranga em São Paulo, onde passávamos o tempo todo naquele “nada a fazer ” do hospício. É um elenco muito especial, a vivência se deu ali nos treinamentos e na travessia de dias tristes, na composição e atmosfera em que essas pessoas viviam. Foi uma experiência inesquecível. O trabalho me levou a porões da alma que eu desconhecia.
Glamurama: Ser apresentadora é um caminho sem volta? Como tem sido essa função no “O País do Cinema”?
Andréia Horta: Eu espero que seja sem volta! Amo apresentar o programa. A preparação já é pra mim um maravilhoso mergulho e estudo. Participo desde a escolha dos filmes até a edição. Uma equipe pequena e muito amorosa. É muito bom pensar com eles, aprendo muito.
Glamurama: O que mais te emociona nesse programa?
Andréia Horta: Conversar e pensar o cinema brasileiro junto com seus realizadores, porque isso é pensar também o Brasil.
Glamurama: Dica de 3 filmes nacionais que todas as pessoas deveriam assistir, por quê?
Andréia Horta: “Terra em Transe”, “Auto da Compadecida” e “Pacarrete”.
Nesses filmes, vemos nosso país e nos vemos ali. Nos envergonhamos e nos amamos. Sentimos vontade de melhorarmos.
Glamurama: Quais são os seus projetos futuros?
Andréia Horta: Seguir viva e com saúde. Concluir “Um Lugar ao Sol”. Lançar “Colônia” e o filme do Sérgio Rezende, “Jardim de Mariana”. Filmar a próxima temporada do “País do Cinema”, voltar a caminhar pelas ruas do mundo e inventar o que ainda não sei.