Nesta segunda-feira é comemorado o Dia do Índio. Para celebrar o povo que já habitava no Brasil antes mesmo do país ser descoberto e que, desde então, vem sendo alvo de todo o tipo de injustiça e destruição, relembramos da entrevista de Joyce Pascowitch com o escritor, ambientalista e líder indígena Ailton Krenak. Pertencente à etnia crenaque, é considerado uma das maiores lideranças do movimento indígena brasileiro atualmente, com reconhecimento internacional, e autor de livros como “Ideias para adiar o fim do mundo”, “O amanhã não está a venda” e “A vida não é útil”.
Na ocasião, Krenak falou sobre inspirações que também lutaram por causas importantes, principalmente voltadas à natureza: “Na nossa juventude tínhamos pessoas como Darcy Ribeiro, Paulo Freire, irmãos Villas-Bôas, que dignificavam o sentido de ser brasileiro e animava para uma empreitada social de sucesso”. Ele ainda analisou como a terra é encarada pela sociedade: “Virou um ativo do capital financeiro, pessoas comuns não têm acesso. Uma família que quiser viver da agricultura vai precisar se associar a muitos outros para comprar uma terra”.
O líder também explicou sobre a discriminação: “Todo mundo deveria ter atenção do Estado. Quem mora na roça, na floresta, não devia ser discriminado. Muita gente que não tinha como viver na cidade migrou para o sudeste. O Nordeste historicamente sempre foi um lugar abandonado. Sempre foi mantido um pedacinho de miséria como um reduto da falta de amor uns com os outros”.
“Na Austrália, que também foi colonizada, os povos aborígenes sofreram todo o tipo de terrorismo. Aí o primeiro ministro pediu perdão e pediu politicas de reconciliação, abriu várias frentes de trabalho para que o prejuízo histórico fosse corrigido. Não é algo de 10 anos, é para a vida inteira. A questão dos povos indígenas não pode ser percebida nos termos do sistema jurídico e da logica do Estado brasileiro, senão vão pedir desculpas e continuar a mesma barbárie. Para conciliar, tem que parar de depredar a natureza. O pensamento indígena não se engaja na ideia de que vamos nos tornar sócios de um projeto colonial. É uma questão grave que tem que ser pensada com honestidade. A vida não tem compensação”. Confira o papo completo abaixo: