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Bruna Araújo || Créditos: Divulgação/ Rodrigo Lopes

Só de olhar para Bruna Araújo nota-se que ela é filha de Emanuelle Araújo. Além da impressionante semelhança física entre as duas, a jovem de 24 anos lançou nesse domingo o primeiro EP de sua carreira musical, mesmo caminho da mãe, que ficou conhecida em todo Brasil como intérprete de axé e atriz. Só que Bruna segue um estilo autoral, intimista e faz a linha low profile. “O ar que tenho em mim”, álbum de estreia, reúne seis músicas de sua autoria, sendo que duas delas – “Mãe” e “O Vento” – foram escritas em parceria com o poeta Flávio Morgado e misturam ritmos regionais, eletrônicos, além de referências da MPB. O lançamento acontece nas plataformas digitais.

Bruna nasceu em Salvador e com 13 anos foi morar no Rio com a mãe. É formada em psicologia e atualmente divide a rotina entre o estúdio e o consultório, em que atende os primeiros pacientes. Sua história na música começou na adolescência quando formou com amigos como Chicão, filho de Cássia Eller, a banda “Zarapatel”, que considera a sua escola neste cenário. A cantora tem um timbre que promete mexer com a cena da MPB e às vésperas desse novo momento, Glamurama revela quem é ela em um papo dos bons.

Glamurama: Conte-nos um pouco sobre “O Ar Que eu Tenho em Mim” e seu estilo musical. 
Bruna Araújo: “É um disco que produzi ao longo dos últimos três anos. Como todo artista independente no Brasil, foi um percurso intenso de gravações. Ele é todo bancado por mim, e depositei toda energia possível para a construção desse álbum, que reúne seis canções autorais. Estou feliz por ele ter tomado justamente a forma que gostaria. É parte de um novo cenário da MPB, com eletrônico e música regional.. Não dá muito para explicar, digo que é um ‘Frankenstein’, com um pouco de tudo, feito com amor, carinho e garra.”

Glamurama: Você tem uma agenda de shows para acompanhar o lançamento do EP?
Bruna Araújo: “Ainda não. Pensei em fazer uma apresentação de lançamento, mas achei mais interessante lançá-lo digitalmente primeiro, ‘jogar’ as músicas no mundo para depois acertar a agenda.”

Glamurama: Quais são suas referências musicais? 
Bruna Araújo: “Vim paro o Rio com uns 13 anos, mas minha família toda é da Bahia, de mãe e de pai, então peguei muitas referências de lá como ‘Os Tincoãs’, banda da década de 1970 que se utiliza muito da música regional, do sincretismo baiano, do candomblé, Caetano Veloso e Gilberto Gil, e aqui no Rio conheci o Clube da Esquina, de Milton Nascimento, que ajudou a me guiar. Todos construíram minha percepção musical.”

Bruna Araújo || Créditos: Divulgação/ Rodrigo Lopes

Glamurama: O projeto foi feito com financiamento pessoal, certo? Chegou a tentar uma gravadora? 
Bruna Araújo: “Sim, com a colaboração de músicos e da distribuidora Mondé, de Gabriel Marinho. Não cheguei a tentar gravadora, estou no início, vou lançar uma obra e me apresentar ao público. Depois disso vou tentar algo maior.”

Emanuelle Araújo com a filha, Bruna || Créditos: Reprodução Instagram

Glamurama: Você contou com o apoio financeiro de sua mãe?
Bruna Araújo: “Ela me deu apoio total, respeitando minhas decisões, mas tudo foi feito com a minha mão, meu dinheiro e meu esforço em correr atrás. Em nenhum momento o disco foi bancado por ela. Não seria tão verdadeiro se não fosse desse jeito.”

Glamurama: Como foi a infância ao lado de uma mãe famosa?
Bruna Araújo: “Uma influência boa, mas difícil ao mesmo tempo. Uma grande contradição porque sempre a achei incrível – não nego que ela é a minha grande influência -, e desde pequena dizia que a última coisa que seria era artista, e acabei enveredando para esse lado. Foi difícil entender que gostava do mesmo que ela, mas que não tínhamos o mesmo estilo. Nossas músicas são completamente diferentes, as minhas são autorais e intimistas e minha mãe é intérprete. Falando em personalidade também, sou mais reservada e ela é extrovertida. Hoje estou chegando em um momento que consigo lidar bem com isso.”

Emanuelle Araújo com Bruna ainda bebê na praia || Créditos: Reprodução Instagram

Glamurama: Acompanhava ela no Carnaval e eventos do tipo?
Bruna Araújo: “Sim, desde a barriga, na verdade, quando ela fazia parte de um grupo de teatro e estava grávida de mim, aos 17 anos. Quando era pequena achava um saco os trios elétricos (risos), afinal o trabalho dos pais geralmente não é algo divertido quando se é criança. Hoje eu amo e sempre que posso acompanho.”

Glamurama: A música sempre esteve presente em sua vida. Em algum momento pensou em trilhar outro caminho?
Bruna Araújo: “Me formei há pouco tempo em psicologia na UFRJ e hoje concilio os ensaios e gravações com o atendimento no consultório. Muita gente me perguntava o que eu queria como profissão e ficava nessa loucura para decidir, já que a música sempre fez parte da minha vida, mas a psicologia também, pois sempre gostei de estar no lugar de escuta. Não achava que seria possível conciliar, mas está rolando.”

Glamurama: Conte-nos alguns conselhos de sua mãe que adotou em sua vida pessoal e profissional. 
Bruna Araújo: “Ela sempre me ensinou muito a mostrar quem sou de verdade, a ter pé no chão em relação ao trabalho. Meu desejo de fazer esse EP veio dessa persistência dela, da vontade que tem de trabalhar.”

Glamurama: O que você mais admira em sua mãe como cantora?
Bruna Araújo: “A força e a segurança em relação à música. A voz é muito emocional, passa tudo o que a gente sente e pensa, e a dela tem uma força grande, que mostra como ela banca este lugar que conquistou.”

Glamurama: Assim como sua mãe, você pensa em atuar?
Bruna Araújo: “Nunca pensei. Já fiz um teste que me chamaram aleatoriamente, mas acredito que a arte não tem muitas divisões e que é possível desbravar outras vertentes. Então, nada impede que daqui a um tempo isso aconteça.”

Glamurama: Já se sentiu vítima da superexposição? 
Bruna Araújo: “Várias vezes! Minha mãe é uma pessoa pública e acabamos ficando o tempo todo vulnerável aos comentários. Já me compararam com ela de maneiras ruins e ouvi dizerem:”A mãe é muito melhor que a filha!” Na época era adolescente e estava fragilizada, tentando encontrar o meu lugar e isso me comprometia. Hoje lido bem, entendo que esse tipo de comentário diz mais sobre quem fala do que a nós. Como ainda não conquistei meu lugar, a comparação ainda existe.”

Glamurama: As eleições estão chegando. Está envolvida com política?
Bruna Araújo: “É difícil ser artista nesse país em um momento político tão instável, em que o fascismo está voltando com tudo e a diversidade sendo calada, principalmente se a gente tiver como eleito esse candidato que está em primeiro lugar nas pesquisas [Jair Bolsonaro]. O olhar humano está muito distorcido e isso reflete o cenário político. Por isso tenho até um certo medo de lançar esse trabalho agora, que também é um ato político, mas temos que resistir.”

Glamurama: Que conselho daria para os jovens na hora de votar?
Bruna Araújo: “Vejo muita gente dizendo que não vai votar porque ninguém lhe representa mas, votando ou não, alguém vai assumir o posto e governar o país. Então, se abster não é uma opção. É importante que a gente tenha sim, olhar político e posicionamento. É importante que se discuta porque diz muito sobre a nossa vida. As pessoas estão separando o lado pessoal do social, mas é tudo junto. Temos que pesquisar e se conscientizar para detectar quem tem um discurso interessante, e acho importante que haja um olhar para o social também, que entenda o lugar dos que estão sendo esquecidos. Economia e social devem ser articulados.”

Glamurama: Você já definiu seu candidato?
Bruna Araújo: “A princípio [Fernando] Hadad.” (Por Julia Moura)

 

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