A ascensão de Michel Temer contada por poemas de sua autoria

Na presidência do Brasil desde 12 de maio, Michel Temer é a pessoa mais velha a chegar ao cargo. Empossado oficialmente como mandatário da nação em 31 de agosto, após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, Temer completa 76 anos nesta sexta-feira em meio a uma das mais graves crises políticas e econômicas da história brasileira recente.

Problemas à parte, Temer considera como uma de suas maiores realizações, além da chegada ao Palácio do Planalto, o livro de poemas que publicou em 2013, “Anônima Intimidade”. Com 120 textos escritos por ele durante suas viagens aéreas entre São Paulo e Brasília, muitas vezes em guardanapos, a obra já foi descrita por Temer como uma maneira de se “recuperar da arena árida da política”.

Vistos pelo ângulo da história, no entanto, os poemas soam como um prenúncio da ascensão ao poder de Temer nos últimos anos. Glamurama selecionou alguns deles para contar um pouco da história do 37º presidente do Brasil:

 

“Quando eu nascer, Senhor

Daqui a quatro horas,

Pela sexagésima segunda vez,

Fazei com que eu nasça

Um outro homem (…)

Que eu seja honesto, Senhor,

Sem fazer da honestidade

Uma pregação.” (Nascimento e Desejo)

Temer no início da carreira política, nos anos 1980 || Créditos: Agência Brasil

 

Temer nasceu em Tietê, no interior de São Paulo, onde seus pais — imigrantes libaneses — se instalaram nos anos 1920. Caçula de oito irmãos, ele se formou em direito pela Universidade de São Paulo em 1963, e exerceu a profissão de advogado por vários anos. Considerado um especialista na constituição brasileira, ele também é autor de dois best-sellers sobre o assunto: “Elementos de Direito Constitucional” e “Constituição e Política”, ambos recomendados nas principais faculdades de direito do país. A estreia na vida pública ocorreu em 1970, quando começou a trabalhar como procurador em São Paulo. Em 1981, Temer se filiou ao PMDB, e a partir daí tinha início sua carreira política.

 

“(…) Que compulsão é esta?

O que buscas?

Será a incapacidade de fazer coisas úteis?

Mais objetivas?

É por isso que procuras o subjetivo?

Para quem a tua mensagem?

Para ti?

Para outrem?

Não sei.

Mais uma que faço sem saber por quê.” (Exposição)

Temer na presidência da Câmara dos Deputados, em 2009 || Créditos: Agnews

 

Temer se candidatou a deputado federal constituinte em 1986, e nas eleições de 1990 concorreu novamente ao cargo de deputado federal. Em ambas as ocasiões obteve somente a suplência. Em 1995, ele foi escolhido como líder do PMDB na Câmara, com o apoio do então presidente Fernando Henrique Cardoso. Eleito presidente nacional do partido em 2001, Temer se aliou a Luiz Inácio Lula da Silva no segundo mandato do petista na presidência, quando passou a integrar a base aliada.

 

“Embarquei na tua nau

Sem rumo. Eu e tu.Tu, porque não sabias

Para onde querias ir.

Eu, porque já tomei muitos rumos

Sem chegar a lugar nenhum.” (Embarque)

Temer, ao fundo, com Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva, durante a campanha presidencial de 2010 || Créditos: Agência Brasil

Em 2010, mesmo não sendo uma unanimidade entre os petistas, Temer foi escolhido para ser o vice na chapa que lançou Dilma Rousseff como candidata à presidência. A estratégia do PT era manter o apoio de Temer e, principalmente, do PMDB, além do tempo extra que ganharia no horário eleitoral com a aliança. Para Temer, a oportunidade de se tornar vice-presidente da República era vista por ele, naquela época, como a melhor maneira de terminar sua carreira política.

 

“Escrever é expor-se.

Revelar sua capacidade

Ou incapacidade.

E sua intimidade.

Nas linhas e entrelinhas.

Não teria sido mais útil silenciar?” (Exposição)

 

Temer e Dilma, em cerimônia no Palácio do Planalto em 2015 || Créditos: Agência Brasil

Cinco anos após o anúncio da aliança, em 2015, Temer escreveu a famosa carta em que se queixava por ser tratado como “um vice decorativo” pela ex-presidente Dilma. “Verba volant, scripta manent” (“As palavras voam, os escritos permanecem”), Temer dizia na mensagem, enviada “em caráter pessoal” à então chefe do Executivo, mas que acabou sendo vazada pela imprensa. Na ocasião, Temer se apressou em deixar claro que, apesar das críticas, não ensaiava um rompimento com Dilma.

 

“Deixo que o tempo passe.

E que os papéis

Percam atualidade.

Superados, rasgo-os.

Também assim

Nas relações.

Deixo que o tempo as consuma.

Exauridas, elimino-as.” (Tempo que Passa)

 

Romero Jucá e Temer, em 2016 || Créditos: (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

O rompimento de fato ocorreu no fim de março, quando o PMDB anunciou o rompimento com o governo Dilma. A partir daí, Temer se viu livre para cuidar pessoalmente da articulação pelo afastamento da ex-presidente, o que veio a ocorrer no mês seguinte.

 

“Eu não sabia

Eu juro que não sabia!” (Saber)

 

Temer durante a segunda posse de Dilma Rousseff, em 2015 || Créditos: Agência Brasil

Já em seus primeiros dias, o governo Temer teve momentos de grande instabilidade. Nomeado ministro do Planejamento por Temer, Romero Jucá permaneceu pouco mais de uma semana no cargo. A saída de Jucá teve a ver com a divulgação de uma conversa telefônica, vazada pela imprensa, em que ele sugere um “pacto” para barrar a Operação Lava Jato. Nos meses seguintes, outros dois ministros de Temer foram derrubados por terem seus nomes citados na força-tarefa de Curitiba, Henrique Eduardo Alves, do Turismo e Fabiano Silveira, que chefiava a pasta da Transparência. Em todas as ocasiões,Temer afirmou que nada a tinha a ver com as acusações que pesavam contra eles.

 

“O presente

Tão presente

“Tão instante

Tão agora.

O passado

Tão passado

Tão distante

Tão longínquo.

O futuro

Tão desconhecido

Tão preocupante

Tão inevitável

E tão desejável!” (Presente/Passado/Futuro)

 

Diante de um país dividido, e enfrentando questionamentos dentro e fora e do Brasil sobre sua legitimidade na presidência, Temer tem a difícil tarefa de convencer os brasileiros e o mundo de que o Brasil pode dar certo. Se conseguir, há quem diga que ele possa considerar uma candidatura em 2018. Se não conseguir e como disse a ex-presidente Dilma antes de ser afastada, ele é carta fora do baralho. (Por Anderson Antunes)

 

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