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Por Antonio Bivar para revista Joyce Pascowitch de janeiro

Num único volume de mais de mil páginas, editado por Pat Hackett, o Diários de Andy Warhol foi primeiro publicado em 1989, dois anos depois de sua morte. A tradução brasileira, por Celso Loureiro Chaves, saiu aqui no mesmo ano, pela L&PM. Daí que, 15 anos depois, passando por uma banca de revistas, vi que Diários estava de volta, agora, para conforto do leitor, publicado em dois volumes pela L&PM Pocket (R$ 29 cada um). Não resisti: comprei o primeiro volume. Eu já tinha lido a edição americana assim que saiu e era novidade. Na releitura, 15 anos depois, sem o compromisso tipo obrigatório da novidade, o prazer é maior e com todo o l’air du temps de décadas já bem passadas. Ainda que grosso, esse volume  (600 páginas, de 1976-1981) é um registro warholiano do turbilhão de festas, eventos, lugares e nomes coruscados na explosão do culto às celebridades, que teve seu primeiro surto naquela época. Todas as manhãs Andy Warhol ditava por telefone a Pat Hackett como fora o seu dia anterior, e ela, exímia taquígrafa, tudo anotava. Diário é uma espécie de sacola onde se joga tudo. De modo que, da sacola do Andy pesquei algumas pérolas, entre as quais algumas em que o diarista cita brasileiros com certa intimidade. E como estamos no ano da Copa no Brasil, vou começar pelo que Andy Warhol conta sobre Pelé. E outras gossips, na sequência, dos diários de Andy. Camp as camp can.

Quarta-feira, 13 de junho de 1977. De táxi até a Rockefeller Plaza para ir ao escritório da Warner Communications ver Pelé, o jogador de futebol que está sendo fotografado para a Interview. Ele é adorável, lembrou que me encontrou uma vez no Regine’s. Ele tem uma cara engraçada, mas quando sorri fica lindo.

Terça-feira, 27 de setembro de 1977. Ahmet Ertegun telefonou convidando para o jantar em homenagem a Pelé. Meu retrato de Pelé seria apresentado, o pai e a mãe de Pelé estavam lá e eles são uma graça, e a mulher dele é branca, mas todo mundo é de uma cor diferente na América do Sul – os pais dele também são de cores diferentes.

Sexta-feira, 6 de janeiro de 1978. Richard Weisman telefonou e disse que Pelé estava indo à Coe Kerr Gallery e então tive de ir lá autografar (táxi US$ 5). Pelé é gentil, me convidou para ir ao Rio como seu hóspede (táxi para casa US$ 4).

Segunda-feira, 29 de maio de 1978. Caminhamos até o One Fifth para almoçar e no caminho vi Patti Smith de chapéu coco comprando comida para o gato dela. Convidei-a achando que recusaria, mas ela disse: “Que bom!”. Patti não queria comer muito e por isso comeu metade do meu almoço. Não parecia feia – se se lavasse e vestisse melhor.

Segunda-feira, 5 de junho de 1978. Jerry Hall estava com o mesmo vestido verde Oscar de la Renta com o qual estava na última vez que saí com ela, e quando entramos no elevador notei que ela cheira no sovaco, que não tomou banho antes de se vestir. Portanto acho que Mick [Jagger] deve gostar do cheiro.

Sexta-feira, 1 de dezembro de 1978. Coquetel no escritório antes do jantar para Elisinha Gonçalves no 65 Irving. E fui convidado para a festa de Natal de Jackie O., mais uma vez.

Domingo, 4 de março de 1979. Fomos ao Laurent onde [Salvador] Dalí tinha nos convidado a jantar, havia umas 40 pessoas lá. Então os garotos quiseram ir à festa da Xenon para Pelé. Nova York está tão cheia de brasileiros que parece que aqui é o carnaval.

Quarta-feira, 14 de março de 1979. Festa da Cartier que Ralph Destino estava oferecendo em comemoração ao aniversário do relógio de pulso de Santos Dumont. Bob ajudou a contatar celebridades (Paulette Goddard, Truman Capote…). E Monique van Vooren estava lá, disse que Nureyev iria: “Se é para ganhar relógio de graça ele virá”. E naquele momento ele entrou. O relógio de pulso foi inventado a partir da ideia de Santos Dumont, que era piloto.

Quinta-feira, 5 de abril de 1979. Busquei Catherine [Guinness] e fomos para o Regine’s. Paloma Picasso estava lá com o marido e o namorado. Neil Sedaka chegou com a família. Paloma apaixonou-se perdidamente por Neil. Disse que quando tinha dez anos de idade, na Argentina, costumava cantar “Sweet Sixteen” em português e espanhol, e aí cantou para Neil nessas línguas e ele adorou, ficou muito impressionado com ela.

Quarta-feira, 31 de outubro de 1979.

Fiquei em uptown toda manhã e aí fui encontrar Elisinha Gonçalves e Bob [Colacello] na Mayfair House e caminhamos até o Maxwell’s Plum. Nosso atraso foi conveniente, porque todos estavam esperando para nos ver. Estava cheio, tivemos de fazer força para entrar.

Segunda-feira, 8 de setembro de 1980, Miami. Acho que lugares quentes enlouquecem as pessoas. Fritam o cérebro da gente. No avião, de volta a NY, uma senhora sentada na poltrona à minha frente pediu um autógrafo e eu autografei um saquinho de enjoo para ela.

Sexta-feira, 5 de dezembro de 1980. E será que contei que Florinda Bolkan veio para ser retratada? Ela não queria fazer nada sem que Marina Cicogna dissesse ok – nem mexer a cabeça. E [a condessa] Marina parece uma motorista de caminhão, empurra todo mundo, e se isso é amor, então acho que isso é que é amor.

Domingo, 26 de abril de 1981. Jantar no Da Silvano. E Anna Wintour estava lá. De início não consegui lembrar o nome dela, mas por fim lembrei. Acaba de ser contratada pela revista New York, para ser editora de moda. Queria trabalhar na
Interview, mas não a contratamos. Talvez devêssemos tê-la contratado. Mas não acho que ela sabe se vestir, na realidade se veste muito mal.

Quarta-feira, 10 de junho de 1981. Bem, minha filosofia de vida é: a vida não é digna de ser vivida sem saúde e saúde é riqueza – é melhor que dinheiro e amizade e amor e qualquer outra coisa.

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