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Penetração crescente de esportes que demandam tempo e esforço como a corrida e o ciclismo cria novas legiões de viciados em endorfina. Mas e a libido, como fica?

por paulo vieira

Em sua coluna digital sobre ciclismo e cicloativismo na Folha de S.Paulo, Erika Sallum chamou atenção para um fenômeno à primeira vista bastante conhecido, a objetificação da mulher – neste caso, na versão sobre o selim. Mas os exemplos que a jornalista deu em seu texto lançaram outras luzes sobre o tema, pois eram as próprias mulheres que, deliberadamente, se exibiam sensuais para seus seguidores nas redes sociais. Como a triatleta colombiana Tatiana Girardi, com 1,5 milhão de fãs no Instagram. Uma estratégia, ponderou Erika, de empoderamento. O que a jornalista não tematizou foi um assunto correlato, a possível falta de tempo – e disposição – dessas musas da endorfina para o sexo.

Muitos outros esportistas, amadores, talvez também sofram de inapetência para o mambo horizontal. É que atividades como ciclismo, corrida e natação e a modalidade que une os três, o triatlo, demandam algum tempo de treinamento, quase sempre em horários caprichosos, até mesmo antes do amanhecer. E essas práticas estão em alta no Brasil, especialmente entre gente (muito) acima dos 30 anos, como se pode ver em qualquer parque das grandes cidades. Se a edição brasileira do Ironman, realizada mês passado em Florianópolis, teve considerável diminuição de procura, isso se deveu, segundo Carlos Galvão, seu organizador, “ao grande número de provas do Iron pelo mundo”, além, ele concede, de um “reflexo da crise”, pois “preparar-se para esse desafio é caro”.

“Brincamos entre nós de que o cara que treina muito não pode estar transando”, diz José Carlos Fernando, o carismático professor Zeca da assessoria esportiva ZTrack, uma das pioneiras de São Paulo, hoje com cerca de mil alunos, quase todos corredores amadores. Mas Fernando faz questão de dizer que seu comentário é 100% brincadeira, pois não dispõe de estudos científicos ou observações empíricas para fazer tal inferência. Mas reconhece que algumas pessoas treinam demais “para ficar mais tempo longe de casa”. Para a psicóloga do esporte Wania Rennó, que diz jamais ter atendido em sua clínica quem se queixasse de perda de libido por conta dos excessos do esporte, é preciso ter “equilíbrio”. “Falo sempre para os pacientes não deixarem de viver a própria vida, pois muitos passam a gostar tanto de correr que param de frequentar eventos familiares e de amigos, alegam que não podem beber e têm de acordar cedo”, diz. Wania concorda que a corrida “vicia” por conta da liberação da endorfina e outros hormônios na corrente sanguínea do praticante, o que provoca enorme sensação de bem-estar. A atividade física, segundo ela, ainda auxilia muito no “emocional” das pessoas, embora haja o risco de fazer seu adepto tornar-se um sujeito “recluso”.

“Equilíbrio” é também a palavra preferida do educador físico Marcos Paulo Reis, ex-treinador da delegação brasileira de triatlo nas olimpíadas de Sydney e de Atenas, e, com sua MPR, mais um pioneiro da corrida entre amadores. Para ele, “se o cara não é xiita”, vai encontrar tranquilamente espaço na agenda para o esporte e para as demandas da vida pessoal e profissional. Segundo ele, baixa libido por conta do esporte é “mito”. “Se o cara não está disposto, pode ser por um milhão de razões, mas não por isso.”

O consultor financeiro uberlandense Nilson Lima, 66 anos, encontrou uma maneira, digamos, conservadora de contornar o problema. Provavelmente o homem que mais praticou maratonas e ultramaratonas do Brasil, com, até aqui, 250 dessas provas de mais de 42 quilômetros no currículo – 55 delas apenas em 2018 –, ele é casado com uma triatleta, a administradora Silvana Vieira. Nas viagens “maraturísticas”, o casal tenta manter uma agenda comum. No giro europeu de 17 dias que irão empreender em setembro, o par só se separa em três. É que no mesmo dia em que Lima corre a maratona de Varsóvia, sua mulher ataca as ruas rápidas de Berlim. Nas provas de Londres, Oslo e Moscou vão estar juntos, assim como nos dias de São Petersburgo, cidade escolhida para a “folga” entre as maratonas. Quando estão em Uberlândia, outras exigências paralelas da corrida, como a prática de musculação, é resolvida conjuntamente. “Isso nos ajuda a ter uma vida social e sexual ativa”, diz. Lima conta ainda que vários amigos e amigas seus acabaram por se separar por conta de uma certa discrepância esportiva em suas agendas. Um aspecto normalmente pouco salientado na vida desses atletas amadores é justamente a habilidade na administração de tempo. Para o treinador Zeca Fernando, maratonistas, triatletas e assemelhados são competentes nisso, o que os credenciam a alcançar posições de destaque no mundo corporativo. E ao contrário do que se costuma supor, triatletas, que normalmente treinam suas três modalidades em dois períodos distintos do dia, não passam (tantas) horas suando, mesmo quando no pico da atividade. “Duas horas diárias, de duas a quatro horas no sábado e descanso no domingo, com isso eles já conseguem se preparar”, diz Marcos Paulo Reis, da MPR.

Se a corrida não derruba a libido, não dá para dizer o mesmo do bom humor – ou, mais especificamente, daquela seção do humor que permite que as pessoas possam rir de si mesmas. Ao publicar um texto no portal R7 em que dizia que “gente que corre trepa menos para correr mais”, a jornalista Marcella Franco, hoje colunista da Folha de S.Paulo, passou a ser hostilizada por corredores amadores nas redes sociais com fúria digna de caminhoneiro falando dos ministros do STF. Alguns ameaçaram-na de morte.

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