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Tal Ben-Shahar || Créditos: Reprodução
Tal Ben-Shahar || Créditos: Reprodução

Onde está a felicidade? Chegar ao cume talvez não seja a melhor maneira de ser feliz, na metáfora do especialista da Harvard Tal Ben-Shahar, para quem a experiência de encarar a montanha é o que verdadeiramente conta.

Por Victor Santos para a revista PODER

O que é felicidade? Como consegui-la? No século 5 a.C., a Grécia foi palco de discussão dos filósofos cínicos que duvidavam das possibilidades do ser humano alcançar a felicidade no momento em que se submetiam às normas vigentes. Segundo os cínicos, tal busca só teria sucesso se o comportamento fosse guiado pelo impulso natural de cada um. Apesar da radicalidade desses pensadores, que tinham como prática renunciar aos bens materiais, suas provocações ribombaram ao longo do tempo. Alcançar a felicidade é uma questão universal, geradora de boa parte da produção cultural conhecida. Sem o postulado cínico, até mesmo o sambista Martinho da Vila nadou de braçada no tema. Em sua antiga canção “O Pequeno Burguês” insere já no primeiro verso todo o drama do suburbano que, ao entrar na universidade, tem de se entender com os boletos bancários. “Felicidade! Passei no vestibular, mas a faculdade… É particular.”

Ingressar na faculdade ou na empresa dos sonhos, conquistar um cargo desejado, concluir um projeto inovador, receber um aumento salarial cobiçado… entre todas essas realizações, o sentimento de felicidade, quem sabe até de plenitude, pode ser vivido – por um momento. O problema é que a busca da felicidade e as regras provenientes do contrato social entram em choque com certa frequência. Cabe então a pergunta: a conquista gera felicidade? Por pouco tempo, talvez sim; a longo prazo, provavelmente não.

Foi nesse contexto que o professor de um dos cursos mais concorridos da Universidade Harvard, Tal Ben-Shahar, autor do best-seller Seja Mais Feliz, e que atua no âmbito da chamada psicologia positiva, cunhou o termo “arrival fallacy”, ou, a falácia da chegada, em tradução literal. A ideia é que aquilo que as pessoas normalmente projetam alcançar com a consecução de um objetivo, de valor claramente positivo, esse “algo” pode se desmanchar no ar ato contínuo. “Felicidade não consiste em chegar ao pico de uma montanha, nem em fazer uma escalada sem rumo, felicidade é a experiência de subir até o topo”, explica Tal Ben-Shahar.

Na esfera exclusiva do trabalho passa-se algo semelhante. A psicóloga e coach de carreira e desenvolvimento pessoal Eliana Totti aponta três fatores que ela considera muito importantes no âmbito motivacional – fatores até mais relevantes do que o sucesso na consecução dos objetivos: o conhecimento do que se faz; o propósito, conceito em voga que em que se vê um sentido muito maior na labuta do que a mera sobrevivência; e a autonomia de criar e desenvolver o próprio trabalho, o que proporciona um sentimento de valorização profissional.

Todos esses pontos, vale ressaltar, não tendem a gerar um estado contínuo de felicidade, segundo a consultora. “A felicidade em si não é um estado perene e a tristeza também tem uma função importante na vida, só é preciso entender como lidar com ela de maneira saudável”, diz Eliana, ressaltando que tudo depende de uma busca consciente pelo equilíbrio, de não se deixar submergir pelos sentimentos ruins e tampouco projetar expectativas futuras em algo específico. Sobre o vil metal, é ainda mais categórica: “Salário não motiva ninguém. Se fosse assim teríamos muitas pessoas ganhando bem e sendo felizes”.

Eis um bom exemplo: morador da cidade de Maria da Fé, sul de Minas Gerais, o escultor Domingos Tótora foi buscar a felicidade longe da correria de um grande centro. Do alto da serra da Mantiqueira, viu seu trabalho ganhar o mundo – inclua aí vendas na casa de leilões Sotheby’s e em galerias internacionais. “Tudo o que eu preciso para criar eu tenho aqui, no meio dessa beleza”, conta. “Não existem mais fronteiras. Este ano abro uma exposição em Los Angeles. E posso estar aqui, caminhar de manhã com meus cachorros, aproveitar a beleza da região, a luz da serra. Tudo o que me faz um bem danado.”

A busca pela alegria não tem uma regra que possa abranger todas as pessoas, cada um deve buscar o que lhe possibilite isso. Há ainda um aspecto geracional. Na visão de Eliana Totti, as gerações mais maduras, como a X e a do baby boom aprenderam a valorizar a conquista de objetivos, até com base no sacrifício, no intuito de, assim, atingir a satisfação. Por outro lado, gerações como a Y têm um entendimento diferente e encontram no processo o espaço para a busca de bem-estar. O que uniformiza as disparidades são os fatores externos. Eliana cita a pesquisadora da Universidade de Houston Brené Brown quando afirma: “Não é o sucesso que traz felicidade, é o seu estado de felicidade que provoca o seu sucesso”.

O professor Tal Ben-Shahar também traz em seus livros uma ressalva de que a falácia da chegada não deve servir de desculpa para aceitar uma vida medíocre. O importante é conscientizar-se de que a crença na cultura de alcançar metas pode ser frustrante; e de que a procura pelo valor está em cada passo da caminhada, não apenas no trabalho. Equilibrar com sabedoria trabalho, família e lazer é uma tarefa difícil, porém é bem mais produtivo se engajar naquilo que se faz presentemente do que projetar conquistas, que serão pequenos motores de momentos de prazer.
Uma boa sacada para entender a equação veio de Vinicius de Moraes (sempre ele!) nos versos de A Felicidade. Canta o poetinha: “A felicidade é como a pluma, que o vento vai levando pelo ar. Voa tão leve, mas tem a vida breve. Precisa que haja vento sem parar”.

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