Liliane Rocha, fundadora e CEO da Gestão Kairós, consultoria de sustentabilidade e diversidade para indivíduos, empresas e comunidades e autora de Como Ser um Líder Inclusivo, respondeu três perguntas para a PODER. Acompanhe!
VOCÊ CUNHOU A EXPRESSÃO “DIVERSITY WASHING”. O QUE SIGNIFICA?
Venho da área de sustentabilidade onde o termo “green washing” é comum e se refere a empresas que se apropriam do atributo de responsabilidade ambiental, mas não se preocupam em serem sustentáveis da porta para dentro. Um dia, vi um comercial de uma empresa de bebidas e pensei no “diversity washing”, uma lavagem da diversidade. Empresas que quando questionadas respondem com um comercial. Mas qual o percentual de negros na empresa? Não tem. E mulheres na liderança? Também não. E também não estão dentro da cota de pessoas com deficiência estabelecida pela lei de 1991.
QUAIS OS PASSOS PARA UMA EMPRESA SER DE FATO INCLUSIVA?
É preciso questionar se ela faz o que prega e alinhar para o que está no comercial e nos produtos – como é o caso de marcas que produzem bonecas negras ou trans – também faça parte da empresa na mesma proporção da sociedade. Se você coloca isso no seu posicionamento e essas pessoas não estão lá, talvez você esteja fazendo “diversity washing”. Afinal, o problema não é divulgar e não ter diversidade, mas divulgar e não ter nenhum plano para ter.
QUEM GANHA COM A INCLUSÃO?
Todo mundo. Primeiro o indivíduo porque sabe que vai ter oportunidades iguais – considerando que 52% da população são mulheres, 56% negros, 7% de pessoas com deficiência e, no mínimo, 10% LGBT+. Isso é insalubridade do tecido social: uma sociedade em que metade das pessoas está achando que não tem chance de entrar no mercado ou que vai sofrer discriminação não é saudável. Brinco que é também a oportunidade para os homens brancos e cisgêneros saberem se estão lá por mérito. Além disso, a empresa também ganha. Estudos de vantagens competitivas mostram isso – uma pesquisa da McKinsey aponta que empresas que têm mais equilíbrio de diversidade de etnias na alta liderança são até 33% mais propensas à lucratividade que aquelas que não têm. É clichê, mas é real: como a gente constrói um Brasil desenvolvido deixando uma parte da população para trás?