1. A magnitude da volatilidade das cotações na Bolsa e da taxa cambial e dos seus perniciosos efeitos sobre o comportamento da economia real pode ser apreciada pelos seguintes fatos. No decorrer de 2009 o Brasil registrou a mais formidável recuperação de sua Bolsa e a maior valorização do Real (fenômenos não independentes), saudado como “moeda forte” pelo mercado, pelo Governo e “tutti quanti”. O resultado final para os “investidores” estrangeiros em renda variável foi uma taxa de retorno da ordem de 7,5% mensal em dólares, contra uma taxa de retorno anual praticamente nula nos EUA. O Brasil transformou-se no “enfant gâté” dos especuladores internacionais. No início de 2010 o cenário ficou um pouco mais complicado. O mercado “internalizou” que a situação fiscal de Portugal, Itália, Grécia e Espanha é um pouco mais do que preocupante! Estes países são agora conhecidos pelo desrespeitoso e humilhante acrônimo de PIGS (porcos, na linguagem financeira universal). Isso bastou para que os supostos “investidores” refizessem os seus portfólios procurando proteção na suposta “moeda fraca” (o dólar!…). Nas últimas cinco semanas produziu-se um movimento simultâneo de queda das cotações na Ibovespa e aumento da taxa de câmbio Real/US$.
2. Pois bem. Nesse período o Ibovespa perdeu 10% (70 mil para 63 mil pontos) e o Real desvalorizou-se quase 10%, produzindo uma taxa de retorno negativa (ponta a ponta: 4/01-5/02) da ordem de 20%, praticamente a mesma dos PIGS! É claro que todo mercado flutua e que em condições normais de pressão e temperatura é essa flutuação que sugere aos “investidores” a melhor alocação dos seus recursos. Na economia real ela orienta os empresários a servir adequadamente à demanda. Mas é óbvio que tais flutuações produzidas pelos ajustamentos de portfólios de agentes apenas preocupados com o “lucro especulativo” não servem de estímulo ao verdadeiro investidor: aquele que constroi fábricas, compra máquinas, traz nova tecnologia, emprega trabalhadores e remete (quando remete!) talvez 10% do valor adicionado produzido internamente por seu investimento.
3. Passando de pato a ganso, a má notícia da semana foi a intervenção mais do que discutível do Ministério Público (do Pará) contra a aprovação da Usina de Belo Monte no rio Xingu, ameaça energicamente contestada pela Advocacia Geral da União. O Ministério Público é uma instituição fundamental para o aperfeiçoamento da sociedade republicana e precisa ser prestigiado. É inegável, entretanto, que dispõe de um poder que deve ser utilizado moderadamente. Não pode estar a “serviço” de qualquer ideologia ou de idéias eco-concebidas sobre fenômenos cuja complexidade exige o conhecimento científico, o que significa tão objetivo quanto é possível.
Por Antonio Delfim Netto