1. No governo Lula duas circunstâncias importantes mudaram o panorama nacional. É injusto dizer que foram “bilhetes de loteria premiados”, como costuma caracterizar a oposição. Foram, sim, produto de trabalho, perseverança e de alguma sorte… A primeira foi a expansão da economia mundial a partir de 2002: entre 1996 e 2002 o valor anual em dólares do comercio mundial cresceu menos de 5%; de 2002 a 2008 esse crescimento foi de 16%! O Brasil se beneficiou largamente desse processo (sem fazer nenhum esforço exportador e com uma política cambial deplorável) que praticamente eliminou sua restrição externa.
2. Esse evento foi um “bônus”, mas só aconteceu porque nossa agricultura estava preparada para responder ao aumento da demanda mundial graças aos aperfeiçoamentos da política agrícola, ao “espírito animal” de nossos empresários e aos enormes ganhos de produtividade das pesquisas estimuladas pela Embrapa. Foi o trabalho dos nossos agricultores, a perseverança na melhoria da política agrícola e na pesquisa que permitiu ao Brasil aproveitar a “maré de sorte”… Não houve “almoço grátis” como querem os críticos míopes. Houve a oportunidade de aproveitar as condições que vinham sendo criadas ao longo de muitos anos.
3. A segunda circunstância é a “descoberta” do chamado “pré-sal”, uma importante reserva de petróleo que está ali a centenas de milhões de anos! Trata-se de óleo aparentemente mais leve mas que, caprichosamente (“não há almoço grátis”!), insistiu em manter-se a 300 quilômetros da costa e a uma profundidade de 5.000 a 7.000 metros. Não entendo de petróleo. Suspeito, entretanto, que os que entendem já sabiam da possibilidade de existência do “pré-sal” em várias localizações geográficas. Talvez seja ridículo atribuir sua “descoberta” à Petrobrás, mas é preciso reconhecer a capacidade técnica que ela desenvolveu na exploração em águas profundas. De novo, a exploração do “pré-sal” será o resultado do trabalho, da perseverança e de alguma sorte…
4. É muito provável que, com pequenos ajustes na lei, se pudesse fazer a exploração do “pré-sal” com todas as necessárias garantias à propriedade nacional do petróleo. Por outro lado, as críticas às mudanças parecem exageradas e viesadas. Honestamente, qual Governo deixaria de dar ênfase política à “descoberta” do “pré-sal” e de explorar a ingenuidade popular como “defensor dessa riqueza nacional contra a cobiça multinacional”?
5. Os argumentos “pró” e “contra” a política do “pré-sal” não enfrentaram, até agora, o verdadeiro problema que é tentar entender como evoluirá o novo paradigma da revolução industrial que está em marcha para reduzir o aquecimento da terra. É ele que comandará o desenvolvimento econômico nos próximos 30 anos. No caso do “pré-sal”, o maior risco do projeto futuro é ficarmos no passado…
Antonio Delfim Netto