Coluna Antonio Delfim Netto

1. Uma das consequências do exagero das preocupações com o meio ambiente (que precisa, mesmo, ser conservado!) que leva, no fim, a resultados desastrosos, é visível na política energética. Depois do “apagão” de 2001, quando o Governo afirmou-se “surpreso” com o fato, entramos num rápido processo de destruição da nossa matriz energética. Com as dificuldades ambientais enfrentadas pelos projetos hidroelétricos (energia limpa e renovável), escolhemos o caminho mais fácil da termoeletricidade (energia mais suja, mais cara e não renovável) e terminamos no estímulo à energia nuclear (ainda mais suja porque não se sabe o que fazer com os eternos “resíduos”), não renovável e ainda mais cara do que a produzida pelos derivados do petróleo.
2. A nossa política energética (de geração e transmissão), de racionalidade duvidosa em si mesma, tem sido piorada pela sanha tributária dos três níveis de Governo. Eles veem nela apenas o objeto de fácil tributação, sem medir as distorções que seus impostos impõem ao sistema produtivo nacional. Infelizmente, há uma geração o Brasil perdeu o hábito de pensar o “longo prazo”: foi substituído pelo “imediatismo” político oportunista que engana o cidadão de hoje que lhe dá o voto e não percebe o mal que está fazendo a seu filho, o cidadão de amanhã. Mantidas as condições atuais de tributação e alguns delírios ambientalistas, o próximo govêrno eleito em 2010 enfrentará, inexoravelmente,  um aumento do custo real da energia em nada menos do que 30% até o final do seu primeiro mandato, o que terá desastrosas consequências econômicas e sociais.
3. O Brasil que já teve uma das energias mais baratas e mais limpas do mundo e que luta para mantê-la com o etanol, tem hoje uma das energias mais caras. E, a partir da renovação dos contratos das antigas concessões de hidroelétricas (2013/2015), terá, provavelmente, a mais cara. Se não houver uma urgente e inteligente mudança de política isso significará o fim de algumas atividades econômicas (alumínio, cobre) onde tínhamos vantagens comparativas naturais. Será possível que devido aos equívocos da política energética e à furia tributária irracional, nosso destino seja voltar a ser apenas catadores de minérios para que outros países os transformem em metais? Antes de votar em 2010 pergunte isso ao seu candidato!

Antonio Delfim Netto

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