1. Um dos fatores mais poderosos para acelerar as pressões inflacionárias é o comportamento dos salários reais quando comparados com o aumento da produtividade do trabalho. Se, por exemplo, a taxa de inflação é de 5% (medida pelo INPC – Índice Nacional de Preços ao Consumidor) e o salário nominal cresce 8%, o aumento do salário real é de 3% (8% – 5%). Se a produtividade do trabalhador cresceu 3% isso significa que o aumento de salário/real por unidade de produção permaneceu no mesmo patamar e, portanto, não exerceu nenhuma pressão para a elevação do preço do que foi produzido.
2. Os movimentos salariais desde o bem sucedido plano Real têm sido bastante civilizados. Os sindicatos aprenderam que forçar aumentos de salário real acima do crescimento da produtividade do trabalho acaba pressionando os preços contra o interesse do trabalhador. O Banco Central, ao ver o aumento dos preços, eleva a taxa de juros e corta a demanda do que está sendo produzido. Há dois efeitos possíveis, igualmente dramáticos: 1.não podendo transferir para os seus preços o aumento do salário real, o empresário reduz a sua produção e dispensa mão de obra (produz desemprego) ou 2.ele vê reduzir-se o lucro que financia os novos investimentos e, assim, reduz o crescimento futuro necessário para aumentar o nível de emprego.
3. Com a publicação dos números relativos a 2008 fica clara a compreensão desses fatos por conta de sindicatos e empresários. No ano passado praticamente 75% dos acordos salariais estabeleceram aumentos de salários reais positivos abaixo ou iguais a 3%, que deve ter sido o aumento médio da produtividade do trabalho. Menos do que 5% dos acordos ficaram acima de 4%. Infelizmente, dadas a condições setoriais desfavoráveis, 20% desses acordos registraram aumentos de salários reais nulos ou negativos.
4. Esses números mostram o exagero das preocupações do Banco Central e de certos analistas financeiros com o excesso de demanda global que supostamente estaria produzindo o aumento da inflação em 2008. Isso levou a um aumento da taxa de juros real que impactou os gastos do Governo com a dívida pública.
Por Antonio Delfim Netto