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1. Tem sido afirmado, com grande convicção, que o aumento do salário mínimo vai aumentar a demanda global de bens e serviços em montante equivalente ao seu valor total. Será isso verdade? É pouco provável. Basta considerar o seguinte: o aumento de salário do eventual empregado doméstico do caro leitor será um aumento do seu gasto. Em outras palavras: os 50 reais que você vai pagar a ele, significará ou uma redução de sua poupança, ou um corte dos seus gastos. Se você estava poupando, haverá um aumento de gasto de 50 reais, mas se você estava gastando fica tudo igual: ele gastará exatamente os mesmos 50 reais que você gastaria. O que mudará, provavelmente, é a natureza dos gastos: ele, que tem  uma renda menor do que a sua, gastará uma parte maior dos 50 reais em alimentos. O aumento da demanda global produzida pelo aumento do salário mínimo será apenas o derivado da diferença entre a propensão a gastar do seu empregado e a sua, nada muito maior do que 20% ou 30% do total. O mesmo ocorre, de modo menos visível, quando o pagamento é feito pelas empresas. Isso nada tem a ver com a opinião que temos com relação aos efeitos sociais e econômicos do salário mínimo. É apenas aritmética.

2. Diante da emergência de uma crise do sistema financeiro internacional, que importamos e cujas conseqüências seriam menores se o Banco Central tivesse agido com maior rapidez e disposição, trabalhadores e empresários têm tomado a inteligente decisão de repartir seus “custos”, reduzindo o número de horas trabalhadas e a remuneração. Trata-se de uma espécie de hibernação para sobrevivência mútua: o empregado mantem seus vínculos com a empresa, conserva sua auto-estima e tem a oportunidade de utilizar o tempo não trabalhado para melhorar sua qualificação; a empresa mantem o empregado com a habilidade e treinamento já adquiridos e, na volta à normalidade, ainda mais preparado. É evidente que seria melhor se não existisse a crise, mas não é menos evidente que tal solução beneficia o empregado, a empresa e a sociedade. É por isso que é difícil aceitar o oportunismo demagógico eleitoreiro de alguns líderes sindicais que a recusam.

3. Algumas dessas lideranças (e algumas autoridades) tentam justificar sua posição afirmando que “as empresas que ganharam muito no passado recente podem manter o emprego e sustentar os salários com esses recursos”. Isso só teria sentido se os “lucros” (que foram mesmo bons e gordos no passado recente) tivessem sido mantidos na caderneta de poupança e estivessem disponíveis. O fato é que eles foram transformados  fisicamente nos investimentos feitos para aumentar a produção e a produtividade dos trabalhadores: são os edifícios, as máquinas, os robôs, etc. Não podem mais ser reconvertidos em salários. Isso nada tem a ver com a justiça da distribuição entre salários e lucros. É apenas um fato físico.

Antonio Delfim Netto

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