A inquietação e o desejo por mudanças profundas são forças que movem uma das maiores vozes de inovação empreendedora no Brasil. Aos 27 anos, Monique Evelle acumula realizações que estão mudando os rumos dos negócios de tecnologia no país.
Evelle tinha 16 anos quando compreendeu seu papel como mulher preta e nordestina e comprometeu-se a propor inovações que horizontalizem as relações no afroempreendedorismo. Para tanto, criou um laboratório de tecnologias sociais e, hoje, junto com o Nubank, o maior banco digital independente do mundo, lidera a criação do NuLab Salvador, hub de tecnologia e experiência do cliente, e o Fundo de Investimentos para startups lideradas por empreendedores negros.
A iniciativa a fez ser reconhecida como uma das maiores empreendedoras do Brasil em 2021 pela Forbes americana. A baiana foi incluída na lista “30 under 30”, como um dos talentos brasileiros mais promissores da comunicação, marketing e mídia e também entre os 100 empreendedores do ano na América Latina pela Bloomberg Línea.
“Ter meu trabalho visto e reconhecido em diferentes esferas faz com que eu realmente queira continuar fazendo o que que faço: criar iniciativas grandiosas de impacto positivo e formar novos empreendedores por oportunidade no Brasil”, disse Evelle ao GLMRM.
Aos 27 anos, a hoje empresária, ativista, jornalista e escritora também figura entre os 50 profissionais mais criativos do país pela revista americana Wired. “O que a gente chama hoje de empreendedorismo, a periferia sempre chamou de sobrevivência”, costuma dizer em uma de suas palestras mais conhecidas.
O início
Criada na periferia de Salvador, no bairro Nordeste de Amaralina, Evelle conta que, apesar dos recursos limitados da família, seus pais lhe ensinaram a sonhar. Sonhar e realizar.
Seu primeiro negócio, o Desabafo Social, surgiu como chapa do grêmio estudantil, e depois se tornou um projeto que transbordou para as ruas de seu bairro para explicar sobre direitos humanos à comunidade de uma forma fácil.
“Sempre busquei respostas de como poderia fazer desse projeto uma fonte de renda, porque eu não queria militar de barriga vazia. Só conseguiria fazer com que a mensagem que eu estava compartilhando chegasse mais longe se eu não tivesse na luta por sobrevivência. Porque esse lugar de sobrevivência nos fragiliza pessoalmente e profissionalmente.”
Como jornalista, em 2017 fez parte da equipe do Profissão Repórter, da Rede Globo. Tornou-se finalista do Troféu Mulher Imprensa 2018 com uma reportagem sobre feminícídio.
Sempre atenta aos movimentos em volta de si, já se entendia como avessa ao discurso empreendedor de palco e à falta de mulheres no meio empresarial. Em 2019, lança então seu primeiro livro: “Empreendedorismo Feminino – Olhar Estratégico sem Romantismo”.
“[O livro] É o primeiro registro que faço onde compartilho, sem filtro, meus bastidores. Não é romântico, as pessoas podem não concordar, mas é a minha jornada.”
Em 2020, fundou a Inventivos, uma plataforma de desenvolvimento de novos
empreendedores que recebeu investimento do Black Founders Fund, fundo do Google For Startups.
Com aulas semanais, mentorias e networking, a comunidade conta com mais de 2,5 mil membros. “A partir da bagagem de 10 anos empreendendo, foi possível entender que a chance de sucesso dos empreendedores está em concentrar formação, conexões e geração de negócios em um só lugar. E a Inventivos trouxe isso”, diz a baiana.
Evelle ressalta ainda que não são apenas iniciativas que preenchem lacunas do mercado, mas sim aquelas que convocam o mercado e a sociedade para fazerem o mesmo: criar oportunidades para as maiorias silenciadas.
“Eu quero e tenho trabalhado na Inventivos para levar o Brasil para o top 3 no ranking de empreendedorismo no mundo. Isso significa compartilhar e orientar novos empreendedores e empreendedoras para que construam negócios sustentáveis”, afirma.
A empreendedora é tema de um episódio de “Os Originais”, da Netflix, uma série de minidocs com personagens de destaque que representam a diversidade em suas áreas de atuação. Assista:
Sobre empreender
Apesar dar dificuldade que é empreender no Brasil, Evelle ressalta que este não precisa ser um processo solitário.
“Não deixe o medo falar mais alto. O desconhecido vai fazer você sentir vontade de recuar, de desistir. Isso é natural. Mas antes de acreditar que sua ideia é péssima, invista nela, anuncie para o máximo de pessoas sobre o que você está vendendo e busque orientação.”
Para a empresária, o ponto crucial é entender o tempo do mundo, analisar contexto e criar a partir disso: “Essa é a forma mais eficiente de fazer seu negócio continuar existindo.”