Criador da neuroeconomia diz que um hormônio é o responsável pelo fator sucesso

Paul Zak, “pai da neuroeconomia”

Por Alexandre Makhlouf para revista PODER de novembro

Conhecido como pai da neuroeconomia – ciência que estuda as reações químicas no cérebro durante o processo de tomada de decisões –, Paul Zak é categórico ao afirmar que ser mais amável nas relações pessoais e profissionais é o caminho para se tornar mais bem-sucedido e feliz. Isso porque as interações sociais feitas de forma mais “quente”, como ele costuma definir, estimulam a liberação de oxitocina, hormônio produzido no cérebro que deixa as pessoas extrovertidas e confiáveis. A compilação dos estudos do ph.D e professor de economia da Universidade de Claremont, nos Estados Unidos, está reunida no livro A Molécula da Moralidade – as Surpreendentes Descobertas sobre a Substância que Desperta o Melhor em Nós (Campus). Aqui, o professor Zak  explica como a oxitocina – chamada por ele de “molécula da moralidade” – pode contribuir para tornar as pessoas mais bem-sucedidas e felizes na vida pessoal e profissional.

 

DR. JEKYLL & MR. HYDE

Minha teoria não tem nada de Rousseau, ou seja, não acredito que o homem seja bom por natureza, mas que é corrompido pela sociedade. Todos nós somos bons e maus, dependendo apenas das circunstâncias. Em algumas situações, ser agressivo é o mais adequado. Em outras, ser amável é a melhor opção. A ciência ainda não descobriu qual é exatamente o gatilho e em que parte do cérebro ele se localiza, mas uma coisa é possível afirmar: todos temos capacidade para ser bons e essa capacidade pode ser estimulada ou inibida.

 

MUNDO = ORGANISMO

A razão que me levou a estudar esse assunto foi entender por que alguns países são ricos e outros não. E todos os meus experimentos apontam para as interações sociais, como contratar pessoas ou montar um novo negócio, por exemplo. O que nós fizemos foi estudar populações de diferentes países tendo sempre como referência os níveis de confiança entre as pessoas. O Brasil é um ótimo exemplo disso, pois as pessoas são muito simpáticas e receptivas. O trato mais amável dos brasileiros indica uma liberação maior de oxitocina nas relações, mas não quer dizer, necessariamente, que exista confiança entre elas. Se não existisse esse ambiente de desconfiança, que tem raízes culturais e históricas, a situação poderia ser diferente.

 

SINAL VERMELHO

O primeiro fator que afeta a liberação de oxitocina é o estresse. Um aumento no índice de estresse inibe a liberação desse hormônio. Por exemplo: quando alguém que tem medo de avião embarca em um,  essa pessoa tenta puxar assunto com quem está sentado ao lado. Essa tentativa de contato social tem como explicação um impulso biológico,  o desejo do organismo de aumentar o nível de oxitocina no sangue, o que contribui para deixá-la mais calma.

Outro fator inibidor da liberação da oxitocina é o nível de testosterona no sangue. Quanto mais alto ele for, menor a liberação da oxitocina. Isso explica por que adolescentes costumam ser tão chatos: nessa fase da vida, os níveis de testosterona são altíssimos, o que os deixa menos sociáveis, empáticos e tolerantes.

 

SUCESSO NA CABEÇA

Quando alguém ganha poder, seja ele político, econômico ou de outro tipo qualquer, seus níveis de testosterona sobem – e, como já disse, a testosterona inibe a produção da oxitocina. Essa seria a interpretação biológica da expressão “o poder subiu à cabeça”. Isso acontece em homens e mulheres. Um jeito de equilibrar essa química corporal é a pessoa usar de transparência, mostrar que está tomando determinadas atitudes em prol de outras pessoas. É um tipo de interação que ajuda a estabelecer um vínculo entre as partes,  contribuindo para balancear os níveis hormonais.

 

SEXO (NADA) FRÁGIL

Em todos os estudos que fizemos, constatamos que mulheres liberaram 25% mais oxitocina do que os homens. Mas não é necessariamente verdade que as mulheres são sempre melhores nas relações interpessoais por causa disso. Na verdade, elas são iguais aos homens, apenas um pouco mais complexas  – quimicamente falando. Por causa do ciclo menstrual, elas são afetadas por variações hormonais. No comportamento maternal, entretanto, é natural que elas se destaquem pelos altos índices de oxitocina, mas existem diversos outros fatores a ser considerados quando falamos sobre confiança e moralidade: educação, fatores ambientais, o estresse da situação etc.

FÉ BIOLÓGICA

A relação da molécula da moralidade com a religião é principalmente o senso de paz e conforto que a maioria das religiões proporciona, porque todas pregam comportamentos sociais positivos. Pessoas que estão envolvidas em religiões e cultos liberam mais oxitocina porque têm noção de que tratar melhor os outros também é bom para elas – e estão acostumadas a fazer isso.

 

MAIS AMOR, POR FAVOR

Em espanhol, meu livro foi traduzido para “a molécula da felicidade” e eu fiquei bastante satisfeito com esse nome. Os psicólogos falam que felicidade é satisfação em longo prazo. Quando fazemos coisas para os outros, deixando as pessoas felizes, elas agradecem e isso nos deixa satisfeitos também. Nós poderíamos falar na felicidade sim, mas no sentido mais amplo da palavra. Não é só estar feliz naquele momento, mas sim levar uma vida tratando bem as pessoas, tendo altos níveis de oxitocina no sangue e, com isso, chegando mais perto da felicidade. Se preocupar mais com os outros do que consigo próprio é o melhor jeito de melhorar a nós mesmos. No começo, pode parecer estranho pensar que você tem mais chance de ser bem-sucedido se desejar que os outros sejam também, às vezes, antes de você  mesmo.

 

IMPULSO NATURAL

Existem muitas maneiras de estimular a produção de oxitocina no dia a dia. O principal catalisador desse hormônio é o contato humano, que deve ser estimulado sempre. Vale-tudo: dividir uma refeição, assistir a filmes dramáticos, beijar, aproveitar um momento que dê um frio na barriga (como andar de montanha-russa) ou dançar, de preferência com alguém de quem você goste. Basicamente, toda interação social estimula o cérebro a aumentar a produção de oxitocina. Isso significa que devemos tentar estar mais conectados com quem está ao nosso redor. Interagir em redes sociais também é uma forma de estimular a liberação desse hormônio. Mesmo que não exista, há interação. O interlocutor também é importante: quanto mais você gosta da pessoa com quem está falando, mais oxitocina libera.

 

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