Por Luis Costa para revista PODER de novembro / 2018
“O meu exercício é o teatro”, diz Otávio Augusto, 73 anos, 50 deles no palco, na tela e na telinha. A celebração das “bodas de ouro” entre o ator e seu ofício se deu no Rio, com a peça ‘A Tropa’, que ficou dois anos em cartaz. Mal saiu dela, já ensaia leituras de uma possível montagem de ‘Volta ao Lar’, clássico do britânico Harold Pinter (1930- 2008), vencedor do Nobel de Literatura em 2005.
Inspirado na história bíblica de Abel e Caim e na tragédia clássica Édipo Rei, de Sófocles, o texto conta a história de Teddy, um professor de filosofia que retorna à casa para apresentar a mulher à família. A peça, que o ator espera montar no começo de 2019, terá direção de Jorge Farjalla. “Ele tem montado grandes textos, um cara muito curioso e criativo”, diz.
Foi mesmo no teatro que o paulista de São Manuel começou a carreira de ator, nos agitados anos 1960. Era o tempo do lendário Teatro Oficina, marco da arte engajada no Brasil. “Tive sorte de ter iniciado minha carreira com Zé Celso, Renato Borghi, depois com Ademar Guerra. Não era simples você participar de um grupo como esse”, diz ele, que interpretou Perdigoto na histórica montagem de O Rei da Vela, de 1967, ícone do movimento tropicalista.
Conhecido pelo veia cômica, Otávio começou a inscrever seu nome na dramaturgia com personagens de humor popular. “É um pouco determinante do grupo com o qual você trabalha, do espetáculo que você está ensaiando”, explica o ator. “Sempre trabalhei muito para levar a coisa para o lado do humor. Eu acho que o público brasileiro deixa se encaminhar criticamente muito mais pelo humor do que pelo drama”, completa.
Em 2018, teve alguns sustos. Sofreu uma hidrocefalia e meses depois foi internado com arritmia, em meio à montagem carioca de ‘A Tropa’. Curiosamente, a peça se passa num leito de hospital. Otávio interpreta um coronel reformado do Exército que recebe a visita de quatro filhos, ensejo para rememorar passagens crucias da história brasileira, dos tempos da ditadura militar a estes anos da Operação Lava Jato.
Recuperado, preferiu não parar. “Nós, atores, não temos no nosso currículo o descanso. A gente vai fazendo, montando, exibindo, criando condições de fazer”, afirma ele, para quem fazer teatro no Brasil ainda é um desafio. “Não há disponibilidade econômica. No início da minha carreira, os produtores pegavam empréstimo no banco e você conseguia montar e pagar mensalmente tirando da bilheteria. Era uma coisa normal.”
“Hoje em dia, a pessoa que tem a sala de espetáculo não é obrigada a produzir. E às vezes o aluguel é um absurdo, a gente paga por dia”, observa. Para piorar, há, claro, os custos de montagem da peça. “Todo mundo quer que você faça um espetáculo e cobre R$ 5, R$ 10 pelo ingresso. Assim não dá para produzir muito.”