Quem quer ser um bilionário? Homens mais ricos do mundo contam como chegaram lá em livro

    N.R. Narayana Murthy, Warren Buffet, Lírio Parisotto || Créditos: Reprodução

Por Anderson Antunes para a revista PODER

O centro de convenções CHI Health Center, de Omaha, a maior cidade do estado americano do Nebraska, costuma receber milhares de pessoas vindas de vários cantos dos Estados Unidos e até de outros países todo mês de maio. Muitos são investidores que mantêm partes de suas economias em ações da Berkshire Hathaway, a holding de investimentos de Warren Buffett, responsável pela organização do megaevento anual. A turma vai lá não somente para conhecer as últimas impressões sobre seus portfólios diretamente do oráculo – Buffet não perde uma edição do encontrão. O que todos aguardam ansiosamente é a parte em que ele dá palpites de como qualquer um daqueles pequenos investidores pode vir a se tornar um bilionário. E, como Warren Buffet, entrar para a parcela dos 1% mais abastados do planeta.

Certa vez, questionado por um desses minoritários da Berkshire se havia, de fato, algum segredo para ficar podre de rico, o detentor da hoje terceira maior fortuna do mundo respondeu citando quatro passos básicos: “Candidate-se a um emprego, preencha um currículo, vista-se bem para a entrevista e, por fim, pergunte ao esse quem sabe seu futuro patrão como ele criou a empresa na qual você pretende trabalhar”, brincou, mas meio que falando sério e dando a entender que não se chega a lugar algum sem trabalho ou dedicação. Bilionários costumam concordar com esse postulado. É preciso lembrar, afinal, que há pouco mais de 2.100 pessoas na Terra com fortunas iguais ou superiores a US$ 1 bilhão – 56 delas no Brasil. Considerada a população mundial, sua chance de se tornar o próximo bilionário é de 1 em quase 3,5 milhões. Boa sorte.

Rafael Badziag, empreendedor alemão que ganha a vida dando dicas sobre esse assunto, contudo, acredita que pode ter desvendado o enigma que abre a porta do clube do bilhão. No livro que acaba de lançar nos Estados Unidos, The Billion Dollar Secret: 20 Principles of Billionaire Wealth and Success (O Segredo de Um Bilhão de Dólares: 20 Princípios Sobre Riqueza e Sucesso de Acordo com Bilionários, em tradução livre), diz como duas dezenas desses sortudos “chegaram lá”.

Inspirado no clássico Think and Grow Rich (Pense e Enriqueça), escrito ao longo de mais de 20 anos e publicado, em 1937, por Napoleon Hill a partir de uma sugestão do magnata e filantropo Andrew Carnegie, The Billion Dollar
Secret é objetivo naquilo a que se propõe, mas não difere muito de outros livros de autoajuda financeira que “vendem” objetivos mais alcançáveis, como quitar a dívida do cartão ou simplesmente adquirir a disciplina necessária para economizar. Ainda assim, é bastante revelador no que diz respeito aos personagens que aborda e que são, salvo raríssimas exceções, pouco conhecidos do grande público.

É o caso do indiano N. R. Narayana Murthy, uma espécie de Bill Gates da Índia que foi do zero ao primeiro bilhão (de dólares) graças ao sucesso da empresa de desenvolvimento de softwares que fundou, a Infosys. Primeira companhia indiana listada na bolsa eletrônica americana Nasdaq, a Infosys já rendeu bilhões de dólares a outros seis sócios e fez mais de 4 mil milionários até hoje. Como isso foi possível? “É algo que está dentro de você, tem que acreditar e jamais se render diante de obstáculos”, Murthy contou a Badziag. Detalhe: quando juntou o capital necessário para abrir as portas da empresa, Murthy, que hoje é dono de um patrimônio pessoal estimado em US$ 2,4 bilhões, nem sequer tinha um computador.

De trajetória tão intrigante quanto a de Murthy, o polonês Michal Solowow conseguiu a proeza de se tornar bilionário (com respeitáveis US$ 3,3 bilhões na conta) sem abusar das conexões com o Kremlin, como fizeram muitos de seus conterrâneos. Ele preferiu investir o primeiro milhão que amealhou construindo casas nos anos 1990 na bolsa polonesa, que viria a turbinar a partir dos anos 2000. Cultor de metáforas, Solowow disse a Badziag que os negócios são como a Olimpíada. “Você sempre precisa focar na medalha de ouro, o que por si só vai trazer inúmeros outros benefícios e dar mais ‘gás’ para a conquista de novas medalhas.”

Até o investidor brasileiro Lírio Parisotto entrou na roda. Descrito pelo alemão como possivelmente “o mais inovador” entre todos os bilionários que entrevistou, o fundador da Videolar, empresa que produzia fitas magnéticas (VHS e K-7), e que depois também passou pelo setor petroquímico, hoje ganha dinheiro investindo na bolsa brasileira. “É preciso assumir a responsabilidade pelas pessoas ao seu redor e focar em objetivos, de preferência grandes”, ensinou o gaúcho da pequena Nova Bassano, a cerca de 100 quilômetros de Caxias do Sul.

O segredo do bilhão de Badziag nada mais é do que uma ponderação feita no retrovisor por quem já se deu bem na vida, mas como bem lembrou Steve Jobs em seu discurso de formatura de uma turma da Universidade Stanford, em 2005, os pontos só se ligam quando você passa por eles. Visto de fora, essas análises servem mais para inspirar do que para guiar. Ou para facilitar as coisas para aqueles que já estão no caminho certo. “Esse livro teria sido perfeito para mim na juventude, teria me poupado a energia gasta com a leitura de outras coisas”, destacou o próprio Parisotto. Nisso, aliás, Warren Buffett concordaria, já que uma das frases mais famosas do oráculo de Omaha é a de que “sem paixão, não se tem energia”. “E”, segue, “sem energia, não se tem nada.”

PALAVRAS DE QUEM TEM MAIS DE US$ 88 BILHÕES.

“Candidate-se a um emprego, preencha um currículo, vista-se e, por fim, pergunte ao seu futuro patrão como ele criou a empresa”
Warren Buffet

Caminho para El Dorado: três dos entrevistados,
entre eles o brasileiro Lírio Parisotto

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