26.11.2016 / 10:13
Morre Fidel Castro, um dos maiores e polêmicos personagens do século 20
Pouca gente fez tanto barulho no século 20 quanto Fidel Castro. Na América Latina, ninguém. Um jovem advogado de família tradicional que decidiu defender as causas populares de moradia e acesso à terra e a partir daí abraçou o radicalismo da guerrilha para derrubar uma ditadura que tinha franco apoio dos Estados Unidos. Resultado (após muitas idas e vindas): uma república socialista pró-União Soviética a poucos quilômetros dos EUA. Em tempos de Guerra Fria, o caos. Pós-Guerra Fria, um acinte à nova ordem.
Tudo mudou, Barack Obama foi à terra de José Martí acenar a um novo tempo – que Raul Castro já tinha demonstrado desde que assumiu a presidência em lugar de Fidel em 2008. Novo tempo de abertura, mas não necessariamente de flexibilização dos direitos adquiridos pela revolução, garantem os cubanos. Mas fato é que, sem Fidel, enfrentar é difícil. E sua morte apenas deixa isso claro.
Para o Brasil, a morte de Fidel hoje não significa tanto. Para a esquerda sim, claro. E historicamente também, já que os partidos de quadros foram predominantes na luta armada da ditadura e vários grupos levaram dólares soviéticos via Cuba. Dessa época, ficou notória a briga de Brizola com Castro por conta do financiamento da guerrilha do Caparaó: Brizola reclamava falta de recursos e Fidel o chamava de “el ratón” por supostamente ter usado os recursos para comprar fazendas no Uruguai.
Ainda nas relações verde-amarelas, Fidel tinha grande afinidade com Frei Betto. O sacerdote e escritor premiado publicou “Fidel e a Religião”, livro-ícone em Cuba por abordar o maior tabu do comunismo na ultracatólica América Latina por meio de entrevistas com o próprio Fidel Castro – que nunca renegou sua criação católica, mesmo tendo renegado e nacionalizado as terras da própria família. Por esse livro, Frei Betto é o brasileiro mais popular em Cuba (Roberto Carlos é o segundo e Pelé, o terceiro) e vendeu mais de um milhão de exemplares num paí de 11 milhões de habitantes.
Para além de qualquer divergência política, Fidel Castro foi um dos maiores personagens do século 20, à altura de Winston Churchill, Franklin Roosevelt, Mahatma Gandhi e Mao Tsé-Tung. Sua imagem na Convenção da ONU, em Nova York, nos primeiros tempos da Revolução, muito antes de todas as polêmicas do regime cubano virem à tona (e não foram poucas, e incluíram até a perseguição penal de homossexuais), resume. Será que a história de fato o absolverá? (Por Fábio Dutra)