Uma homenagem a Zé Celso, diretor que mudou a arte brasileira

Foto: Paulo Freitas

Dia triste para arte brasileira. Morreu nesta quinta-feira (6), José Celso Martinez Corrêa, o Zé Celso, maior nome da dramaturgia nacional e criador da linguagem tropicalista no teatro. Foi Zé Celso que encenou a folia, a orgia e a anarquia no Teatro Oficina, também criado por ele.

Ele estava internado na unidade de terapia intensiva do Hospital das Clínicas depois de ter tido 53% de seu corpo queimado em um incêndio causado por um aquecedor elétrico que consumiu seu apartamento, no Paraíso, bairro da zona sul paulistana, durante a madrugada de terça-feira (4).

Sua trajetória

Foto: Divulgação/Jennifer Glass

Zé Celso mudou a arte brasileira. Mas sua história começa em Araraquara, onde foi criado em uma família de sete filhos por uma rigorosa mãe descendente de espanhóis, e um pai amoroso, amante dos livros e do cinema, que o levava na infância para ver os filmes.

O futuro garantido passava pela advocacia e, em um primeiro momento, o rebelde Zé Celso acatou uma tentativa de estabilidade profissional, como ditava a cartilha de sua geração. Na faculdade do Largo do São Francisco, começou ao frequentar o Centro Acadêmico 11 de agosto e cruzar com dois colegas de faculdade, o carioca Renato Borghi e o mineiro Amir Haddad, e juntos fundariam em 1958 o Teatro Oficina.

Era o desejo de fazer um movimento diferente como respostas às influências europeias do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) e o nacionalismo exacerbado do Teatro de Arena. Os primeiros textos montados são Vento Forte para Papagaio Subir (1958) e A Incubadeira (1959), de fortes tintas biográficas. Sempre conectado às transformações internacionais, Zé Celso colocou o Oficina no centro da vanguarda brasileira.

Em 1963, veio o primeiro grande sucesso com “Pequenos Burgueses”, peça do dramaturgo Máximo Gorki que estabelece um diálogo entre a Rússia anterior à revolução e o Brasil às vésperas de um golpe militar. A consagração veio com o mergulho do universo brasileiro e antropofágico do escritor Oswald de Andrade. “O Rei da Vela”, peça escrita pelo modernista em 1937, permanecia inédita nos palcos e foi encontrada por Borghi em um livro antigo. Em setembro de 1967, “O Rei da Vela” deu o ponta pé que o movimento tropicalista esperava para explodir.

Casamento

Foto: Paulo Freitas

O último espetáculo criado e protagonizado por Zé Celso, no entanto, foi o episódio de sua vida real. Em 6 de junho, o diretor oficializou a união com o ator Marcelo Drummond, companheiro há 37 anos, em uma grande festa no Teatro Oficina que reuniu centenas de convidados, entre amigos, artistas, políticos e personalidades ligadas à cultura brasileira.

GLMRM sente a perda de um dos nossos maiores artistas, grande nome da dramaturgia nacional, e envia nossos sentimentos à família e amigos.

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