O 2º Encontro Design + Arte + Moda apresenta as distintas expressões artísticas de Nicole Takasse e Taty Takasse. Nicole, idealizadora da marca Lobeira, cria obras que transcendem a estética, ressaltando a relevância do Cerrado brasileiro, muitas vezes esquecido. Enquanto isso, Taty, assina pela primeira vez como Takô, revelando suas “Meninas”, personagens nascidas de sua liberdade artística.
Taty nos conta a história de como nasceram as suas “Meninas”:
Pela primeira vez assino Takô, que em japonês quer dizer polvo. Apelido de infância que ilustrava o meu talento de mexer em tudo ao mesmo tempo e enlouquecer meus avós. E, coincidência ou não, também é como o falo masculino é representado nos mangás e desenhos eróticos japoneses. E como seres eróticos, liberto minhas “Meninas”.
Elas chegaram nos meus sketches, no exato momento em que eu me redescobria, e me surpreendia com meus personagens adormecidos. Enquanto estilista, as meninas eram feitas no meu momento de descanso e descaso com as tendências de moda, e eram meu exercício para estudos dos corpos em ângulos que jamais usaria para os sketches. Entre todas as transformações que venho exercendo e excedendo, as “Meninas” são as que melhor me traduzem. Elas são meu espelho, meu manifesto de um imaginário libertador. O Shibari, os livros do Araki, o whiskey com 3 pedras de gelo, os clubes de S/M e a abusada decadência dos boudoirs e cafés parisienses, embalam minhas “Meninas” com o cheiro bruto de Gitanes e Gauloises impregnando ao redor. Elas usam calcinhas grandes e desajeitadas, mostram os seios em sutiens transparentes, e sempre estão de salto alto. Costumo dizer que elas podem tirar a roupa mas os saltos: “Jamais!”
Elas sempre estiveram por perto, mas a partir dos anos 2000, inundaram pedaços de papel, tomaram lugar de anotações nas moleskines rabiscadas, e invadiram os sketch books. Os traços certos, os incertos, outros rápidos e sem muito pensar, fazem parte do resultado. Não uso borracha e gosto de ver o meu processo em cada linha torta que vai se corrigindo e borrando. É somente papel, caneta tinteiro, as nibs, e claro, as pontas dos dedos sempre manchadas de tinta. Muitas são parte de estudos e processos criativos, mas a maioria são somente deleite.
Elas não são o fim, elas são o processo, elas são o que importa naquele instante.
As “Meninas” estão sempre mudando, arriscando e experimentando. Assim vão permeando meus cadernos há mais de 10 anos, e outros mais que estão por vir.
O encanto acontece quando mãe e filha colaboram artisticamente. Nicole e Taty se entrelaçam na criação, com Taty bordando as obras de Nicole e vice-versa. Este evento não é apenas uma exposição, mas um testemunho da jornada compartilhada dessas duas mulheres artistas, que, para além de seus papéis de mãe e filha, encontram na arte uma forma de se redescobrirem mutuamente.
A Lobeira, fruto nativo do cerrado brasileiro, e sua relação com o lobo guará, me mostrou como o meu existir se conecta com outros “existires”. A fruta-do-lobo, como também é conhecida, alimenta e age como vermífugo para o lobo. E o lobo por sua vez, é o principal disseminador de suas sementes. Um conectado ao outro preservam um bioma ainda pouco falado, e tão importante quanto a Amazônia – o Cerrado Brasileiro, contou Nicole.
Nicole e Taty receberão convidados para conhecerem seus novos trabalhos em quadros, gravuras e bordados, no próximo sábado, dia 09/12 no estúdio da Paola Müller, na Rua João Moura, 503 – Conjunto 13 em Pinheiros