Publicidade
Burnout
Foto: Getty Images


Dores de cabeça e de estômago, insônia, cansaço físico e mental, sensação de impotência e dificuldade de concentração. Mesmo quem não viveu um burnout já está familiarizado com os principais sintomas da síndrome. As histórias se acumulam e é raro não conhecer alguém que tenha sofrido com a condição que ganhou, em janeiro deste ano, nova definição pela Organização Mundial da Saúde (OMS): “estresse crônico associado ao local de trabalho que não foi adequadamente administrado”.

Embora seja fácil listar os males causados, falar sobre as estratégias de cura são outros quinhentos porque as alternativas variam de acordo com cada pessoa e com as diferentes experiências vividas. Mas há algo em comum compartilhado por todos aqueles que já superaram um burnout e seguiram adiante: mudar a relação com o trabalho e, consequentemente, o estilo de vida é imprescindível para não ter uma recaída.

Rodrigo Bressan. Foto: Marcelo Halli

“Uma vez diagnosticado, é essencial identificar os fatores de risco que desencadearam o primeiro burnout para evitar que o episódio se repita no futuro’’, diz o psiquiatra Rodrigo Bressan, professor da Escola Paulista de Medicina (EPM/Unifesp) e presidente do Instituto Ame Sua Mente.

A psicóloga Ilana Pinsky, consultora da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e coautora do livro “Saúde Emocional: Como Não Pirar em Tempos Instáveis”, explica que a melhor estratégia para não reviver um burnout consiste em separar a vida pessoal da profissional. Para ela, a relação com o trabalho deve ser pensada como um casamento, em que se deve questionar o vínculo e entender o que há de positivo e de negativo nele, fazendo os ajustes necessários.

Ilana Pinsky. Foto: Divulgação

“Não há receita pronta, o que cura o burnout de uma pessoa não necessariamente vai resolver o problema de outra. Deve-se pensar em estratégias individuais. Há quem se sinta isolado com o home office, e entra em conflito com o trabalho porque o contato com pessoas é indispensável para seu desempenho. Em outros casos, é graças ao trabalho a distância que o indivíduo consegue investir na qualidade de vida, blindando-se contra o esgotamento profissional”.

Ilana Pinsky

Longe da toxicidade

De acordo com o psiquiatra Roberto Aylmer, médico e consultor de liderança especializado em burnout, as pessoas que vivem um episódio de esgotamento costumam seguir em frente mais atentas à saúde mental e ao autocuidado. Aylmer crê que elas aprendem a não tolerar um ambiente de trabalho tóxico, onde haja qualquer tipo de opressão, aceitando com mais facilidade o risco de ficar desempregado.

“Não há como viver um burnout, afastar-se por um período e voltar para a mesma condição de antes. Alguma mudança precisa acontecer, seja com a chefia, equipe, cargo, empresa, área de atuação e até a cidade ou o país. O melhor antídoto para curar uma relação abusiva com o chefe, por exemplo, é ter um novo responsável e receber feedback positivo dele, compreendendo que o problema não estava em sua performance como profissional”

Roberto Aylmer
Roberto Aylmer. Foto:Divulgação

A administradora pernambucana Renata, de 33 anos (o nome foi trocado a pedido), viveu uma experiência desse tipo há dois meses, com a chegada de um novo chefe que foi-lhe afastando gradativamente de suas funções dentro da empresa. As críticas sobre seu desempenho – muitas vezes em tom ofensivo – passaram a ser recorrentes.

Prostrada e sem ânimo para levantar da cama, precisou de crises de choro para entender que sofria assédio moral – o simples fato de ver o nome do chefe na tela do celular já causava pânico. Renata buscou ajuda psiquiátrica e, com o diagnóstico de burnout estabelecido, tratou a fase aguda da síndrome com afastamento imediato do trabalho e administração de antidepressivos.

Mas a cura definitiva veio de outras formas. Ela dialogou com ex-chefes para recuperar a autoestima perdida e ver reconhecido seu valor como profissional, reviveu um antigo desejo de realizar uma pós-graduação e mergulhou no desenvolvimento de uma marca de óleos essenciais destinados a mães e bebês – um sonho que já estava em andamento e ganhou força durante o burnout.

Já convencida de que deveria procurar um novo emprego, Renata foi informada pelo RH da empresa que ela seria realocada para uma nova equipe.

“Me restabeleci como profissional, aprendi a ler os sinais e entendi que era importante nutrir minhas habilidades sem depositar todas as expectativas em uma empresa. Se a mudança de equipe não tivesse ocorrido, eu já estava com todas as ferramentas necessárias para me recolocar no mercado. E sigo na terapia porque a saúde mental vale ouro.”

Renata

Reportagem por Carolina Melo

O texto completo está na edição 153 da Revista Poder, já nas bancas.

Neste artigo: burnout, esgotamento, trabalho, saúde mental

VOCÊ TAMBÉM PODE GOSTAR

Instagram

Twitter