Pode-se dizer que Facundo Guerra é um expert do mercado de entretenimento. Aos 48 anos, mezzo argentino, mezzo brasileiro, engenheiro de alimentos, pós-graduado em jornalismo internacional, mestre e doutor em ciências políticas, se tornou uma das mentes criativas mais atuantes da noite paulistana.
Filho de comunista que fugiu da ditadura militar no fim da década de 1960, nasceu em Córdoba e voltou com a família ao Brasil nos anos 1980. Antes de se revelar um talento no ramo do entretenimento, trabalhou por anos como executivo em multinacionais e, ao ser demitido, decidiu dar uma guinada na vida.
“De cara, levei um golpe financeiro de uns caras que tinham uma boate em São Paulo. Me deixaram na mão e eu não entendia nada da noite. O que fiz foi abrir uma boate como quem monta um laboratório, com cabeça de engenheiro, suprindo as deficiências que via nas outras casas da época.”
Essa tentativa inicial não vingou, mas logo veio um de seus maiores ‘cases’ de sucesso: o Vegas, fincado no então decadente Baixo Augusta. Daí para frente, vieram mais bares e casas noturnas bem-sucedidas, sempre na região central da capital paulista.
“Sou um ‘pazzo’ na administração financeira, mas prometi para mim mesmo que agora vou ficar rico. Não posso estar com quase 50 anos e não ter construído nenhum patrimônio. Também nunca tive sócio investidor, sempre reinvesti o que ganhei em meus projetos. Tenho um apartamento de 90 metros quadrados na [rua] Bela Cintra, que deve valer uns R$ 800 mil e umas motos velhas. Esse é meu patrimônio. Trabalhei muito para ainda ficar passando perrengue”, diz ele, que tem em seu portfólio o Lions, o Cine Joia, o Riviera, o Bar dos Arcos, no subterrâneo do Theatro Municipal de São Paulo, o Blue Note e o Altar – incursão no universo imobiliário de construções minimalistas.
Prometi para mim mesmo que agora vou ficar rico. Não posso estar com quase 50 anos e não ter construído nenhum patrimônio. Trabalhei muito para ainda ficar passando perrengue
Sua mais recente aposta gira em torno do entretenimento sexual: o Love Cabaret, instalado na antológica boate Love Story, com investimento de R$ 4 milhões e inauguração prevista para janeiro de 2023: “Estamos deslocando esse eixo conceitual do prazer, que era marca registrada da casa, para o eixo do desejo. O desejo mobiliza o mundo. Você deseja e quando articula esse desejo em ações transforma tudo. Desejo, fetiche, diversidade, corpos, sexualidade, gênero… isso é muito do tempo de hoje”.
À revista Poder, o empresário revelou algumas das suas preferências:
PRIMEIRA COISA QUE FAZ AO CHEGAR AO TRABALHO: Não chego ao trabalho, eu trabalho o tempo todo. Começo respondendo as mensagens de WhatsApp que caíram durante a madrugada.
MOMENTO DE INSPIRAÇÃO: Todos. Minha vida me inspira, um ângulo da arquitetura, um pixo, uma pessoa… tudo.
MOMENTO DE MAU-HUMOR: Quase nunca fico mal-humorado. Mas falta de educação, arrogância e covardia me tiram do sério.
UM ÍDOLO: Não tenho.
UMA QUALIDADE E UM DEFEITO: Sou um trabalhador incansável e muitas vezes briguento. Quero ter razão e nem sempre tenho.
NOITADA BOA PRA VOCÊ É… uma noitada gay onde eu possa dançar e não ter que ver homem hetero incomodando as mulheres.
A LOVE STORY ERA… um buraco negro.
E A LOVE CABARET SERÁ… uma supernova.
COM O QUE SE PREOCUPA ATUALMENTE? Com o futuro da minha filha – mudanças climáticas, de ordem social, fascismo…”
SER BEM-SUCEDIDO É… poder falar a verdade e não me preocupar com as consequências.
NO PODCAST SÓ ESCUTA… empreendedoras que são mulheres, negras, periféricas, trans, e mesmo assim subverteram a narrativa cafona do empreendedorismo farialimer.
UM MEDO: Envelhecer pobre porque esse país é inclemente com os idosos, ainda mais com os que são pobres.
DESEJO PARA O FUTURO: Que ele seja menos cruel que o passado.
UMA FRASE: O mais profundo é a pele.
UM CONSELHO QUE RECEBEU E GOSTARIA DE REPASSAR: Perca tudo, mas não perca sua dignidade.
O MELHOR DE SP É… as pessoas, amo as pessoas dessa cidade
MUSEU PREFERIDO: Pinacoteca.
SÉRIE QUE MARATONOU: “House of the Dragon”
UM FILME: O Iluminado
UM DRINQUE: Sem álcool.
VIAGEM DOS SONHOS: Japão
O QUE FAZ PARA DESESTRESSAR? Massagem
ESPORTE: Tô tentando correr de vez em quando. Também ando de bicicleta e de skate.
PROGRAMA FAVORITO EM SP: Andar de moto ou de bicicleta com minha filha pelo centro da cidade.
UMA PISTA DE DANÇA: A da Lions.
UMA MÚSICA: “Bolero”, de Ravel.
SE NÃO FOSSE EMPRESÁRIO O QUE GOSTARIA DE SER? Diretor de cinema.
PECADO GASTRONÔMICO: Sorvete.
UMA PRECIOSIDADE ESCONDIDA DE SP: São duas, espelho d’água do Sesc 24 de Maio e o cine Marabá.