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Reprodução/Unsplash

Por exaustão, por enxergar outras opções, por falta de propósito. Ou, provavelmente, pelos três motivos juntos. A verdade é que o fenômeno da “grande renúncia” chegou ao Brasil de um jeito surpreendente. Criado pelo psicólogo americano Anthony Klotz para descrever a onda de demissões voluntárias nos Estados Unidos desde o começo da pandemia, o termo “great resignation” até então parecia uma opção factível apenas para pessoas em cargos privilegiados ou com boa retaguarda financeira. Não é o que mostram os dados.

Apesar de estarmos vivendo a maior inflação dos últimos 25 anos, com mais de 12 milhões de pessoas desempregadas no país, em março de 2022 mais de 600 mil brasileiros pediram demissão. Dados levantados pelo estúdio de inteligência Lagom Data, a pedido da revista Você S/A, apontam que os cargos mais renunciados foram, nesta ordem, os de operadores de telemarketing, auxiliares de logística e atendentes de restaurantes fast food. Três áreas que, pelos indicadores, estão em alta — visto o crescimento dos canais de comunicação, do e-commerce e dos pedidos de alimentação delivery na pandemia. O perfil desses profissionais é majoritariamente do sexo masculino e até 30 anos. Em meio a uma crise econômica e sanitária, parece não fazer sentido.

Flexibilidade é o nome do jogo

Dizer que nada será como antes no mundo pós-pandemia já significa pouca coisa. Mas se há um universo em que as mudanças são de fato consideráveis, esse assunto é o trabalho. No começo de maio a revista Fortune publicou uma reportagem sobre a insatisfação dos funcionários da Apple em relação às políticas de retorno ao trabalho presencial. Realizada de forma anônima pela rede social Blind, a pesquisa aponta que 76% dos colaboradores desaprovam a obrigatoriedade de estarem presencialmente uma vez por semana. E mais: 56% afirmaram que pretendem deixar a empresa caso a política permaneça inflexível.

Ao mesmo tempo, em uma empresa não muito distante, assistimos ao movimento oposto. Há pouco menos de um mês o Airbnb anunciou que funcionários podem trabalhar 100% remotamente para sempre, o que causou enorme repercussão na imprensa e nas redes sociais. Em uma carta, o CEO e cofundador Brian Cheskyaproveitou para dizer que a companhia quer “contratar e reter as melhores pessoas do mundo” — e que essas pessoas não estão necessariamente no raio de deslocamento dos escritórios da empresa. Corajosa, a postura está alinhada também ao fenômeno da descentralização, macro trend amplamente debatida no South By Southwest e que tem tido expressão em diversos setores da sociedade (assunto de um próximo artigo).

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Em vez de “quando”, a pergunta é “por que” ir ao escritório?

Publicada em 25 de março deste ano, uma Medida Provisória com força de lei passou a prever o trabalho híbrido – parte remoto, parte presencial. No mesmo documento foi criado o contrato de trabalho por produção ou tarefa, sem controle de jornada. As regras têm validade de 60 dias a partir da data da publicação, sendo prorrogáveis por mais 60. Se não forem aprovadas pelo Congresso nesse período, perdem a validade. Até julho saberemos.

Fato é que após dois anos trabalhando de casa, sob profundo estresse e privados de atividades como vida social, viagens, e lazer, estamos com uma referência distorcida tanto do que é home office quanto do trabalho híbrido. No contexto do anúncio do trabalho totalmente remoto, Cheskyfez uma excelente provocação: “O escritório é um formato da era pré-digital. Na melhor das hipóteses, é uma espécie de BlackBerry, que serve pra muita coisa, mas não é muito bom para nada”, diz.

Conectando os pontos entre a opinião do executivo e outros movimentos que temos acompanhado no mundo do trabalho, podemos afirmar que dificilmente farão sentido os escritórios em prédios comerciais tal qual conhecemos, com estações de trabalho, salas de reunião e aglomeração de pessoas. Na transformação para o modelo híbrido, a pergunta não é “quando” ir ao escritório, e sim “por qual motivo”.

Nesse raciocínio, fará muito mais sentido a criação de espaços específicos para a realização de todo tipo de atividade: auditório para eventos, salas amplas e iluminadas para trabalhos em time, espaços reservados para a execução de tarefas que pedem silêncio. Não necessariamente no mesmo endereço. Sem a presença de todo mundo o tempo todo. Olha aí a descentralização de novo. Quebrar paradigmas é um caminho sem volta. Uma vez que enxergamos algo, é impossível “desver”. Nunca mais trabalharemos da mesma forma, e sou otimista: só temos a aprender com isso.

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