Giovanna Ewbank e Bruno Gagliasso dominaram os noticiários neste final de semana por um caso de racismo envolvendo os filhos. Em um restaurante em Portugal, os dois viram seus filhos Titi, de 9 anos, e Bless, de 7, serem vítimas junto a uma família de angolanos que estava no local. O vídeo da apresentadora gritando com a mulher que os xingou logo entrou para os assuntos mais comentados das redes e levantou algumas questões.
Em papo com o GLMRM, o antropólogo Rodney William, doutor em ciências sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), comentou algumas destas questões, como, por exemplo, a falta de privilégios que impede muitas mães pretas reagirem em casos similares e terem a mesma atenção da atriz.
“É sempre muito complicado as mães negras tomarem uma atitude em situações de violência porque elas também podem se tornar vítimas dessa violência. Ou elas podem ter que assumir a culpa pela sua reação”, afirma William, que também é babalorixá.
Essa condenação de pessoas negras acontece porque já carregam muitos estigmas de agressividade, perigo e descontrole, afirma ele. “Nunca se olha a violência do opressor, mas sempre se condena a reação do oprimido, como se a violência fosse algo inerente à nossa condição”.
Ele garante que, como o racismo pauta tudo, seja como andam ou se portam, os negros não reagem da mesma maneira que brancos.
“É incômodo falar de racismo, a gente sabe, mas não tem jeito. Se a gente não botar o dedo nessa ferida, ela nunca vai cicatrizar”
Importância da reação
O antropólogo também comentou sobre a importância de reagir a esse tipo de situação, que em geral é abafada ou minimizada.
“Quando uma pessoa testemunha uma cena como essas e fica indiferente, ela está sendo conivente, cúmplice. O silêncio é cúmplice”.
Testemunhas têm a responsabilidade de denunciar esses episódios. “Quem assiste uma situação assim está presenciando um crime. É fundamental que ela reaja e denuncie”, afirma ele.
Como brancos podem ajudar na luta antirracista?
Como disseram Ewbank e Gagliasso em entrevista ao Fantástico, pessoas brancas têm muitos privilégios que pessoas negras não têm, como a forma que se comportam diante da polícia. Por isso, assumir a responsabilização e o papel na não perpetuação ao racismo é fundamental para combatê-lo.
O episódio envolvendo a família dos atores chama as pessoas brancas para a necessidade dessa aliança. “É uma luta de toda a sociedade contra uma estrutura que nos coloca num lugar de desumanização”, diz William.
Como o episódio afeta Titi e Bless?
O racismo, afirma o antropólogo, afeta diretamente a autoestima de pessoas negras. “Nós precisamos ter um referencial de construção, de orgulho, de negritude, [que significa] o orgulho de ser, para olharmos para o passado com luzes intensas, fortes, brilhantes, que nos façam ter orgulho dos nossos ancestrais que resistiram e não sentirmos vergonha”, ressalta.
Além da filósofa e escritora Djamila Ribeiro, ele relembra um ensinamento da atriz Léa Garcia: “Não somos nós que temos que nos envergonhar da escravidão. Nós somos escravizados e o colonizador é quem precisa se envergonhar e tomar atitude para mudar tudo isso que foi construído”.
O segredo para os brancos se aliarem à luta antirracista, então, é entenderem que o racismo é um problema social causado por eles. Por isso, atitudes como a de Ewbank e Gagliasso são “legítimas e fundamentais”. Para William, é a única forma de caminharmos para uma igualdade social.