O autor John W. Reid fala sobre o livro “Megaflorestas”

John Reid com seu livro durante o lançamento do Mega Florestas na Livraria da Vila, no Iguatemi, em Brasília. Foto: Andressa Anholete/Divulgação

O futuro do planeta depende de cinco megaflorestas. E a Amazônia é uma delas. Esse alerta está em “Megaflorestas – Preservar o que temos para salvar o planeta”, do economista John W. Reid e do biólogo Thomas E Lovejoy. A obra traz prefácio da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e a quarta capa assinada pela jornalista Sônia Bridi.

Neste livro, os autores destacam a série de políticas públicas que foram implementadas no Brasil desde os anos 2000. No texto, eles, em forma de diário de campo, tornam a narrativa leve e conduzem o leitor para dentro das florestas que são um verdadeiro “alvoroço de vida”.

O autor John Reid concedeu uma entrevista exclusiva para o Glamurama. Confira!!

Por que você escolheu essas florestas?

Porque são as cinco maiores florestas intactas do nosso planeta. Devido ao seu tamanho, elas conseguem abrigar espécies de animais, como onças e ursos, que precisam de muito espaço, além de animais que migram longas distâncias, como é o caso dos caribus. Além disso, produzem chuva para continentes inteiros e estabilizam o nosso clima ao absorverem mais carbono do que florestas fragmentadas ou qualquer outro ecossistema terrestre. Outro ponto que destacamos no livro é que essas florestas são os lugares com mais diversidade de culturas humanas, inclusive povos indígenas em isolamento voluntário. Esses povos precisam de áreas enormes de floresta para viverem felizes e seguros diante do avanço de atividades industriais.

No passado, cientistas alertavam sobre as questões do clima; agora vivemos em uma emergência climática. Por que os governos e as empresas têm tanta dificuldade de aplicar regras mais rígidas para proteção das florestas?

Para mim, isso se deve a uma aliança desastrosa entre avareza e desespero. Pessoas com influência querem ganhar dinheiro rapidamente explorando recursos como madeira, petróleo, ouro e peixe, a partir de lugares com os quais elas não têm nenhuma conexão pessoal. Esses agentes oferecem oportunidades para trabalhadores sem outras opções econômicas. O lucro é usado para assegurar o apoio de políticos ou mesmo para os próprios destruidores de floresta se elegerem. Essa dinâmica é evidente em várias florestas do mundo. O cenário muda quando os povos originários controlam suas terras ancestrais. Nesses casos, eles protegem porque dependem da floresta intacta e porque ela faz parte da identidade desses povos. Não são perfeitos, mas os dados mostram claramente que o perigo de desmatamento em terras indígenas é dramaticamente menor do que em outras terras.

Poderia citar dois pontos que mais impactaram em cada uma das florestas que você visitou?

Na Amazônia, sem dúvida, um ponto impactante é a existência de dezenas de comunidades humanas sem contato com a sociedade nacional, vivendo 100% do seu entorno, até o ponto de ser inseparável desse entorno. Um segundo ponto impactante é a dedicação dos indigenistas que arriscam a vida – ou que chegam a dar a própria vida, como nos casos do Bruno Pereira e do Rieli Franciscato – para proteger direitos de pessoas que nunca conheceram ou conhecerão.

No Congo, os elefantes da floresta chamam muita atenção. No livro, descrevemos um encontro perigoso com um desses bichos, que são especialmente adaptados à floresta, com presas mais retas para não ficarem emaranhadas na vegetação. Os elefantes fazem trilhas maravilhosas que vários outros animais – nós, inclusive – usam para se deslocar. Outro ponto que me impactou no Congo foi que há muito pouco desmatamento até o momento. Há problemas com extração de madeira e caça predatória, sim, mas você não vê imensidões de floresta derrubada e queimada. Isso ainda não existe lá.

Na Nova Guiné, sem dúvida, um fator que impressiona é a diversidade de idiomas. São mais de mil na ilha toda, e dentro de pequenos espaços você pode encontrar meia dúzia de idiomas completamente diferentes. Também são incríveis as aves-do-paraíso. A ilha tem quase todas as 42 espécies que existem dessa ave. Nós conseguimos observar os rituais de namoro, que são lindos e bizarros, ao mesmo tempo.

Na Rússia, visitei a Taiga na primavera e me impactou a quantidade de flores da floresta. A mata está cheia de arbustos chamados rododendro de Dauria que ficam cobertos de florezinhas na cor magenta. Fiquei impressionado também com tudo que os russos usam das florestas: ervas, cogumelos, castanhas e outros produtos. Nas farmácias das cidades, você encontra remédios industrializados ao lado de plantas medicinais da floresta.

Bom, finalmente, na megafloresta que se estende pelo norte do Canadá e o estado do Alaska, me chamaram a atenção as enormes áreas protegidas que povos indígenas estão criando. São muitos milhões de hectares onde eles conseguem conciliar as leis tradicionais com as ocidentais para proteger áreas críticas para a saúde da Terra. Lá, eu fiquei impactado também com a aurora boreal – um show maravilhoso que presenciei quando estava num lugar remoto no Território do Yukon. Só tive que aguentar o frio para assistir!

Você já havia visitado a floresta brasileira quantas vezes?

Já perdi a conta! Mas foram dezenas de vezes. Conheço quase todas as bacias principais da Amazônia e tenho um carinho especial pela Mata Atlântica do sul da Bahia.

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