A primeira vez que conheci este termo, “Masculinidade Iluminada”, foi num report da Stylus e ele se tornou um dos meus paradigmas favoritos. Talvez por ser mãe de dois meninos e vivenciar em casa uma transformação que vem acontecendo em todo o mundo: os homens estão reformulando suas identidades e desafiando preconceitos de masculinidade. Eles estão adotando um conceito mais empoderador e iluminado.
Os estereótipos ultrapassados de masculinidade criaram uma camisa de força para muitos homens, da mesma forma que os ideais femininos limitaram as mulheres – mas eles estão sendo cada vez mais desafiados.
Os homens estão percebendo que as limitações da masculinidade tradicional não se encaixam mais na maneira como querem viver. Eles estão questionando os valores tradicionais e regressivos e abraçando a inclusão, com pesquisas do Facebook mostrando que 75% dos homens preferem marcas que promovem a positividade de gênero.
Na contramão da masculinidade iluminada, temos o conceito mais familiarizado da masculinidade tóxica. Ele está entrando na cultura popular, e, com isso, os homens estão explorando um menu mais amplo de identidades pessoais, redefinindo a força masculina e repensando seu papel na sociedade. Há uma crescente conscientização de que a masculinidade tóxica pode prejudicar a saúde e as oportunidades dos homens, além de afetar negativamente as mulheres e a diversidade em geral.
Quando retomamos a ideia do “homem de verdade” nas lentes de uma coletividade mais antiga, seus atributos girariam em torno de valores heteronormativos masculinos, como agressividade, força física, status financeiro ou apetite sexual. Entretanto, o quanto de fato eles representam os homens da atualidade? Uma pesquisa realizada pela organização brasileira de igualdade de gênero Promundo (patrocinada pelo spray corporal Axe, da Unilever) descobriu que a maioria dos homens jovens que vivem no Reino Unido, EUA e México se sentem pressionados a viver no que chamaram de ‘Man Box’ – tentando ser autossuficiente, durão, heterossexual, tradicionalmente atraente, agressivo ou experiente sexualmente (Promundo, 2017). A pesquisa descobriu que tentar atingir ideais masculinos estereotipados pode afetar sua satisfação com a vida, bem como a saúde mental e física dos homens – e dar origem a comportamentos de risco ou violentos.
Há a necessidade de flexibilizar e ampliar a definição enrijecida sobre masculinidade. O homem deveria poder não gostar de futebol, vestir rosa, usar o cabelo em qualquer formato e se sentir vulnerável, ter medo, se sentir nervoso, fazer yoga, cuidar da pele.
Em nosso mundo envolvo de ideias surgindo a todo instante, empresas como a Hims (dele em inglês) já trabalham com uma comunicação voltada para eles. Na pesquisa por produtos para queda de cabelo ou disfunção erétil, a marca foi criada para atender problemas reais e cotidianos. Cuidados masculinos e bem-estar são englobados, mas de forma objetiva e por categoria: cabelo, sexo, pele; sem tempo para tabus.
Ou a Tiffany, onde os homens também têm vez, após o lançamento de uma coleção especialmente dedica a esse universo e depois de 184 anos, agora também foi desenhado o primeiro anel de noivado solitário masculino da marca, batizado a partir de Charles Lewis Tiffany, fundador da empresa.
Agora, falando de grandes quebras de paradigmas, está o modo como nos comunicamos, mas não com qualquer um, mas com a geração Z. Em uma pesquisa da JWT, 81% dos adolescentes globais afirmam que “gênero já não define uma pessoa tanto quanto costumava” e apenas 48% da geração Z se identificam como exclusivamente heterossexuais, e apenas 44% dizem que sempre compram roupas desenhadas para seu próprio gênero.
Muito provavelmente o cantor Harry Styles é um nome conhecido, não apenas por singles como “Watermelon Sugar”, mas por personificar essa abordagem nova e mais fluida no modo de se vestir, inspirando toda uma geração e sendo recorrentemente destaque no mundo da moda. Ou o ator Thimotee Chalamet, sempre referência em tapetes vermelhos, cujo reconhecimento se elevou após o filme “Call me by your name,” produzido pelo brasileiro Rodrigo Teixeira e o novo queridinho de diretores como Wes Anderson.
Mais do que apenas ícones robustos como James Bond ou o Marlboro Man, os homens buscam inspiração em uma ampla gama de contrapartes, com novos modelos surgindo nos mundos do entretenimento e da arte. Marcas como Harry’s e Bonobos estão respondendo muito bem com representações mais diversas de masculinidade.
Acredito que as organizações devam explorar esse espaço emergente, oferecendo aos homens e meninos autoconfiança, permissão e uma plataforma segura para deixar em aberto o papel social que eles precisam cumprir.